por René Ruschel — publicado 30/04/2015 10h06, última modificação 30/04/2015 10h41
É cedo para prever o futuro político daquele que já foi uma promessa tucana, mas o governador pode ter selado sua sorte entre balas de borracha e bombas de gás
Assembleia Legislativa - PR
O governador do Paraná culpou os manifestantes pelo ocorrido
De Curitiba
O governo Beto Richa (PSDB) aos poucos se esfacela. Na história política do Paraná, só o ex-governador Haroldo Leon Perez teve uma queda tão vertiginosa. Indicado pelo general Emilio Garrastazu Médici, sobreviveu por apenas sete meses no cargo. Acusado de corrupção, foi exonerado pelo mesmo ditador de plantão. Como vivemos numa democracia é preciso respeitar o resultado das urnas. Enquanto isso, o tucano começa a soçobrar.
Em dezembro, dois meses após sua reeleição, Richa tinha o apoio de 64% dos eleitores. Em fevereiro, menos de sessenta dias depois, a rejeição atingiu 76%. Do céu ao inferno. Ao tentar impor um pacote de medidas econômicas goela abaixo, enfrentou mais de 50 mil servidores nas ruas de Curitiba. Foi obrigado a recuar. A seguir, seu governo foi acusado de cumplicidade com um esquema de extorsão e corrupção comandado por um “primo distante”. Entre os envolvidos está um dirigente da Receita Estadual, ainda foragido da Justiça e seu parceiro de provas automobilísticas no autódromo de Londrina, PR, acusado de ser o mentor operacional de toda operação.
Agora, o Centro Cívico, em Curitiba, onde está localizado o Palácio Iguaçu e Assembleia Legislativa, se transformou numa verdadeira praça de guerra. A pedido do governador, a Justiça determinou que policiais “garantissem a segurança dos prédios públicos” contra uma manifestação dos professores da rede estadual de ensino. As ruas que circundam os edifícios foram cercadas por mais de 2.000 policias fortemente armados. O resultado dessa beligerância foi “um verdadeiro massacre”, como classificou a nota de desagravo da OAB do Paraná.
O protesto, além de pacífico, procedia. Os servidores só queriam defender seus interesses contra os desmandos do governador. Exigiam apenas poder entrar no plenário da Assembleia para assistir os debates e pressionar os deputados a não votar a mensagem do Executivo. Aliás, como acontece em qualquer Parlamento, essa regra faz parte do processo democrático.
No Paraná, em pouco mais de quatro anos, Richa provocou um caos nas finanças públicas. A dívida com fornecedores ultrapassa a R$ 1,6 bilhão. Para tentar recompor esse déficit, um dos projetos enviado e aprovado pela Assembleia prevê que 34,5 mil aposentados com mais de 73 anos passem a receber seus benefícios do Fundo de Previdência e não mais do governo. Essa medida irá sangrar a poupança previdenciária dos servidores em R$ 142,5 milhões mensais e até o final da gestão peessedebista a soma vai atingir a R$ 7,4 bilhões. A partir de agora, o futuro dos funcionários públicos paranaense está seriamente comprometido.
Richa culpou os manifestantes pela batalha. Afirmou que sete pessoas ligadas ao black-bloc estariam envolvidas nos protestos e foram presos. Não fosse trágico, seria cômica sua declaração. Ora, milhares de policiais espalhados pelas ruas, helicópteros voando em rasante sobre a massa e no teto do Palácio Iguaçu agentes com binóculos não foram capazes de prender os baderneiros? Mesmo que a iniciativa de enfrentamento tenha partido dos manifestantes, faltou a PM preparo para agir em situações de risco.
Ao governador faltou bom senso, equilíbrio e responsabilidade. A praça era um barril de pólvora prestes a explodir a qualquer momento. Da mesma forma os parlamentares da base de apoio foram insensíveis às manifestações. Em nenhum momento aceitarem discutir a possibilidade de suspender a sessão a fim de evitar que o tumulto fosse ainda pior.
O episódio da praça Nossa Senhora da Salete ficará na história e o governador Beto Richa marcado como seu algoz. Ainda é muito cedo para prever o futuro político daquele que já foi uma promessa tucana, mas pode ter selado sua sorte entre balas de borracha, bombas de gás lacrimogênio e jatos d’água.
* René Ruschel é jornalista
A Polícia Militar do Paraná utilizou de bombas de gás, cães e cassetetes contra os professores (foto: Orlando Kissner/ Fotos Públicas)
Carta Capital
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