quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Nem num manicômio Eduardo Cunha poderia liderar um movimento contra a corrupção. Por Paulo Nogueira

Postado em 16 set 2015

Chama o ladrão


A completa inversão de valores que varreu o país pode ser demonstrada em duas pessoas: Eduardo Cunha e Dilma.

Não sou dado a maniqueísmos, mas é quase, simbolicamente, o confronto do bem contra o mal.

Depoimentos de delatores retrataram como um achacador sem limites, um homem que inspira medo físico nos que se atravessam seu caminho, como ficou claro nas palavras e no semblante de Júlio Camargo.
Dilma é honrada, ilibada. O oposto de Cunha.

Num país que quisesse verdadeiramente varrer a corrupção, Cunha estaria se defendendo, talvez nas grades, das terríveis evidências contra ele.

Dilma, com sua ficha comprovadamente limpa, estaria no papel de zeladora da ética.

Mas não.

Como se viu ontem na Câmara, quando se iniciaram as discussões sobre um eventual processo de afastamento de Dilma, é ela que está na defesa e Cunha no ataque.

Como diz aquele samba clássico de Chico, “chama o ladrão, chama o ladrão”.

Um país pode dormir, pode hibernar por muito tempo. Mas não para sempre. Uma hora os brasileiros vão acordar para a monstruosidade que está sendo perpetrada.

E então o país se livrará de Cunha e de assemelhados.

O que eles querem é campo livre para fazer o que sempre fizeram. Para isso, precisam que sejam mantidas as condições para que se encharquem de dinheiro. A primeira delas é a manutenção do financiamento privado de campanhas.

Repare.

Todo o esquadrão pró-impeachment vota pelo financiamento privado. É a paixão pelo dinheiro, é a ganância desumana.

Ninguém é tolo.

Você pega 5 milhões de uma empresa, por exemplo, e pode deixar na sua conta pessoal um bom pedaço disso. Depois, para assegurar que nas eleições seguintes a mesma empresa compareça com seu dinheiro, basta defender seus interesses no Congresso.

É isso que os fanfarrões desejam.

Neste sentido, Dilma é uma vítima da hipocrisia.

As tentativas de arrastá-la para a lama têm sido frequentes — e baldadas.

Nos debates, Aécio quis usar o irmão de Dilma para tirar o foco do imenso poder que ele deu à sua irmã quando governador de Minas.

Era ela que administrava a distribuição de verbas publicitárias para a mídia, e nunca faltou dinheiro público para as rádios da família Neves.

O irmão de Dilma, em compensação, como se viu depois das acusações cínicas de Aécio, leva uma vida franciscana, longe das vantagens que o poder traz aos ambiciosos.

É este o cenário em que o impeachment é discutido na Câmara de Eduardo Cunha.

Disse mais de uma vez: não passará. É mais fácil o Vasco ser campeão do Brasileirão do que o afastamento de Dilma sob alegações tão miseráveis, tão criminosas.

O que dá mesmo é vontade, repito, de cantar como Chico: “Chama o ladrão, chama o ladrão”.

Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.


Diário do Centro do Mundo

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