POR FERNANDO BRITO · 15/09/2015
Deram-se os primeiros passes, obvios, para a aprovação da nova CPMF no Congresso, ao preço, também obvio, de fazer a alíquota voltar aos 0,38% instituídos por Fernando Henrique na sua criação, em 1996, para viger em 1997.
É esta a divisão com os governadores – todos eles às voltas com deficits, como o governo federal (uma boa prova de que o deficit não vem de qualquer delirante gastança do governo petista, mas da queda das receitas) – que estava “telegrafada” quando Levy falou no “apenas dois milésimos”.
Todos os governadores – tucanos e peemedebistas à frente – precisam de receita extra, mais ainda porque, sem escândalo na mídia, seus orçamentos, ao contrário do federal, não “esperaram” 2015 para tornarem-se negativos. O “competentíssimo” Geraldo Alckmin, por exemplo, entra no seu quinto ano de déficit orçamentário, sem que qualquer jornal tenha feito alarde sobre isso.
O Orçamento paulista só “fecha” graças a operações de crédito, internas e externas, que passaram de R$ 1,2 bilhão em 2011 para R$ 10,5 bilhões em 2015.
O passo seguinte, como se disse ontem, será o de criar um piso, abaixo do qual não incidirá a CPMF, uma providência obvia que tem pouca repercussão prática sobre a arrecadação e deveria ter sido anunciada já na primeira hora, negociando-se, a seguir, seu valor. Como no fator previdenciário, porém, a vocação despolitizadora do Governo Federal deixará a outros fazê-lo, porque sua obsessão de se provar capaz de arrocho aos olhos do “mercado” o faz esquecer de que mortal para ele é deixar que acabe de se esvair sua ligação com o povão.
Se as bancadas estaduais seguirão o desejo dos governadores e aprovarão a nova CPMF é algo ainda a ver. Os alinhados a Aécio Neves e o DEM certamente que não. E haverá, tão certo quanto, o preço a pagar a Eduardo Cunha e Renan Calheiros.
Ontem, ao escutar no rádio a transmissão do anúncio das medidas e a entrevista que se seguiu, não me surpreendi com a mal contida raiva dos repórteres com seus corações e mentes dominados pelo sentimento conservador de que imposto é ruim e é roubo, mas estranhei os argumentos tolos sobre “ficar tudo para a União” e, sobretudo, sobre a perplexidade com que perguntavam porque não antes do rebaixamento da nota de risco do Brasil pela Standard& Poor’s.
É primário compreender que isso mexeu em algo muito importante para o “mercado”, mais importante do que comida, estradas, usinas, ferrovias, portos, progresso.
Mexeu no rentismo, na imensa capacidade que tem o setor financeiro de pensar a economia brasileira como um mercado de varejo.
Boa parte da “batalha do impeachment” será travada na votação das medidas econômicas. Perder é caminho aberto para, em seguida e com ou sem motivo fático, destituir-se a Presidenta. É bom que a esquerda tenha isso bem claro.
Como tenha claro que preço da vitória, afinal, será o de vencer para não mudar.
E o de perder, o da ruptura institucional e o imponderável que se seguirá, com mais, muito mais arrocho do que este que o pacote propõe.
Tivemos, de outubro para cá, a nossa Grécia tupiniquim.
Tijolaço
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