POR FERNANDO BRITO · 18/09/2015
É preciso muito critério e, certamente, uma boa dose de ceticismo para tentar acompanhar, no jornais, o que seria a movimentação política do ex-presidente Lula diante da crise política e, mais recentemente, do “pacote fiscal” anunciado pelo Governo Dilma.
Ontem mesmo, aqui, analisou-se a matéria publicada no Valor, sobre um impossível “plano Lula” que seria apresentado a ela. Obvio que partiu, como autoproteção, dos integrantes da atual equipe econômica, como forma de “chorar suas pitangas” por não ter produzido senão mais paralisia e recessão.
Hoje, também, há versões para todos os gostos do encontro entre o ex-presidente e Dilma, a noite passada, em Brasília.
De todas elas, a narrativa que parece mais bem apurada e equilibrada é a feita por Vera Rosa, no Estadão, onde Lula parece disposto a contribuir, tanto quanto o deixarem, na articulação da base de apoio parlamentar do Governo, pé do qual capenga mais seriamente esta gestão, pois nem se pode, a rigor, falar de sucesso ou insucesso de medidas que não se tem viabilidade política para implementar.
De mais concreto, até agora, tudo o que se tem são as porções diárias de insegurança que se despeja no caldeirão já frio da economia, por obra conjunta de fatores externos objetivos – os níveis de dificuldades da economia do mundo, que travaram ontem mesmo a elevação dos juros nos EUA – e internos de toda a natureza: desde a paralisia dos investimentos públicos, o discurso recessivo das autoridades e agentes econômicos até a perda de referência cambial.
Lula sabe que é preciso recuperar a credibilidade pública nas medidas econômicas e que isso se dá com a rápida obtenção de sustentação política para o que, com erros e acertos, se pretende fazer. Por isso, parece verossímil a narrativa que Rosa recolheu de um de seus interlocutores:
“Nós precisamos nos unir. Mesmo quem não concorda com um ponto aqui, outro acolá, tem de apoiar nossa companheira”, disse Lula, segundo relato de um dos participantes do encontro. “Mas nós também precisamos dar uma notícia boa para a população. Não dá para só falar em desemprego, recessão, imposto e corte.”
“O” problema são, porém, dois.
Um, o de que o ministro Levy, por suas próprias ações e os resultados que (não) obteve perdeu grande parte da aura de confiabilidade que tinha diante dos agentes econômicos e para própria imprensa. E um dos fatores que levou a isso foi ter permitido que se formasse – mesmo com desmentidos aqui e ali – a ideia de que vive um clima de desconforto interno no Governo, muito distante dos poderes praticamente ilimitados que imaginou-se ter meses atrás.
Outro, o de que a articulação política do Governo é desastrosa. antes por amadorismo de seus condutores e, agora, pelo aferramento de alguns de seus integrantes (a começar por Mercadante) à sua posição de lordes palacianos, a quem faltam traquejo e natureza para mergulhar no ambiente sombrio do parlamento e trazer de lá acordos que sejam honrados.
Não é outra a razão do que se noticiou ontem, de que Dilma chamou a si a articulação política com o Senado – por tudo mais prática. Isso é bom – porque restaura a credibilidade em que o acordado será cumprido – mas tem um aspecto perigoso: a interlocução direta elimina instâncias de “correção de erros” e retira da Presidenta as camadas de proteção que, aliás, há muito lhe faltam.
Que Dilma abra espaços para Lula atuar na reforma ministerial. É que ele não apenas conhece da articulação política, do jogo de traições e lealdades como tem um diferencial importantíssimo para fazê-lo.
Por mais que a oposição se anime e se sinta já sentada no Planalto em 2018, há uma percepção política de que é ele, Lula, quem tem maiores chances de estar lá.
Lula tem futuro e futuro vale ouro na política.
Tijolaço
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