POR FERNANDO BRITO · 30/10/2015
Arriscada, provou-se eficiente a estratégia de Marcelo Odebrecht hoje ao, finalmente, ser interrogado pelo Juiz Sérgio Moro, depois de 133 dias mofando na carceragem da Polícia Federal em Curitiba.
Quem esperava um depoente raivoso ou, ao contrário, amedrontado, não viu uma coisa ou outra.
A quem assistiu, ficou a impressão de alguém muito disciplinado e focado no que pretende, juridicamente.
E o que pretende a defesa de Odebrecht é recolocar o processo no rito convencional: a Polícia e o Ministério Público produzem provas e o acusado as contesta.
Ninguém tem a obrigação de responder a perguntas genéricas do tipo: “como eram seus negócios com a Petrobras?”, “o senhor conhece Fulano de tal?”, “senhor já ouviu falar de tal coisa?”.
É à PF e ao MP que competem mostrar que tal ou qual negócio era irregular, que havia uma relação criminosa com aquele Fulano e que o acusado participava da “tal coisa” ilegal.
Óbvio que ao longo de 70 anos de história de uma empreiteira, mãos foram molhadas em n+1 ocasiões e nem se quer aqui santificar empreiteiro que, como se sabe, não vai para o Céu no juízo final. Mas não é disso que se tratava em qualquer tribunal que não seja aquele do Dr. Moro: é de um caso específico, com negócios específicos, com pessoas e pagamentos específicos.
Achar que uma potência empresarial do tamanho da Odebrecht, com mais de 150 mil empregados e estabelecida nos Estados Unidos, África, Oriente Médio e Europa funcione como um botequim, onde o filho do português controla o caixa com um lápis detrás da orelha, é algo que não pode passar pela cabeça de qualquer um de bom senso.
E seu executivo sabia que seria isso o que se preparou para seu interrogatório.
Espertamente, escapou disso e ateve-se aos pontos que o Ministério Público apontou em sua denúncia.
Até porque, claro, sabe que apresentar defesa a Sérgio Moro é o mesmo que cumprir tabela em campeonato decidido: nada do que disser ou provar servirá para inocentá-lo ou mitigar sua condenação.
Ele já está condenado e sabe disso.
Como todos estão na vara do Dr. Sérgio Moro e já estavam há meses, desde que as investigações se iniciaram com um projeto de “culpas” muito bem definido.
Marcelo Odebrecht fez o que desejava no interrogatório de hoje: demonstrar que não aceita o jogo de cartas marcadas de um julgamento que já tem sentença pronta antes mesmo de ser oferecida a denúncia.
A sua batalha não será em Curitiba e hoje ele mostrou que é para ela que se guardou, evitando qualquer novo dano.
Tijolaço
Nenhum comentário:
Postar um comentário