domingo, 17 de abril de 2016

Em defesa de Dilma. Por Paulo Nogueira

Postado em 16 Apr 2016


Como governar com boicote incessante?

Há um clichê sobre Dilma que deve ser rebatido.

Muita gente diz ser contra o impeachment, embora Dilma seja ruim, péssima, incompetente etc.

Falta reflexão a este tipo de consideração.

Dilma sequer teve a chance de ser uma má governanta. Nem saíra o resultado da eleição e ela começou a ser sabotada brutalmente.

Uma aliança imediata entre Aécio e Cunha no Congresso inviabilizou qualquer iniciativa de Dilma.

A mídia se dedicou a desestabilizá-la desde antes da vitória nas urnas. Na véspera da eleição, a Veja deu uma capa que afirmava que um delator dissera Dilma e Lula sabiam de tudo no escândalo da Petrobras.

Era mentira, era crime jornalístico, ficaria demonstrado quando se soube do teor da delação invocada pela Veja.

Mas a revista saiu impune deste que pode ser classificado como o marco zero no processo de desestabilização do governo pela imprensa.

A Globo com suas múltiplas mídias logo passou também a fazer uma guerra aberta contra Dilma.

O Jornal Nacional se transformou numa Veja eletrônica. Protestos contra o governo e pelo impeachment começaram a ser promovidos descaradamente pela Globo. O objetivo era dar a impressão – falsa, como se vê hoje – de que o país estava unido contra o governo.

A cobertura das operações da Lava Jato foi um capítulo à parte na tentativa da Globo e o restante da mídia em derrubar Dilma.

A crise econômica mundial foi ignorada. Os problemas nacionais foram tratados como se fossem uma coisa apenas do Brasil. Éramos, segundo a imprensa, patinhos feios em meio a cisnes maravilhosos em todo o mundo.

A pergunta que faço, diante de tudo isso, é: como governar?

Não dá. Simplesmente não dá. Já é difícil administrar um país quando você não é boicotado todos os dias e todas as horas. Quando é, fica impossível.

Qualquer pessoa que tenha ocupado uma posição executiva numa empresa sabe do que estou falando. Você não consegue fazer nada, numa companhia, se a seu redor conspiram incessantemente contra você.

Acabou acontecendo uma coisa patética. Os golpistas paralisaram o país, e não se pejaram em colocar a culpa da paralisação em Dilma. Foi o triunfo do cinismo. Eu imobilizo você. E depois o acuso de não se mexer.

Steve Jobs não conseguiria administrar o Brasil nas circunstâncias enfrentadas por Dilma no segundo mandato.

Se fôssemos um time de futebol, Guardiola fracassaria se submetido a uma situação como a de Dilma.

Repito: ela sequer teve a chance de ser ruim no segundo mandato.

Isso tudo quer dizer o seguinte.

Não é apenas injustiça acusar Dilma de inépcia. É ignorância.

Sobre o AutorO jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.


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