Partido dos Trabalhadores, presidido pela senadora Gleisi Hoffmann (PR), divulgou uma nota condenando a "série de ataques" contra a legenda pelo procurador Carlos Fernando dos Santos Lima em postagens em sua página no Facebook; "O direito à manifestação é livre, mas causa estranheza que um funcionário público de alto escalão exprima suas opiniões reiteradamente fora dos autos, numa clara tentativa de pressionar a Justiça e a opinião pública, e fazer valer seus desejos em meio aos trâmites processuais da Operação Lava Jato", diz trecho da nota; nas postagens, o procurador cita diversas vezes o termo "organização criminosa" para se referir ao PT e ao PMDB, mas não cita uma vez sequer o PSDB, partido que está agora no governo e cujo presidente até pouco dias, senador Aécio Neves, foi flagrado pedindo R$ 2 milhões em propina à JBS
30 DE JUNHO DE 2017
247 - O PT divulgou uma nota condenando a "série de ataques" contra a legenda feita pelo procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, integrante da força-tarefa da Operação Lava Jato, em postagens em sua página no Facebook nesta sexta-feira 30.
"O direito à manifestação é livre, mas causa estranheza que um funcionário público de alto escalão exprima suas opiniões reiteradamente fora dos autos, numa clara tentativa de pressionar a Justiça e a opinião pública, e fazer valer seus desejos em meio aos trâmites processuais da Operação Lava Jato", diz trecho da nota.
Nas postagens, o procurador cita diversas vezes o termo "organização criminosa" para se referir ao PT e ao PMDB, mas não cita uma vez sequer o PSDB, partido que está agora no governo e cujo presidente até pouco dias atrás, senador Aécio Neves, foi flagrado pedindo R$ 2 milhões em propina à JBS. O primo de Aécio também foi flagrado recebendo uma mala com R$ 500 mil da empresa.
Leia abaixo a nota do PT e a seguir as postagens do procurador:
Nota oficial: Força tarefa mantém sua perseguição contra o PT – dentro e fora dos autos
A perseguição ao PT, notadamente, não se compara à benevolência com que procuradores tratam outras agremiações partidárias
30/06/2017 18h46
O procurador Carlos Fernando dos Santos Lima usou sua página na rede social Facebook nesta sexta-feira (30) para promover uma série de ataques contra o Partido dos Trabalhadores. O direito à manifestação é livre, mas causa estranheza que um funcionário público de alto escalão exprima suas opiniões reiteradamente fora dos autos, numa clara tentativa de pressionar a Justiça e a opinião pública, e fazer valer seus desejos em meio aos trâmites processuais da Operação Lava Jato.
Coincidentemente, o desequilíbrio verbal e o descontentamento do procurador Carlos Fernando se dão no exato momento em que João Vaccari Neto foi absolvido pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4). Os juízes foram claros ao sentenciar que, segundo a lei, delações sem provas não bastam para condenar uma pessoa. Vamos repetir: segundo a legislação brasileira, delações sem provas não são suficientes para incriminar e, menos ainda, manchar a honra de quem quer que seja. Se é fato que ninguém está acima da lei, também não podemos admitir que esteja abaixo dela.
Infelizmente, essa não é a primeira demonstração do ódio dos procuradores contra o Partido dos Trabalhadores. O caso mais célebre dessa caçada judicial foi o infame power point contra o ex-presidente Lula, que virou motivo de piada nas redes sociais devido ao amadorismo e à fragilidade da denúncia. Pelo jeito, a Força Tarefa não aprendeu a lição e continua a agir de maneira que não condiz com a história do Ministério Público brasileiro e de seus representantes.
A perseguição ao PT, notadamente, não se compara à benevolência com que esses procuradores tratam outras agremiações partidárias. O PT e seus dirigentes estão e sempre estiveram à disposição da Justiça para prestar todos os esclarecimentos necessários dentro do processo legal, que é o espaço para que dúvidas sejam dirimidas e a justiça seja feita.
Assessoria de Imprensa do Partido dos Trabalhadores
Como as organizações criminosas funcionam? Novamente é preciso colocar um pouco de técnica em uma discussão banalizada por interesses políticos.
Primeiro, uma organização criminosa pode ser imaginada como um triângulo em que no vértice superior encontra-se o líder e na medida que a estrutura desloca-se para a base, maior é a quantidade de subordinados e menor o poder dentro da organização.
Entretanto, no mundo real, como na operação Lava Jato, há um conjunto enorme de organizações criminosas, parcialmente autônomas entre si. Podemos imaginar isso também em relação à máfia italiana, com a máfia calabresa, a Ndrangheta, a napolitana Camorra, ou a Cosa Nostra siciliana.
Essas organizações não são as únicas, pois coexistem com elas diversas outras organizações criminosas menores, normalmente prestadoras de serviço, tercerizadas, por assim dizer. Também há organizações criminosas tributárias, que pagam as organizações maiores em busca de apoio ou proteção.
A realidade, portanto, é muito mais complexa que o pensamento simplista da lei. Somente no âmbito da corrupção atual, conforme a própria distribuição dos inquéritos no STF revela, há diversas organizações criminosas em convivência no Brasil. Podemos identificar a organização criminosa que tem como base o PT, assim como as organizações criminosas com suporte no PMDB da Câmara dos Deputados, no PMDB do Senado Federal, e assim por diante.
Essas organizações funcionam autonomamente, buscando os seus próprios interesses. Mas aglutinam-se em torno de um interesse comum, formando uma confederação de organizações criminosas, coordenadas entre si. Assim, dividem territórios, como na máfia italiana, ou dividem órgãos públicos, como no caso brasileiro.
Há diversos líderes, portanto, de organizações criminosas, podendo encontrar-se subordinação entre um líder de uma organização à outra maior. Assim, por exemplo, Alberto Youssef tinha sua própria organização criminosa, com objetivos, permanência e pessoal. Entretanto, essa organização prestava serviço de lavagem de dinheiro àquela do Partido Progressista essencialmente, mas também eventual serviço para as organizações criminosas das empreiteiras.
Assim, Alberto Youssef era sob um aspecto líder, mas sob outro, subordinado. Mas a própria organização criminosa dentro do Partido Progressista era subordinada a outra maior, dentro do governo do PT, cujo ápice estava o ex-presidente Lula.
Esse quadro se revela mais complexo quando se reúne a ele todas as outras organizações identificadas, com suas estruturas e organizações criminosas terceirizadas ou tributárias.
Assim, usando um exemplo atual, os irmãos Batista eram e não eram líderes de organização criminosa. Se restringirmos o olhar para a J&F, realmente eles eram líderes. Se olharmos para o mapa completo, eles eram tributários, pagavam propinas para as organizações criminosas da política, seja a do PT ou a do PMDB a nível federal, mas com certeza a organizações menores que existem em governos estaduais, municipais e em órgãos públicos diversos.
Dessa forma pode-se compreender a estratégia de investigação da Operação Lava Jato e seu relativo sucesso. Ao invés de iniciar a investigação contra as grandes organizações criminosas, foi ela desarticulando as organizações criminosas menores. Ao solapar as bases, as estruturas superiores foram desmoronando. Nesse ponto, o uso das colaborações premiadas com expoentes dessas estruturas menores foi fundamental para a implosão do sistema.
Tudo isso dito, fica claro que o acordo com Joesley Batista foi um mal necessário para atingir um interesse público maior, que é o de destruir duas das maiores e mais nefastas organizações criminosas que já existiram no Brasil, aquela existente no PT e aquela existente no PMDB.
Cumprimento quem conseguiu chegar até aqui, pois se trata de um assunto árido e algumas vezes confuso. Espero ter dado algumas ferramentas ao leitor para não ser enganado por colocações ingênuas, simplistas ou maldosas que andam por aí. Obrigado.
Segunda postagem, feita às 18h18:
Amigos.
Quando a operação Lava Jato começou, fui convidado a fazer parte dela devido ao meu conhecimento de como combater crimes do colarinho branco.
Nessa época eu já contava com 35 anos de serviço público e acreditava que bastava eu fazer o meu melhor na minha profissão e estaria ajudando o país a ter um futuro melhor.
Eu me enganei.
Percebi que precisamos transcender nosso dia-a-dia. Podemos aqui na Lava Jato ficar lutando com todas as técnicas de investigação e com todos os argumentos lógicos e jurídicos, e ainda assim estaremos apenas "enxugando gelo".
Agora, com 38 anos de serviço público sem uma única mácula em meus registros profissionais e às vésperas de minha aposentadoria, percebi que há mais que sermos profissionais dedicados e pais de família provedores.
Há muita coisa errada em nosso país: corrupção, injustiça, desigualdade social, ausência de reconhecimento do mérito pessoal, burocracia, etc... E esses problemas não desaparecerão apenas pelo bom trabalho diário.
Assim, precisamos nos engajar em algo mais. Escolher algo que precise ser mudado e nos comprometermos a sair de nosso casulo, da nossa zona de conforto, para lutar por essa mudança.
Só assim algo pode mudar em nosso país.
Acredito no combate à corrupção, na necessidade de reforma da nossa política, na desburocratização, no reconhecimento do mérito, na democracia e nos princípios republicanos.
Por isso escrevo aqui. Por isso coloco minha cara para bater. Por isso não fico confortavelmente sentado esperando que façam aquilo que deveria ser feito por mim.
Acredite: alguns Procuradores da República, Delegados de Polícia, servidores da Receita Federal e um Juiz não podem resolver os problemas do Brasil.
Isso cabe a todos nós. A oportunidade é agora.
Carlos Fernando