5 de Julho de 2017
Alex Solnik
Aécio foi à tribuna achando que estava na cerimônia do Oscar recebendo o prêmio de melhor ator.
Mal sabia ele que estava disputando na categoria “canastrão do ano”, focinho a focinho com Temer.
Julgou seu pronunciamento tão importante e imperdível que tolerar apartes seria desperdício de tempo e de neurônios.
Com o que o circunspecto cacique do Senado – não por acaso seu apelido na Odebrecht era Índio – concordou em gênero, número e grau.
A oposição retirou-se, julgando que tomar um cafezinho seria mais produtivo.
Leu um discurso pífio – que falta faz a sua irmã nessas horas. Bem que ele pediu autorização para falar com ela – ou era para isso ou para saber se ela arrumou a grana para pagar seus advogados - mas a tanto o STF não se rebaixou.
A sua narrativa não seria aprovada se virasse roteiro de filme de Hollywood. Não tem pé nem cabeça. Não tem começo, nem meio, nem fim.
Para dar musculatura ao seu enredo ele deveria ter contado como e porque conheceu Joesley Batista, conhecido no meio por comprar políticos, a quem chamou de “bandido confesso”. Claro que ele pode alegar que o tempo todo achou que ele era um empresário mecenas, que distribuía dinheiro altruisticamente, sem nada pedir em troca. E sempre que lhe deu dinheiro foi dessa forma.
Aliás, ele se esqueceu de nos informar se já tinha pedido antes dinheiro a Joesley, para desmentir o empresário, que disse que Aécio vivia pedindo dinheiro a ele.
Pois é.
Não desmentiu.
Mas, vamos lá. Vamos aceitar que ele acreditava no bom coração do rei do gado e, às voltas com dificuldades para pagar seus advogados (tem nove inquéritos no STF) resolveu pedir à sua irmã para lhe oferecer um apartamento no Rio de Janeiro no valor de 8 milhões.
Uma bagatela.
Joesley recusou a proposta e, em contrapartida, ofereceu 2 milhões a fundo perdido.
Fechado o acordo, Aécio entrou em cena. Foi gravado agradecendo e acertando a transação com Joesley.
Num momento de descontração, certamente aliviado por conseguir a bufunfa, quando Joesley perguntou se ele queria receber a mala pessoalmente ou indicaria um homem de confiança, ele gracejou que o portador deveria ser alguém que “a gente possa matar antes de delatar”.
Transação entre amigos honestos prescinde de gracejos desse naipe.
Não foi um empréstimo corriqueiro, como ele disse na tribuna. Empréstimo, mesmo entre amigos, sempre tem contrato. Onde está? Depois, a entrega de um valor tão elevado – ainda que dividido em quatro parcelas de 500 mil – geralmente é efetuada por transação bancária, muito mais segura.
No entanto, Aécio preferiu correr o risco de receber em espécie, dentro de mala e indicou seu primo para recebê-la.
Mais tarde, a mala passou às mãos do motorista do senador Zezé Perrela, outro brincalhão, grampeado em conversa com Beócio dizendo “eu não faço nada de errado, eu só trafico”.
Esse não é o script de um negócio honesto. Nem de um filme da Sessão da Tarde.
Brasil 247
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