sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Depois não digam que Constituinte é ditadura…



POR FERNANDO BRITO · 11/08/2017




A egotrip que tomou conta dos poderes da República é absolutamente evidente.

O Executivo tornou-se um valhacouto de denunciados, a começar do presidente da República.

Sua capacidade de gerir a economia foi-se, a de gerar progresso deu adeus antes disso e a de prover serviços públicos já nos acena com um adeus.

O Judiciário navega como nau soberba e luxuosa no oceano de lama nacional: a existente e a que ele próprio criou com sua ação irresponsável e uma imprudente sanha acusatória. Hoje mesmo tem-se o exemplo da irresponsabilidade com a declarações do promotor que diz, depois de terem virado manchetes nacionais, que as contas na Suíça em favor de lula e Dilma nada têm que possa dar-lhes um mínimo sinal de veracidade. Ai menos essa, por enquanto, ainda não virou triplex do Guarujá.

A hierarquia e o respeito entre as instâncias, fundamento essencial do sistema, foi para o brejo: milhares de juízes não se acanham em se dizerem “perseguidos” por não terem satisfeitos seus pantagruélicos apetites salariais.

E o Legislativo, onde estamos acostumados a ver de tudo e mais um pouco, agora atenta contra a própria ideia de representatividade que sustenta a sua existência e advoga um “distritão” que significa, simplesmente, jogar fora a metade – e só não será a maioria porque candidatos modestos e sem dinheiro ou deixarão de fazer campanha ou a farão apenas para dar destino (para si e para outros) das cotas do fundo eleitoral.

Quem quiser creia nas balelas de que “é apenas uma transição” para o voto distrital misto – já duvidoso. Quando é que suas excelências, autoconvertidos em nobreza parlamentar que a ninguém, nem aos partidos, deve obrigações e coerência vão anular seus privilégios?

Um parlamento de nobreza e clero, essencialmente, os “Estados Gerais”, na França falida de 1796 – já então com a desastrosa cantilena do ‘imposto-não”, que a arruinou frente à Inglaterra – não foi capaz de dar ao país saídas e tudo desembocaria na Revolução de 1789 e na derrubada do Rei.

Aqui, pode-se pensar na eleição de um rei-presidente que vá ser mero refém de um parlamento onde desapareceu a representação proporcional, há condes-deputados e juízes políticos vitalícios e incontestáveis?

Como pode um presidente eleito legitimamente eleito comportar-se dentro de um quadro assim senão indo buscar no povo, fonte de legitimidade do poder, a reforma destas estruturas apodrecidas?

Dirão que será “Venezuela”, “bolivarianismo”?

Que voto popular é subversivo e a vontade da Nação é antidemocrática?

Trocaram a institucionalidade pela aventura, como podem reclamar da necessária “freada de arrumação” que acabará por vir?

Quem quer levar o Brasil para 1920 não se espante com 1930.



Tijolaço

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