quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Abdias e o caso Monteiro Lobato


Por J.Roberto Militão

NASSIF,

Não poderia deixar de trazer a opinião do nonagenário Abdias a essa questão do racismo de Lobato (foto) impregnado na literatura infantil: a questão proposta não é de censura. A questão que merece reflexão é e se cabe ao estado, que tem na constituição o repúdio ao racismo, financiar e entregar o conhecimento e o incentivo subliminar da ideologia racista a que era filiado de carteirinha o grande escritor destinado a nossas crianças, futuros dirigentes nacionais.

Como LOBATO foi filiado a Associação Paulista de Eugenia, portanto, não fazia segrego de suas convicções. É correto defende-las, ou as ignorar, no contexto de hoje? É possível dizer que uma literatura infantil não produz efeitos nos seus leitores?

Aos debates.

Ao Excelentíssimo Senhor

Fernando Haddad

Ministro de Estado da Educação

Aos Excelentíssimos Senhores

Integrantes do Conselho Nacional de Educação

Brasília, DF

Ref: Parecer 15/ 2010 aprovado pela Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação.

Senhor Ministro;

Senhores integrantes do Conselho Nacional de Educação:

O parecer 15/2010 da Professora Doutora Nilma Lino Guedes, aprovada pela Câmara de Educação Básica do CNE, não sugere veto nem censura ao livro em questão. Trata-se da apresentação oficial ou não, com o endosso do Estado Brasileiro, do livro Caçadas de Pedrinho de Monteiro Lobato como leitura para crianças em sala de aula.

Não está em questão a qualidade literária da obra nem o engajamento do autor nas causas nacionalistas. O fato é que ele compartilhava as noções de superioridade e de inferioridade raciais predominantes em sua época, e essas noções estão explícitas em diversas passagens de seus livros infantis. No livro em questão, a personagem Tia Nastácia figura como "negra beiçuda" e como "macaca de carvão" que sobe em árvores.

O foco da análise do parecer está correto: o efeito que esse tipo de linguagem exerce sobre a personalidade em formação de crianças negras e de crianças brancas. A repetição de tais epítetos é constante na experiência escolar. Igualmente constantes são as referências negativas à cor negra e aos negros, costumeiramente desconsideradas pelos professores como “só uma brincadeira”. O acúmulo desses aparentemente pequenos incidentes favorece tornar as crianças negras os alvos preferenciais do bullying - novo nome de uma antiga prática a que gerações de negrinhas e de negrinhos vêm sendo submetidos desde sempre nas escolas brasileiras.

Blog do Luis Nassif

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