terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Os "esquecimentos" convenientes do secretário Timothy Geithner


Excelente a reunião do secretário do Tesouro americano, Timothy Geithner, com a presidenta Dilma Rousseff e sua palestra na FGV-SP. As causas da valorização cambial por ele citadas são reais. A apreciação decorre mesmo das oportunidades que o Brasil oferece e garante aos investidores, dos nossos juros altos - mesmo que tenham caído pela metade desde 2003 - da desvalorização das moedas de alguns países emergentes, do yuan da China...

Mas, pena, em sua palestra faltou relacionar um grande fator e uma causa e tanto para esta valorização cambial: a política monetária e fiscal norte-americana. Não sei por que razão Geithner se esqueceu de incluir estas políticas de seu próprio governo e de seu país.

Isso sem falar da crise de 2009 - surgida na questão do subprime, ela se acentuou há dois anos no país de Timoty - que ele se esqueceu, mas é, também, uma das principais responsáveis pela valorização do real.

De boas intenções o mundo está cheio

No encontro com a presidenta brasileira e na palestra em São Paulo, o secretário de Barack Obama falou da Rodada Doha, comércio bilateral, cooperação técnica, energia limpa e meio ambiente. Mas, a realidade é bem outra.

Doha, por exemplo, não avança. Mas o protecionismo norte-americano (e europeu) sim. Nosso etanol continua impedido de ter acesso ao mercado dos EUA, que na virada de 2010-2011 estendeu por mais um ano (até dezembro próximo) os vultosos subsídios que concedem ao seu etanol. Sem falar do acesso do nosso algodão, da carne, suco de laranja e outras “cositas mas”.

Espero que o Brasil não participe de nenhuma aliança, frente única, ou algo do genero contra a China ou sua moeda (yuan) desvalorizada, como querem os norte-americanos, nossos concorrentes na exportação de commodities agrícolas para o 1,3 bilhão de chineses.

Sem frente contra a China

Até porque ao responsabilizar apenas a China e os nossos juros pela valorização do real o secretário do Tesouro americano absolve seu pais e sua política, grandes responsáveis pela atual situação mundial e suas consequências no comércio e no câmbio em nível internacional.

Sem falar nos trilhões de dólares que irrigaram o mundo nos últimos dois anos. Uma coisa é o Brasil se defender das exportações chinesas, de preferência aumentando nossa produtividade e eficiência, reduzindo custos tributários, financeiros e da infraestrutura e aplicando medidas antidumping, quando for o caso.

Outra, bem diferente, é se alistar nessa histeria anti-chinesa que encobre o único responsável pelo que acontece hoje no mundo, o sistema bancário-financeiro norte-americano e sua aventura especulativa que quase levou a economia global à ruína e que ainda cobra - e como! - suas consequências na Europa e no comércio internacional.

Blog do Zé Dirceu

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