Akemi Nitahara
Repórter da Agência Brasileira
Repórter da Agência Brasileira
Rio de Janeiro – Enquanto no Brasil a proporção de negros na
população ultrapassa os 50%, entre pretos e pardos, na Câmara dos
Deputados a proporção fica em 8,9%, com 46 dos 513 representantes do
povo. Apesar de ruim, o quadro melhorou nas últimas décadas.
De acordo com o primeiro Relatório Anual das Desigualdades Raciais
no Brasil, publicado em 2008, na legislatura de 1983 a 1987 havia apenas
quatro deputados negros. O número passou para 10 de 1987 a 1991, para
16 entre 1991e 1995 e caiu para 15 entre 1995 e 1998. O levantamento
feito com base nos empossados em janeiro de 2007 mostra 11 deputados
pretos, dos quais uma mulher, e 35 pardos, com duas mulheres. A
publicação ressalta que 8,9% dos deputados eram negros, quando a
proporção na população em 2006 era 49,5%.
No Senado, de 1987 a 1994 o único representante negro foi Nelson
Carneiro. De 1994 a 1998 assumiu o mandato Abdias Nascimento e, de 1995 a
2002, a casa contou com Benedita da Silva e Marina Silva, as primeiras
senadoras afrodescendentes do Brasil. Em 2007, haviam quatro senadores
pardos e um preto. Na legislatura atual, entre os 81 senadores, o único
que se autodeclara negro é Paulo Paim.
Um dos organizadores do relatório, o coordenador do Laboratório de
Análises Econômicas, Históricas, Sociais e Estatísticas das Relações
Sociais (Laeser) do Instituto de Economia (IE) da Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ), Marcelo Paixão, explica que a análise
apresentada no relatório foi feita com base em registro fotográfico, mas
que não houve qualquer contestação ao método ou ao resultado.
“Não há contestação ao fato de que 92% do Congresso Nacional são
formados por pessoas de pele clara, isso é uma coisa óbvia, você olha do
alto do plenário do Congresso e vê os que estão lá presentes”. De
acordo com ele, esse levantamento não foi feito na publicação seguinte,
lançada em 2011, mas a realidade não mudou muito nesse período.
“Talvez não me surpreenderia se a realidade mostrada em 2008 tenha
ficado ainda pior. A gente está começando a ter uma carência no Brasil
de personalidades negras com capacidade efetiva de se eleger, de terem
mais espaço na cena pública, com maior visibilidade. Nomes como Paim,
Vicentinho, Benedita, todos recuaram muito. Veio a figura do Joaquim
Barbosa, mas em outro eixo, uma outra forma, não dá para comparar muito o
contexto. Então, a realidade descrita ali [no relatório] continua
válida”.
De acordo com a deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ),
atualmente há 30 negros na Câmara. Para ela, o problema atual da baixa
representação vem de um processo histórico que começou com a escravidão.
“Mas isso não é uma coisa que a gente possa construir facilmente.
Tem todo um processo que nós entendemos como sendo fatores que
implicaram a pouca presença da comunidade negra, principalmente nesses
espaços políticos, que são espaços de decisões e, sendo [assim], não são
espaços caracterizados para negros ou afrodescendentes”.
Ela lembra das lutas desde Zumbi dos Palmares, a Revolta da Chibata,
a dos Alfaiates e movimentos abolicionistas que levaram, pouco a pouco,
à conquista de espaço.
“Hoje, na República, por exemplo, nós vamos encontrar o negro não só
lutando por sua cultura, por sua identidade, mas por um espaço mais de
poder, mais de decisão. E é evidente que essa construção está sendo
feita. Hoje você tem, são poucos, mas você tem alguns negros que
conseguiram superar essas fases e já estão aí nesses espaços construindo
possibilidades e pautando esse caminho”.
Para a secretária de políticas de ações afirmativas da Secretaria de
Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), Ângela Nascimento, o
problema da representatividade é ainda mais grave entre as mulheres.
Ela acha que são necessárias ações afirmativas para corrigir as
desigualdades.
“A gente compreende que, diante da participação da população negra,
do significado da população negra na história deste país, é necessário
que haja medidas que corrijam a sub-representação das mulheres negras
nos cargos políticos. É fundamental que a gente atue para que elas
tenham uma participação capaz de reverter esse quadro de desigualdade”.
Segundo levantamento do Instituto de Estudos Sociais e Políticos
(Iesp) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), as mulheres
pretas, pardas e indígenas são a maioria entre os 5,3 milhões de jovens
de 18 a 25 anos que não trabalham nem estudam no país. Elas somam 2,2
milhões, correspondente a 41,5% desse grupo. Do total de jovens
brasileiros nessa faixa etária (27,3 milhões), as negras e indígenas
representam 8%, enquanto as brancas na mesma situação chegam a 5% (1,3
milhão).
Agência Brasil
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