Da Rede Brasil Atual
Encontro com acadêmicos e pensadores de diversos países da região ocorre em São Paulo
São Paulo – Na abertura do encontro com intelectuais sul-americanos
de esquerda, que ocorre hoje (21) num hotel de São Paulo, o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva falou da necessidade de juntar
os pensadores da região para a construção de uma “doutrina” da
integração latino-americana. Segundo Lula, a ideia vem amadurecendo
desde seu primeiro mandato presidencial.
O ex-presidente considera a integração é “uma palavra
muito fácil de ser falada, mas muito difícil de ser colocada em
prática, tais os problemas políticos, as incompreensões e os
preconceitos” que cercam o tema.
“Lamentavelmente, aqui na América Latina se adotou
uma política esperta, de nos dividir. (...) Sempre houve preconceito,
sempre houve uma preocupação maior de relação preferencial com os EUA...
ou com a Europa... ou com qualquer um, menos entre nós mesmos. Entre
nós existia um processo de desconfiança generalizado. E era uma coisa
cultural, porque vem inclusive muito baseada na formação de nossos
embaixadores, de preconceitos e mais preconceitos entre nós. Não tem
explicação, depois de mais de 500 anos, eu inaugurar a primeira ponte
entre Brasil e Bolívia; não em explicação, depois de mais de 500 anos,
eu inaugurar a primeira ponte entre Brasil e Peru. Nós estávamos, de
forma muito conscientes, voltados para a Europa e os EUA, e de costas
para nós”, disse Lula.
Ele adiantou que a ideia agora é os intelectuais dos
vários países trabalharem em conjunto para fornecer subsídios não apenas
aos governos, mas também à sociedade.
“Queremos aprender com vocês, saber o que vocês estão
pensando esse tema na academia (…) para que sejam criados instrumentos
para avançar na integração.”
Debates
Após a fala de Lula, a primeira mesa de debates teve
Aldo Ferrer, economista, ex-ministro da Economia, atual embaixador da
Argentina na França, e Marco Aurélio Garcia, assessor de Relações
Internacionais da Presidência da República do Brasil.
As intervenções ressaltaram que a América Latina vive
um momento de avanços, com governos progressistas, democracia avançando
e melhorias sociais. "Nunca tivemos um momento tão propício para este
debate", destacou Aldo Ferrer, que ressaltou três mudanças fundamentais
que já aconteceram, a melhora na qualidade das lideranças, o que
possibilitou a ênfase no social; o fracasso do neoliberalismo e da
crença de que o mercado sozinho resolveria a todos os problemas e a
consolidação da democracia.
Marco Aurélio Garcia alerta, no entanto, que não se
pode tratar esse momento como “um parêntesis progressista em uma
história conservadora”. As políticas sociais parecem ser a grande marca
desse novo direcionamento progressista da região, com resultados
concretos que já têm proporcionado.
Diversas intervenções dos intelectuais coincidiram ao
apontar a necessidade de uma ênfase na inovação, na técnica e na
indústria com maior valor agregado. “Brasil e Argentina vendem juntos
dois terços das proteínas do mundo, mas não agregam valor a esses bens”,
disse o economista argentino Bernardo Kosacoff, ex-diretor da Comissão
Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), lembrando que é
necessário aproveitar o enorme mercado interno da região e “levantar
nossa auto-estima”. O senador uruguaio Alberto Curiel também enfatizou a
necessidade de infraestrutura produtiva integrada e mais valor agregado
aos produtos da região. “Temos vários desafios que eu não sei como
resolver. É preciso falar com empresários, o Lula está fazendo isso, é
preciso falar com trabalhadores, o Lula está fazendo isso, é preciso
falar com movimentos sociais, e o Lula já fez isso…”
Curiel criticou, no entanto, a falta de planejamento
estratégico, embora reconheça os avanços sociais em toda região. Salomón
Lerner, ex-primeiro ministro do Peru, concordou. “Hoje, quem planifica,
quem faz pensamento estratégico são as multinacionais. A participação
dos grupos políticos no governo é cada vez menor. A questão é como fazer
para que essas militâncias, no momento progressista em que vivemos,
participem da política. E não que a política seja discriminada como
incapaz, corrupta e inoperante.”
O cientista político uruguaio Álvaro Padrón se uniu
ao coro ao comemorar os avanços significativos na redução da pobreza e
da desigualdade, mas alertou para os limites desse processo. “Foi a
primeira vez que tivemos democracia, crescimento, distribuição de renda.
Mas isso só não se traduz em desenvolvimento. Precisamos ter ganhos de
produtividade, sem isso, atingiremos um limite muito em breve. Esse é o
desafio fundamental.”
A cientista política Ingrid Sarti, presidente do
Fórum Universitário Mercosul (FoMerco) agradeceu ao Instituto Lula por
intervir justamente no desafio de levar o pensamento da academia para as
instâncias decisórias. “Como professora, faço parte desse trabalho
árduo de pesquisa, que muitas vezes acaba engavetado. É muito importante
que o Instituto Lula possa ser um motor dessa articulação e dar algum
auxílio à formação de políticas públicas.”
Theotonio dos Santos, economista da Universidade
Federal Fluminense, afirmou que uma integração comercial daria mais
poder de negociação internacional à América Latina. “O Chile tem 40% do
cobre do mundo e entregamos esse produto abrindo mão da capacidade de
influenciar o preço internacional dele.”
Com informações do Instituto Lula
Blog do Luis Nassif
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