Michel Temer chefiou hoje reunião do comando político da legenda para tentar abafar crise efervescente e anunciou, após o encontro, que o partido pretende enviar ao Congresso sua própria sugestão de reforma política; encontro de políticos eleitos pelo PMDB com vice-presidente ontem revela vontade de barganhar e mágoas abertas no partido em relação do governo; "O PMDB não quer agradar ao governo, mas ao Brasil", disse líder na Câmara Eduardo Cunha, favorito para presidir a Casa; "Temos de arrancar tudo dela (presidente Dilma Rousseff) se formos mesmo participar do segundo mandato", disse governador André Puccinelli, do Mato Grosso do Sul; quem tem esses amigos, ainda precisa de inimigos?
5 de Novembro de 2014 às 17:32
247 – O PMDB não quer mesmo ter uma convivência tranquila com a presidente Dilma Rousseff durante o segundo mandato dela, a partir de 1º de janeiro. O que já era um grande indício se tornou uma certeza desde a noite de ontem, quando o vice-presidente Michel Temer reuniu para um jantar de confraternização, no Palácio do Jaburu, em Brasília, mais de cem políticos eleitos pela legenda. A ideia era mostrar algum tipo de união em torno do governo que, afinal, tem no próprio Temer seu maior representante na administração federal, mas a ideia não deu certo.
Os jornalistas que cobriram o encontro saíram repletos de afirmações de confronto direto à presidente Dilma Rousseff. O governador do Mato Grosso do Sul, André Puccineli, cujo candidato à sua sucessão, Nelsinho Trad, ficou em terceiro lugar na disputa pelo governador estadual, era um dos mais agressivos. Chamando a presidente por "essa mulher", ele passou o jantar dando como recado principal a efetivação da prática política do famoso 'toma-lá-dá-cá'.
- Se formos mesmo participar desse segundo mandato, temos de tirar tudo o que pudermos dela, disse ele.
Explica-se: a eleição no MS foi vencida pelo tucano Reinaldo Azambuja, com o petista Delcídio Amaral em segundo lugar. O PMDB, assim, deixou o poder para se tornar a segunda força no Estado.
Em alta entre os deputados federais, na condição de favorito à disputa pela presidência da Câmara dos Deputados, o líder Eduardo Cunha avisava, desde a entrada, que não vai mesmo assumir qualquer compromisso com a sustentação política da nova gestão de Dilma:
- O PMDB não está aí para agradar ao governo, mas para agradar o Brasil, correspondendo às expectativas dos nossos eleitores, disse ele à entrada do jantar.
Até mesmo o ex-líder do governo no Senado Eduardo Braga, que perdeu a eleição para o governo do Amazonas, mostrou as garras contra o PT, partido que responsabilizou por sua derrota no Estado. De acordo com o jornalista Josias de Souza, do jornal Folha de S. Paulo, até mesmo o ex-ministro Eliseu Padilha, cotado para ocupar algum ministério na hipótese de uma sequência natural da aliança que elegeu a chapa Dilma-Temer parecia declinar antecipadamente de um convite:
- Não conseguirei nomear nem o cara que serve o cafezinho, disse ele, despertando gargalhadas entre os colegas.
Hoje, em novo esforço para dar um mínimo aspecto de coesão entre seu partido e a presidente eleita, Temer chefiou a reunião do comando político da legenda. Uma de suas missões será evitar uma trombada de frente do partido com o plano anunciado por Dilma de promover uma reforma política por meio de um plebiscito. No máximo, os chefes do PMDB aceitarão, em tese, um referendo.
O jantar do Jaburu, prevaleceu a avaliação de que o signo de 2015 será de permanentes embates políticos entre o Executivo e o Legislativo, tornando as dificuldades políticas do primeiro mandato como café pequeno, para ficar na imagem de Padilha, para presidente.
Enxergando a montanha de dificuldades que surgem pela frente, políticos como o ex-presidente Lula e o atual governador do Ceará, Cid Gomes, sugerem que o PT articule uma frente de partidos de esquerda no Congresso para tentar se contrapor ao rolo compressos peemedebista. A aliança de quatro anos que se repetiu para a eleição de 2014 nunca esteve tão frágil como agora.
Abaixo, reportagem da Agência Brasil sobre declaração de Temer após a reunião do Conselho Nacional do PMDB:
PMDB apresentará texto próprio de reforma política no ano que vem
Karine Melo – Até o início do ano que vem, o PMDB pretende enviar ao Congresso Nacional uma sugestão de reforma política. A informação foi dada nesta quarta-feira (5) pelo vice-presidente da República e presidente nacional do partido, Michel Temer, após reunião do Conselho Nacional do PMDB, da qual participaram governadores, prefeitos, parlamentares e líderes da legenda.
"A reforma política, há muito tempo, vem sendo maturada, e acho que agora já amadureceu suficientemente para ser votada no ano que vem. Convenhamos que, se não for votada no ano que vem, ficará difícil votá-la nos anos subsequentes", afirmo Temer. Ele ressaltou que, com isso, o objetivo da legenda é apressar a discussão do tema.
Temer não quis adiantar pontos já acertados da proposta, nem se ela apoiaria um referendo popular, como já defenderam líderes do próprio PMDB, como os presidentes da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (RN), e do Senado, Renan Calheiros (AL).
"Eu, pessoalmente, sou a favor da consulta popular e acho que referendar aquilo que o Congresso fará é uma mistura que a própria Constituição já fez entre a democracia representativa e a democracia direta. Ou seja, ela [sociedade] não teria só a palavra dos representantes populares, mas também a aprovação popular, seria extremamente útil", afirmou.
"O PMDB, como partido, está saindo na frente, está incumbindo um grupo da Fundação Ulysses Guimarães de formalizar um projeto de reforma política que deverá ser aprovado pelo partido e depois encaminhado ao Congresso Nacional , que é o palco próprio para cuidar dessa matéria", disse Temer.
Segundo nota divulgada após reunião do conselho, para a construção dessa proposta, o PMDB quer ouvir a sociedade civil "na maior horizontalidade possível. Na lista estão acadêmicos, especialistas, lideranças sociais, representantes institucionais e diversos atores do setor produtivo.
Brasil 247
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