sábado, 22 de novembro de 2014

Trio deve ser confirmado na 5a. feira


 
21 de novembro de 2014

por Paulo Moreira Leite

Governo decide aguardar pela mudança na LDO para confirmar nomeação de Nelson Barbosa, Alexandre Tombini e Joaquim Levy como triunvirato que vai comandar economia ao lado de Dilma


A julgar por relatos que chegaram ao Brasil 247, o cancelamento, ontem, da cerimonia onde Dilma Rousseff iria confirmar a indicação de Nelson Barbosa, Alexandre Tombini e Joaquim Levy para administrar a área econômica no segundo mandato causou mais estragos para fora do governo do que para dentro.

No fim do dia, Dilma deixou o Planalto para seguir em conversas de trabalho no Alvorada, quando foi vista embarcando num carro da comitiva presidencial em companhia de Joaquim Levy.

A cerimonia, que estava prevista para o fim da tarde de sexta-feira, deve ocorrer na quinta-feira que vem, por um motivo que interessa tanto à presidente Dilma como aos convidados para formar a nova equipe.

Embora tenha sido derrotado ao longo da semana na tentativa de modificar a Lei de Diretrizes Orçamentárias, exibindo uma dificuldade imensa para mobilizar a própria base, o governo pretende fazer um novo esforço, a partir de segunda-feira, para virar a decisão. Considera-se no Planalto que se os novos ministros tivessem sido anunciados na tarde sexta-feira, como se acreditava, seriam jogados no meio da batalha de um governo que está de saída, enfrentando um processo de desgaste e confronto antes da hora para discutir um tema que divide a maioria dos economistas — mudança no superávit primário a poucos meses do final do ano.

Ainda assim, a informação de que o trio de economistas não seria confirmado na sexta-feira gerou rumores e explicações desencontradas. Dificuldades cerimoniais costumam ser o mais ameno dos problemas de qualquer governo, como se sabe. Mas a novidade gerou um novo momento de perplexidade, até porque ocorreu 24 horas depois que o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi, encontrou-se com Dilma, quando lhe disse que não aceitava o convite para ser a principal estrela do ministério — gesto que gerou, entre assessores palacianos, uma pergunta constrangedora, de saber se não seria possível descobrir isso sem levar a presidente a passar pelo constrangimento de ouvir um “Não.”

No dia seguinte, uma sala reservada para cerimonias e pronunciamentos da presidente — foi ali que o governo fez um evento para receber o apoio do ex-prefeito Gilberto Kassab e a bancada do PSD — já estava arrumada na tarde de sexta feira para receber jornalistas e autoridades quando se soube que as nomeações não seriam anunciadas.

Entre os convidados para a equipe econômica, o nome de Joaquim Levy produziu reações contraditórias. A alta na Bolsa e a queda no dolar, ontem, eram explicados como uma reação dos mercados ao time de economistas, entre os quais Levy é a única novidade real.

Nelson Barbosa só deixou o cargo número 2 na Fazenda após desentendimentos com a própria Dilma e com Guido Mantega — mas sempre foi visto como um economista ligado ao pensamento batizado como “desenvolvimentismo” em contraposição ao chamado “neoliberalismo.” Alexandre Tombini é o presidente do Banco Central capaz de derrubar os juros em agosto de 2011 mas também de jogá-los para cima, mais tarde.

A diferença fica por conta de Joaquim Levy, secretário do Tesouro no primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, onde fez fama como um administrador severo dos gastos do governo. Há o temor, junto a uma parcela ponderável de dirigentes do Partido dos Trabalhadores, que sua presença seja sinal de que o governo pretenda realizar um ajuste muito mais doloroso do que se anunciou na campanha presidencial, inclusive como contraponto a Aécio Neves.

Alvo de críticas amargas da maioria dos ministros, era acusado cortar mais despesa do que necessário, comportamento que alimentou uma atitude hostil em diversas áreas do governo. Mas Levy nunca deixou de assegurar os recursos para o programa Bolsa Família, que nascia naquele momento — e que eram a prioridade do presidente Lula. Sua escolha irá gerar reações dentro do PT mas representa uma nova versão da estratégia de Lula e Dilma para enfrentar as fraquezas do crescimento econômico. Mesmo que a divisão de cargos entre os três não tenha sido anunciada, Levy está chamado a desempenhar, no novo governo, o papel que Lula queria entregar a Henrique Meirelles e Dilma pensou que seria possível ser desempenhado por Trabuco.




Blog do Paulo Moreira Leite

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