sábado, 24 de janeiro de 2015

Pirueta histórica. A esquerda avança na Europa

24 de janeiro de 2015 | 10:37 Autor: Miguel do Rosário   

 
(Na foto: Alexis Tsipras, de braço erguido, candidato do Syriza e favorito nas eleições deste domingo, ao lado de Pablo Iglesias, líder do Podemos, partido de esquerda espanhol, também favorito nas eleições deste ano.)


A história é uma dama maliciosa e cheia de surpresas.

Quando todos os analistas dizem uma coisa, ela dá uma pirueta e toma o caminho contrário.

Muito se falou sobre o irreversível avanço da direita na Europa.

Pois bem. Na Espanha, o Podemos, liderado por Pablo Iglesias, lidera as pesquisas para as eleições presidenciais ao final deste ano.

Segundo pesquisa publicada pelo El Pais, principal jornal espanhol, o Podemos teria 28,2% dos votos, contra 23,5% dos socialistas e 19% do PP.

Podemos é um partido de esquerda, ou “anti-austeridade”.

Austeridade é o conceito que os ricos europeus inventaram para continuar cevando a classe média e os mais pobres.

Enquanto os ricos continuam na boa, pagando cada vez menos impostos, em virtude da facilidade crescente com que escamoteiam seu dinheiro e seus negócios em paraísos fiscais, os governos aumentam a carga tributária sobre os trabalhadores e reduzem os investimentos.

Na Grécia, todas as pesquisas apontam a vitória do Syriza, liderado pelo jovem Alexis Tsipras. A última pesquisa, divulgada nesta sexta-feira, mostra o partido com 6 pontos à frente do partido de centro-direita Nova Democracia, atualmente no poder.

Será a primeira vez, em quase 200 anos, que a esquerda chega ao poder na Grécia.

Em outras ocasiões, lideranças socialistas ou comunistas gregas foram duramente reprimidas, presas, exiladas.

O avanço da esquerda na Europa é uma consequência democrática e natural da crise financeira vivida pelo continente após 2008.

Os europeus assistiram, aterrorizados e perplexos, seus governos esvaziarem os cofres públicos e dar todo o dinheiro a bancos privados.

Ou seja, pobres e classe média se tornaram mais pobres para os ricos se tornarem mais ricos.

A imprensa europeia está cheia de reportagens sobre a explosão da desigualdade na Grécia.

No Liberación desta sexta-feira, há uma matéria sobre o maior magnata grego, Dimitris Melissanidis, dono da Aegean Oil, companhia de petróleo que abastece a marinha americana.

Melissanidis é dono de outras centenas de empresas, em toda a Europa.

A reportagem fala das ameaças de Melissanidis a um jornalista de uma publicação mensal de Atenas, a Unfollow, que havia publicado uma denúncia de sonegação e contrabando de gasolina contra o bilionário, baseado em relatórios do fisco grego.

Mais ou menos a mesma coisa que divulgamos aqui contra a Globo, sendo que a Globo, ao invés de praticar crimes com petróleo, o faz com informação.

O jornalista, Lefteris Charalambopoulos, explicou que a grande mídia grega ignorou as denúncias, e tampouco fez caso das ameaças do bilionário à sua pessoa, cujo áudio vazou para a internet.

A mesma coisa que aconteceu aqui: a grande mídia blinda seus amigos.

Não é a primeira vez que Melissanidis ameaça jornalistas. E não é a primeira vez que a grande mídia o protege.

Essa é uma das coisas que explica a ascensão do Syriza, contra toda a grande mídia grega.

Na última quinta-feira, o candidato da Syriza, Alexis Tsipras, fez um discurso ao lado de Pablo Iglesias, o líder do Podemos, diante de milhares de pessoas, em Atenas.

Juntos, eles cantaram alguns versos de First We Take Manhattan, de Leonardo Cohen, que se transformou numa espécie de hino revolucionário dessa nova juventude “transviada” (tradução da música aqui).

Os analistas dizem que a Grécia nunca viveu uma eleição tão nervosa, tão polarizada entre esquerda e direita, entre o novo e o velho.

A história, essa maliciosa dama, continua aprontando das suas.
 
 
 
Tijolaço

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