2 de março de 2015 | 14:53 Autor: Fernando Brito
Quando era guri, nos tempos da ditadura, brincava-se com aquelas previsões catastrofistas que criaram o clima político para a implantação da ditadura militar.
“O Brasil está à beira do abismo”, diziam.
Ao que se respondia: “e sabem porque não cai nele? Porque é maior que o abismo”.
A lembrança ocorreu-me ao ler mais um dos infindáveis “Boletim Focus” onde empresários prevêem, como sempre, mais inflação e menos crescimento econômico.
Menos crescimento (e até recessão), entende-se, porque a política de cortes, cortes e mais cortes que pediam, foi, afinal, atendida com a ascensão de Joaquim Levy ao Ministério da Fazenda.
E cortes são mesmo necessários – numa dose que cure o paciente, não que o mate – em certos momentos da administração econômica, porque todo ciclo expansionista tende, por sua própria dinâmica, a “engordar” despesas, tal como a prosperidade e o tempo vão criando “pneuzinhos” nas pessoas.
Mas o Dr. Joaquim e toda a ortodoxia econômica devem estar pensando, a esta hora em seus manuais que apontam a queda da inflação como resultado “automático” da dupla Juro Alto+ Superávit Fiscal, integrantes daquele famoso “tripé macroeconômico”.
O que não está previsto no manual neoliberal, porém, é o custo para a economia do processo político que dela nunca se descola.
E o fato é que o Brasil passou a viver, desde o Governo Lula, sob o terrorismo da mídia, num processo que recrudesceu após a eleição de Dilma Rousseff.
Nos tempos de afluxo econômico, seu efeito era pequeno.
Todas as tentativas de fazer a economia responder positivamente aos estímulos do Governo Federal (desoneração tributária, redução das tarifas elétricas – 50% do consumo é industrial – preços de combustível, etc) resultou em muito pouco – daí a expressão grosseira, simplista, mas não completamente de lógica do Ministro da Fazenda – por diversos fatores e não é desprezível aquele que representa a competição entre o ganho da atividade produtiva comparado ao da financeira, esta santa intocável de nosso altar.
Mas há mais, muito mais.
O Brasil deixou de ter uma postura comercial agressiva – e é difícil tê-la, numa economia mundial estagnada, o preço das commodities caiu a níveis da crise de 2008 e a seca criou um impasse nos custos de produção de energia, cujos reajustes, agora, põem mais lenha na fogueira da inflação.
Com um cenário econômico no qual uma semiparalisia da Petrobras (o setor de petróleo e gás representa 13% do PIB) e a eventual qubradeira das empreiteiras da construção civil, setor que movimenta outros 10% do Produto Interno Bruto, acrescentam-se fatores de perversa retração que são o “sonho de consumo” dos “atiradores do Brasil no abismo”.
Aquela história de “Fim do Brasil” nosso “Exército Islâmico da Economia”, que decapita quem não aceita quem não aceita seu corão ortodoxo, não é uma brincadeira de imbecis, não. É o que lhes restou como forma de solapar um projeto nacional.
O Dr. Joaquim Levy, homem esperto que é, deve estar observando que aqueles que o aplaudiam como “salvador” já começam a torcer o nariz.
A Folha, hoje, o ataca em dose dupla.
Dois artigos dizem que ele está “desgovernado” e que lhe cabe anunciar “o fim do PAC“, isto é de todas as intervenções desenvolvimentistas no Brasil.
Ou, falando mais claro, com qualquer possibilidade de desenvolvimento autônomo do país.
Recomenda-se ao Dr. Joaquim, portanto, todos os dias, olhar-se ao espelho e perguntar-se: quem elegeu o Governo que me nomeou?
Porque aquela famosa frase do “é a economia, estúpido” que James Carville, assessor de Bill Clinton, tornou famosa tem, claro, mão dupla.
Ah, em tempo – eu ia me esquecendo – o Brasil não cairá no abismo porque é maior que ele. E que todos eles.
Tijolaço
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