15/04/2015
por Tereza Cruvinel
Reunião do diretório nacional do PT amanhã será dramática
O PT foi pego de surpresa com a prisão do tesoureiro João Vacari Neto e enxerga na decisão o propósito de detonar a agenda positiva que o partido e o governo começavam a colocar em prática. A prisão ocorre justamente no momento em que o PSDB põe a cautela de lado e abraça com mais determinação a tese do impeachment da presidente Dilma, embora reconhecendo a inexistência de base jurídica concreta. Nos últimos dias a cota de oxigênio político havia aumentado para Dilma e o PT com os seguintes movimentos:
1. Redução das tensões entre Congresso e Governo com a designação do vice-presidente Michel Temer para a coordenação política.
2. Enfraquecimento quantitativo das manifestações de domingo passado.
3. Oposição do partido ao projeto de terceirização de mão-de-obra, restabelecendo suas pontes com sindicatos e movimentos sociais.
4. Indicação de Luiz Fachin, um nome bem recebido pelo meio jurídico e boa parte do meio jurídico, para a vaga aberta no STF.
5. Melhora em alguns indicadores econômicos, como o interesse da Shell pelo pré-sal e previsão de redução da inflação de abril.
Com a prisão de Vacari, estes fatos que vinham reduzindo a força da tempestade política perdem força e visibilidade, injetando gás na oposição, a começar pela pregação do líder do DEM, Ronaldo Caiado, a favor do impeachment e da cassação do registro do PT. O PSDB, através do senador Aécio Neves, adotou tom mais favorável ao impeachment e passou a considerar efetivamente iniciativa neste sentido se conseguir reunir elementos jurídicos mais consistentes, essenciais a um processo desta gravidade, que não pode assentar-se apenas no desejo das ruas anunciado pela pesquisa Datafolha.
A prisão do tesoureiro altera gravamente a conjuntura e fornece combustível aos adversários na luta de vida ou morte que tem como pano de fundo a Operação Lava Jato, e como lançador de mísseis o juiz Sergio Moro. Em com isso, cresce a dramaticidade da reunião do diretório nacional do PT marcada para amanhã, quinta-feira, 16. O partido já estava indo dividido para a reunião, com a tendência Mensagem defendendo a saída de Vacari e a CNB radicalizando na defesa de sua permanência no cargo apesar de ele estar sendo investigado como suposto operador da arrecadação de recursos para o PT a partir do esquema de propinas montado na Petrobrás.
Antes da prisão, a Mensagem, liderada pelo ex-governador Tarso Genro, hesitava em levar sua moção à votação para evitar uma fratura exposta no partido. O que se tentava era convencer Vacari da conveniência política de um pedido voluntário de afastamento, enfrentando a resistência dele e de seus apoiadores. Agora, este seria de fato o melhor serviço que ele prestaria a seu partido e a si mesmo.
Tereza Cruvinel atua no jornalismo político desde 1980, com passagem por diferentes veículos. Entre 1986 e 2007, assinou a coluna “Panorama Político”, no Jornal O Globo, e foi comentarista da Globonews. Implantou a Empresa Brasil de Comunicação - EBC - e seu principal canal público, a TV Brasil, presidindo-a no período de 2007 a 2011. Encerrou o mandato e retornou ao colunismo político no Correio Braziliense (2012-2014). Atualmente, é comentarista da RedeTV e agora colunista associada ao Brasil 247.
Brasil 247
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