Simone Freire
Neste domingo, mensagens de ódio e ofensas à presidente Dilma marcaram a manifestação; O deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) esteve presente e foi aclamado
13/04/2015
Por Simone Freire,
De São Paulo (SP)
Mais uma vez a Avenida Paulista, no centro de São Paulo (SP), foi tomada por discursos controversos na tarde deste domingo (12). Das manifestações de indignação e insatisfação "contra todos e tudo o que está aí na política", às selfies com policiais militares e pedidos de impeachment e intervenção militar, o tom do encontro, apesar da aparência de tranquilidade, foi marcado por discursos de ódio.
As bandeiras e comportamentos mantiveram o caráter conservador da primeira manifestação, realizada em 15 de março. Representantes de movimentos foram às ruas em defesa da extinção da idade penal, da revogação do Estatuto do Desarmamento, além do impeachment da presidenta Dilma Rousseff e a saída do PT do poder. Muitos cartazes também elogiavam a atuação do juiz federal Sérgio Moro, que está à frente da Operação Lava Jato, e pediam a criação de uma CPI do BNDES.
Ao menos oito carros de som estavam distribuídos na avenida. Segundo a Polícia Militar (PM), a manifestação reuniu 275 mil pessoas por volta das 16 horas. Já o Instituto Datafolha estimou que eram cerca de 100 mil. No entanto, ao longo do dia grupos como Vem Pra Rua e o Revoltados Online insistiram que mais de 600 mil participaram do ato na Paulista. Em 15 de março, a PM havia estipulado a presença de 1 milhão de manifestantes nas ruas, enquanto o Datafolha anunciou 210 mil.
Mesmo com um número menor de pessoas nas ruas nesta segunda manifestação, o ódio e manifestações de preconceito foram herdados do primeiro protesto. Centenas gritavam ofensas e palavrões à presidenta Dilma Rousseff e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Entre eles, o músico Nando Moura, que, acima do carro de som do recém criado Movimento Civil XV de Março, convidou todos a xingarem a presidenta: "Ei Dilma, vai tomar no c*".
As manifestações de raiva também vieram por parte do Movimento Brasil Livre (MBL) que, em vários momentos da tarde, frisaram que nenhuma proposta de governo iria fazer com que o movimento desistisse de pedir o impeachment de Dilma: "A gente está aqui para derrubar a presidente", disseram.
Ao subir no carro de som, localizado entre as estações Consolação e Trianon-Masp do metrô, um de seus coordenadores, Kim Kataguiri, também chamou diversas vezes o ex-presidente Lula de "vagabundo" e fez apologia ao crime dizendo que o MBL deveria dar "um tiro na cabeça do PT".
1964 de volta?
Distante poucas quadras do carro de som do MBL se concentraram os carros de movimentos que pediam a saída de Dilma do governo através de uma “intervenção militar”. Entre eles, o carro do movimento SOS Forças Armadas, onde já no fim da tarde, pouco antes da manifestação se dispersar, o representante da ala política da extrema direita, o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ), teve seu momento de celebridade.
Conhecido por atacar direitos humanos e por suas posições machistas, o deputado criou um pequeno tulmuto ao lado do carro quando foi assediado por dezenas que manifestantes. Diferentemente das suas aparições em público quando o assunto é direitos humanos, o deputado estava aparentemente calmo, tirou selfie com fãs e foi chamado de "presidente" por alguns deles.
Em outro carro de som do movimento que defende a volta da ditadura como única solução para o país, o microfone ficou disponível para quem passava pela rua. "Nós não temos medo do exército vermelho do Stédile que o Lula disse que convocaria", disse um dos presentes.
Os cartazes próximos aos carros mantinham o mesmo teor de defesa das Forças Armadas. Um deles elogiava a atação da polícia militar no país. "Obrigado, Polícia Militar. Vocês são os anjos da guarda da sociedade. Nossos heróis anônimos".
Contra tudo que está aí
Questionados sobre os motivos de irem às ruas neste domingo, os entrevistados pela reportagem deram respostas semelhantes. Para eles, o país não avançou nos anos em que o PT governou. A empresária Magda Umgarti participou da manifestação no mês passado e voltou à Paulista para protestar. "Eu acho que todo mundo está com saco cheio de tudo", disse.
O profissional de tecnologia da informação, Marco Antonio Varanda, também disse ter ido às ruas para protestar contra o PT. "Seja qual for o partido que estiver no poder, que não seja o PT", disse. Questionado sobre o recente PL das Terceirizações, que retira direito dos trabalhadores e foi aprovada na Câmara dos Deputados sem o apoio do PT, único partido ao lado de Psol e PC do B que votou contra a proposta, Varanda foi ambíguo. "A terceirização tem que ser discutida mais com a sociedade. Tem que ver como vão ser arrecadados os impostos do terceiro e como vai ficar a CLT. A tendência é o governo ou alguém arrecadar muito dinheiro com isso. Então tem que deixar os trabalhadores, sejam terceirizados ou CLT, trabalharem para as empresas e ser menos penalizados com os impostos, seja qual for a forma", disse.
Sobre se o impeachment da presidenta Dilma solucionaria ou não os problemas do Brasil, a professora Ana Pererríssimo Vie, disse não saber, mas que "o PT saindo é uma grande coisa. É tudo!".
Brasil de Fato
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