11 de abril de 2015 | 11:46 Autor: Miguel do Rosário
Reproduzo abaixo um certeiro editorial do Brasil de Fato.
A Vênus platinada e seu ovo de serpente
Privilegiadíssima pelo oligopólio midiático que lidera – e encorajada pelo acovardamento do partido que governa o país – a Rede Globo choca seus ovos de serpente
Editorial da edição 631 do Jornal Brasil de Fato (Via Viomundo).
Em 2010, quando Maria Judith Brito, então presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ) e executiva do grupo Folha de S. Paulo, anunciou que a imprensa deveria assumir, de fato, “a posição oposicionista deste país, já que a oposição está profundamente fragilizada”, escancarou o ovo de serpente que estava sendo chocado.
O filme “O ovo da serpente”, do sueco Ingmar Bergman, produzido em 1977, retratou a Alemanha dos anos pós Primeira Guerra Mundial, e captou com magistral sutileza uma sociedade à beira do caos econômico e político, onde já era possível vislumbrar o réptil que estava sendo gerado: o nazismo.
Muitas das faixas carregadas na avenida Paulista, na manifestação do dia 15 de março, se devem à essa partidarização da mídia brasileira. Sem as amarras da legislação que regem os partidos políticos, a mídia se sentiu livre para criminalizar a política, de modo geral, e, especificamente, destilar seu ódio de classe contra o partido que venceu as últimas quatro eleições presidenciais, o PT.
Até poucos anos atrás, era impensável imaginar que os setores retrógrados, minoritários e que sempre existiram, se atreveriam ir às ruas carregando faixas com a suástica nazista ou pedindo a volta da ditadura militar. Sentiram-se encorajados e incentivados por um único motivo: também fazem oposição ao atual governo federal.
Não se esconde mais a baba de ódio e de preconceito desses grupos fascistas. Os alvos preferidos são os esquerdistas, comunistas, os negros, os nordestinos, os petralhas, gayzistas, feministas, bolivarianos, chavistas etc.
São alvos por causa da sua militância política e pela sua posição social, gênero e/ou raça.
Ver o senador tucano Aluísio Nunes, de honroso passado de lutas contra a ditadura militar, dizer com mórbido prazer que quer sangrar a presidenta da República é algo estarrecedor.
Talvez, ele, com sua face crispada de ódio, sintetize o melhor retrato da transformação que vem ocorrendo em nossa sociedade.
Privilegiadíssima pelo oligopólio midiático que lidera – e encorajada pelo acovardamento do partido que governa o país – a Rede Globo choca seus ovos de serpente.
Haverá a história de elucidar quem segurava a faca no pescoço do STF, durante o julgamento da Ação Penal 470 – o mensalão petista –, denúncia feita por um dos ministros do próprio Supremo.
A espetacularização midiática daquele julgamento assegurou o resultado desejado e anunciado insistentemente pela mídia, às custas de que a verdade é uma quimera.
É vergonhosa, e cada vez mais escancarada, a forma como mídia partidariza o seu jornalismo.
Escândalos nos governos aliados aos seus interesses, principalmente dos tucanos, não são noticias.
A conta-gotas se noticia a corrupção existente no transporte público de trens em São Paulo, governado há duas décadas pelo PSDB.
Sobre o governo de Aécio Neves, em Minas Gerais, só há espaços para elogios e para enaltecer seu “choque de administração”.
Veremos como será noticiado/ocultado a radiografia das finanças do Estado, feita nesses primeiros 100 dias de governo petista em Minas.
Deverá receber tanto destaque quanto recebeu o helicóptero apreendido com 450 quilos de pasta de cocaína, pertencente (o helicóptero!!) ao senador amigo e aliado político do senador Aécio Neves.
O mensalão tucano, devolvido à primeira instância do poder Judiciário – direito negado aos petistas – espera apenas, tudo indica, prescrever e deixar impunes tucanos gordos e vivos.
As vezes que aparece o nome do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em denúncias que possam ligá-lo aos casos de corrupção, há sempre a sutil observação de editores atentos: podemos tirar, se achar melhor.
Há que se reconhecer, no entanto, que esse zelo que a mídia tem pela imagem de alguns partidos não se restringe aos tucanos.
O senador Agripino Maia (DEM/RN), desfila alegremente nas passeatas como paladino da ética na politica e na luta contra a corrupção, mesmo acusado pelo Procurador Geral da Republica, Rodrigo Janot, de cobrar propinas para permitir um esquema de corrupção no serviço de inspeção veicular, no seu Estado.
E Demóstenes Torres, ex-senador e procurador de Justiça acusou o senador Ronaldo Caiado (DEM/GO) de roubar, mentir e trair, ter campanhas eleitorais financiadas pelo contraventor Carlos Cachoeira e de passar férias na Bahia às custas da empresa OAS.
Virou mais uma não-notícia, na mídia partidarizada.
Não bastasse a corrupção partidária em suas fileiras, a mídia agora precisa não noticiar as milionárias contas bancárias mantidas no HSBC, na Suíça e a bilionária sonegação e impostos, desbaratada pela Policia Federal, na Operação Zelotes.
No primeiro caso aparece até mesmo a viúva de Roberto Marinho, Lyly de Carvalho. Integrantes da família Saad, donos da Rede Bandeirantes, também estão lá, juntamente com os da Rádio Jovem Pan. Não é ilegal ter uma conta bancária no exterior, desde que declarada à Receita Federal.
Na operação Zelotes, está lá a RBS, umas das principais afiliadas da Rede Globo.
Começam a ser tantos os fatos não noticiados que será necessário aumentar o tempo das novelas.
Tijolaço
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