quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

A estranha reação do STF, por Guilherme Scalzilli




QUA, 02/12/2015 - 18:47


Por Guilherme Scalzilli

Publicado no Brasil 247

O debate sobre as flagrantes inconstitucionalidades que marcaram o encarceramento do senador Delcídio Amaral está deixando passar a grande questão do episódio: por que prender o indivíduo agora? Por que não processá-lo nos ritos normais, que acabariam inevitavelmente arruinando sua carreira política e seu apoio no Congresso?

A tese de “obstrução da Justiça” é ridícula. Ora, depois que o Judiciário conheceu o teor das gravações, a chance das tramóias vingarem desintegrou-se. Réu nenhum conseguiria fugir. Além disso, do ponto de vista estratégico, seria mais inteligente acompanhar as manobras de Amaral, apanhando todos os envolvidos no auge da ação criminosa.

Então repito: por que interromper um conluio fadado ao fracasso, diminuindo assim o alcance das investigações? Que tipo de malefício Amaral poderia causar conspirando à toa, sob a fiscalização atenta das autoridades?

Isento e probo como é, o STF não precisa temer ilações maldosas. Com o apoio da imprensa, os ministros citados já tiveram inúmeras oportunidades para afastar qualquer suspeita incômoda. A prudência legalista inclusive traria benefícios à imagem da corte, manchada exatamente pelo partidarismo intempestivo dos tempos de Joaquim Barbosa.

Tudo isso apenas reforça a certeza de haver um esforço na cúpula do Judiciário para evitar que as apurações em curso ultrapassem certos limites. Os elos de Amaral e do banqueiro André Esteves com o PSDB, de resto notórios, ganharam menções bastante constrangedoras nos diálogos que arruinaram o senador.

Amaral e Esteves trazem consigo a Petrobrás dos anos FHC, um nebuloso parente de José Serra, a Alstom da máfia metroviária paulista e as viagens de Aécio Neves. Sem contar Renan Calheiros, Michel Temer e os ministros do STF mencionados. É fácil imaginar o estrago que causariam algumas horas a mais de conversas grampeadas.

Alguém parece ter decidido recolher o falastrão antes que o caldo entornasse de vez.


Jornal GGN

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