POR FERNANDO BRITO · 27/06/2016
Recebi, esta semana, de um amigo que advoga por mim, os cálculos de uma indenização de dano moral.
Em 1990, fui indiciado por estelionato num processo judicial.
O motivo? Um talonário de cheques, furtado de dentro do banco que acompanhado de uma falsa cédula de identidade, usado como se fosse meu.
26 anos depois, ao que parece, vou receber a indenização por dano moral, se é que terminará o processo de uma existência.
Nada pagaria e nada pagará ter entrado numa delegacia e quase ser preso por reagir a um “senta aí, ô 171″
Nada pagaria e nada pagará eu ter de escrever numa folha de papel para que a perícia visse que aquela não era minha letra, embora houvesse um documento dizendo que o talonário fora roubado dentro do próprio banco.
Tudo isso é muito pouco, pequeno, um quase nada, perto do que está sendo feito com pessoas que conheço e que vi se portarem com dignidade, sempre, neste convívio.
Por muito, muito menos, sei como dói e mesmo assim não sei avaliar o que estão sofrendo pessoas expostas à execração pública sem provas.
Por isso, não seria digno de minha própria história se não abrisse este pequeno espaço para a defesa da senadora Gleisi Hoffmann, feita hoje no Senado.
Não tenho simpatias políticas por seu marido, Paulo Bernardo, que foi criticado aqui inúmeras vezes pela sua resistência em levar adiante a proposta de regulação de mídia.
Não há, porém, o que justifique uma operação de guerra contra alguém com endereço certo, sabido, ao alcançe de uma simples intimação judicial.
Quase 60 anos de vida me fazem capaz de, ao menos, avaliar a reação das pessoas.
A Gleisi Hoffmann serena, dolorida e, não obstante, equilibrada, revela uma mulher de bem.
Não apela para o foro privilegiado, contra a ofensa que representa a invasão da casa de uma senadora.
Protesta contra a ofensa que seria ofensa a qualquer cidadão, a qualquer família.
Merece ser ouvida, como qualquer pessoa merece e parece que se tornou fora de moda.
Mas há uma frase, no final de sua fala, que me tocou:
-Preciso mesmo de Justiça.
Todos precisamos.
Não de um Judiciário que acha que a brutalidade deva ser a regra.
Desculpem o desabafo, assistam a fala de Gleisi.
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