20 de Junho de 2016
Por Alex Solnik
Não é fácil abandonar a mansão da presidência da Câmara dos Deputados e a mordomia estimada em mais de 500 mil reais por mês e o poder inerente ao cargo, mas se quiser preservar seu mandato, a sua liberdade de ir e vir e a sua fortuna, Eduardo Cunha terá que renunciar.
É a concessão que teve de fazer dentro de um acordo costurado por Temer, que não consegue governar com a bagunça que virou a Câmara e que será o principal prejudicado se Cunha for cassado e, em consequência, preso na Operação Lava Jato e virar delator premiado.
Dada a sua importância no cenário político, onde é um protagonista de peso, somente uma delação robusta, implicando outros protagonistas, poderá livrá-lo da humilhação de ficar atrás das grades, com todo o desconforto que isso proporciona.
Não há dúvida que Temer está mais preocupado com a votação de Cunha na Câmara do que com a do impeachment no Senado, pois o conteúdo de sua provável delação poderá implicar na perda de ministros, da sua governabilidade e até no fim prematuro do seu governo.
Mas somente a renúncia não seria o bastante para Temer colocar Eliseu Padilha em campo atrás de votos para Cunha.
Ele teve também de abrir mão de fazer seu sucessor, condição exigida pelo PSDB para continuar apoiando o governo Temer e ajudá-lo a preservar o mandato de Cunha.
De acordo com esse roteiro, os tucanos têm tudo para eleger o próximo presidente da Câmara, em parceria com o PT, alijando a tropa de Cunha do poder. Na atual conjuntura, o presidente da Câmara é o primeiro na linha de sucessão de Temer, que não tem vice. Qualquer coisa que aconteça com ele, o PSDB poderá chegar à tão sonhada presidência da República.
Manter Cunha longe de Curitiba é o principal objetivo de Temer nesse momento. Não só por gratidão, pois Cunha foi imprescindível para levá-lo ao poder, mas por medo do que poderá acontecer.
No entanto, se Temer está nas mãos de Cunha, Cunha também está nas de Temer.
Nem o governo Temer resiste a uma delação premiada de Cunha, nem Cunha evita a prisão se Temer não se empenhar por ele, colocando à disposição dos senhores deputados tudo o que a máquina de governo pode oferecer para desencorajá-los a destruir Cunha.
Para início de conversa, Cunha tem a seu lado os tais "151 deputados" que ele poderia denunciar. Claro que, para se salvarem, eles precisam, antes, salvar Cunha.
Além deles, há, no entanto, (se o número for esse mesmo) 362 votos em disputa, 257 dos quais bastam para cassar Cunha. Convencer 106 deputados a apoiarem Cunha é a missão (quase impossível) de Padilha, pois a opinião pública não vai perdoá-los, se descobrir quem são.
Nada indica que, se não for cassado Cunha receberá anistia do STF, que o afastou da presidência e do mandato por tempo indeterminado, mas, mesmo se continuar afastado, como pato manco, em casa, não correrá o risco de ser preso até 2018, pois o STF não manda prender parlamentares a não ser em flagrante e os crimes de Cunha, até onde se sabe, estão no passado pretérito.
Desse modo, aguentando-se até à próxima eleição, poderá se candidatar de novo e, graças à sua eficiente máquina eleitoral (e aos votos de cabresto que tem, ao que parece, na Baixada Fluminense e junto ao eleitorado evangélico) poderá se reeleger e assim continuar protegido pelo foro privilegiado do STF, onde os processos tendem a se arrastar ad infinitum.
A vantagem para Cunha, além disso, é que, ao renunciar e se recolher à sua caverna dourada ele sai dos holofotes da imprensa, podendo desfrutar de um saudável quase anonimato, o que favorece negociações de bastidores.
Não se sabe se a sua renúncia será suficiente para aplacar o ódio que os brasileiros nutrem em relação a ele, mas ele não tem outra escolha.
Ou renuncia já ou faz as malas para Curitiba.
Brasil 247
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