Postado em 21 Jun 2016
por : Mauro Donato
A “prisão” de Sérgio Machado
A foto que ilustra este artigo é da ‘cela’ de Sérgio Machado.
O ex-presidente da Transpetro foi condenado a 3 anos, mas por suas delações – nas quais entregou todo mundo e mais alguém – não irá cumprir um dia sequer atrás das grades. A pena será cumprida em sua mansão na Praia do Futuro, no Ceará, e ele terá que se contentar com piscina, quadra esportiva, churrasco, cerveja e demais sacrifícios. Dos 3 anos da pena sentenciada, terá que cumprir 2 anos e 3 meses naquela masmorra e depois poderá sair de casa pois a progressão prevê o semiaberto nos nove meses finais.
Sérgio Machado é aquela figura que faz afirmações como “dei R$ 32 milhões para um, R$ 18 milhões pra outro”, com uma naturalidade digna de quem discorre sobre trocados. Confessou ter desviado R$ 100 milhões e concordou com uma multa de R$ 75 milhões. Se tem isso para pagar de multa, quanto não teria acumulado?
Também nesta segunda-feira (20) a doleira Nelma Kodama, amante de Alberto Youssef, deixou a cadeia após firmar acordo de delação. Poderá curtir seu lar muito antes dos 18 anos aos quais tinha sido condenada por evasão de divisas, corrupção, lavagem de dinheiro. Ficou detida por 2 anos e 3 meses. Nelma foi pega com 200 mil dólares na calcinha mas cumpriu pouco mais de 12% do tempo atrás das grades.
Da mesma forma sua assistente, Iara Galdino, foi premiada por suas delações e já está em casa há duas semanas. “Prisão domiciliar”.
Em idêntica e humilhante situação está Pedro Barusco, ex-gerente da Petrobras. De castigo em sua mansão em Angra dos Reis.
Já Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, está sofrendo num condomínio de luxo na região serrana do Rio.
Diga, leitor, o crime compensa ou não? Você se dedica a falcatruas e roubalheiras, constrói um império e, se for pego, irá cumprir pena no castelo que ergueu com o dinheiro alheio. Basta fechar um acordo de deduragem. Se fizer tudo direitinho ainda pode sair com a imagem de patriota.
As delações, sim, as delações. São elas que têm proporcionado toda essa mamata. Um intrumento jurídico válido e útil mas que ganhou tantas deformações por interesses políticos com seus vazamentos obedecendo a cronologia ideal que se tornaram uma chave de cadeia às avessas. Como será que a história irá se referir a este período em que criminosos deitam e rolam e depois basta caguetarem os outros e pronto?
Mas que fique claro, para valer a pena tem que ser coisa grande. Esse negócio de roubar 1 kilo de arroz no supermercado para dar de comer aos filhos dá uma cana braba, sem perdão. Por participar de protestos contra esse descalabro, em 2013 Rafael Braga foi preso e condenado a 4 anos e oito meses. O morador de rua portava uma garrafa de Pinho Sol e passou mais tempo na cadeia que Nelma Kodama, a mulher da calcinha de 200 mil euros.
A desigualdade é praticada em diversas esferas, judiciário incluso, quando há uma concentração tão gritante de poder e dinheiro nas mãos de poucos. Segundo uma lista da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, órgão ligado à AGU, as 135 pessoas físicas e empresas que mais devem impostos no país somam, juntas, uma dívida de R$ 272,1 bilhões. A sonegação de míseros 135 vigaristas serviria para cobrir o defict fiscal deste ano que é de R$ 100 bilhões e ainda daria R$ 172 bi de troco.
Um Estado que fecha os olhos para isso e ainda afaga grandes tubarões não fomenta justiça social nem de distribuição de renda. Como uma empresa como a Oi chega a uma dívida de R$ 65,4 bi e continua a funcionar? Ninguém percebeu que um abismo estava sendo cavado? O leitor que deixar de pagar por 3 meses a conta da luz ou da água ou do telefone sabe o que acontece, não sabe?
No Brasil, o crime grande compensa. O pequeno irá pagar caro. Esse é recado passado pelo Estado que degrada serviços públicos para agraciar empresários. E para quem alertar que o milionário Marcelo Odebrecht permanece preso, é preciso lembrar que ele ainda não abriu o bico. Gostou da cela ou está vendendo bem caro a delação?
Sobre o AutorJornalista, escritor e fotógrafo nascido em São Paulo.
Diário do Centro do Mundo - DCM
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