segunda-feira, 1 de maio de 2017

Morreu Belchior, um amigo, um cantor da liberdade


Nos últimos anos recebi alguns telefonemas de Edna, mulher do Belchior. Às vezes passava o telefone para ele, mas era ela quase sempre quem falava. Contava histórias que me pareciam meio cifradas, incompreensíveis. Eu ficava sem saber se era uma piração ou história real que não podia ser revelada por telefone.

Por Fernando Morais em 30 de abril às 13h25


Morreu ontem, aos 70 anos, na cidade gaúcha de Santa Cruz, o cantor e compositor cearense Belchior. Celebrizado nos anos setenta pelo sucesso de canções como “Mucuripe”, “Como Nossos Pais” e “Velha Roupa Colorida”. Belchior encerrou subitamente sua carreira nos últimos anos e sumiu. Dado como desaparecido, foi visto com sua mulher ora em cidades uruguaias, ora no interior do Rio Grande do Sul.

No auge da luta pela redemocratização do Brasil, nos anos oitenta, nós nos tornamos amigos. Belchior foi um ativo participante de shows e atos pelo fim da ditadura militar e pelas eleições diretas para presidente da República. Nunca cobrava um tostão, nem mesmo as passagens de avião e estadias em hotéis.

Em uma de suas vindas a São Paulo, manifestou o desejo de conhecer pessoalmente o então governador Franco Montoro, que o recebeu em uma longa audiência no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista (foto).

Nos últimos anos recebi alguns telefonemas de Edna, mulher do Belchior. Às vezes passava o telefone para ele, mas era ela quase sempre quem falava. Contava histórias que me pareciam meio cifradas, incompreensíveis. Eu ficava sem saber se era uma piração ou história real que não podia ser revelada por telefone. Nunca me disseram exatamente onde estavam (as referências eram apenas a “Uruguai” ou “interior do Rio Grande”) nem deixavam algum telefone ou e-mail para que eu pudesse me comunicar com eles. Há uns dois anos, acho, pararam de ligar.

Sua biografia está resumida neste verbete da Wikipedia:

Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes, conhecido simplesmente como Belchior (Sobral, 26 de outubro de 1946 – Santa Cruz do Sul, 29 de abril de 2017), foi um cantor e compositor brasileiro. Foi um dos primeiros cantores de MPB do nordeste brasileiro a fazer sucesso nacional, em meados da década de 1970.

Carreira
Durante sua infância, no Ceará, foi cantador de feira e poeta repentista. Estudou música coral e piano com Acácio Halley. Seu pai tocava flauta e saxofone e sua mãe cantava em coro de igreja. Tinha tios poetas e boêmios. Ainda criança, recebeu influência dos cantores do rádio Ângela Maria, Cauby Peixoto e Nora Ney. Foi programador de rádio em Sobral. Em 1962, mudou-se para Fortaleza, onde estudou Filosofia e Humanidades. Começou a estudar Medicina, mas abandonou o curso no quarto ano, em 1971, para dedicar-se à carreira artística. Ligou-se a um grupo de jovens compositores e músicos, como Fagner, Ednardo, Rodger Rogério, Teti, Cirino entre outros, conhecidos como o Pessoal do Ceará[1].
De 1965 a 1970 apresentou-se em festivais de música no Nordeste. Em 1971, quando se mudou para o Rio de Janeiro, venceu o IV Festival Universitário da MPB, com a canção Na Hora do Almoço, cantada por Jorge Melo e Jorge Teles, com a qual estreou como cantor em disco, um compacto da etiqueta Copacabana. Em São Paulo, para onde se mudou, compôs canções para alguns filmes de curta metragem, continuando a trabalhar individualmente e às vezes com o grupo do Ceará.
Em 1972 Elis Regina gravou sua composição Mucuripe (com Fagner). Atuando em escolas, teatros, hospitais, penitenciárias, fábricas e televisão, gravou seu primeiro LP em 1974, na gravadora Chantecler. O segundo, Alucinação (Polygram, 1976), consolidou sua carreira, lançando canções de sucesso como Velha roupa colorida, Como nossos pais, que depois foram regravadas por Elis Regina e Apenas um rapaz latino-americano. Outros êxitos incluem Paralelas (lançada por Vanusa) e Galos, noites e quintais (regravada por Jair Rodrigues). Em 1979 no LP Era uma Vez um Homem e Seu Tempo (Warner) gravou Comentário a respeito de John (homenagem a John Lennon), também gravada pela cantora Bianca. Em 1983 fundou sua própria produtora e gravadora, Paraíso Discos, e em 1997 tornou-se sócio do selo Camerati. Sua discografia inclui Um show – dez anos de sucesso (1986, Continental) e Vício elegante (1996, GPA/Velas), com regravações de sucessos de outros compositores.

Polêmicas

Em 2005, Belchior abandonou a então mulher Ângela para passar a viver com a Edna Prometheu depois de conhecê-la no ateliê do amigo comum Aldemir Martins. Posteriormente Belchior deixou de fazer shows e abandonado inclusive bens pessoais. Atualmente vem enfrentando processos judiciais relacionados a pensões alimentícias de duas filhas e um processo trabalhista. Por causa desses processos Belchior teve contas bancárias bloqueadas e por isso está impedido de retirar o dinheiro relativo aos direitos de suas músicas. O cantor se encontra em Porto Alegre, tendo morado em hotéis, casas de fãs e mesmo em uma instituição de caridade.[2]

Em 2009 a Rede Globo noticiou um suposto desaparecimento do cantor. Segundo a emissora, o cantor havia sido visto pela última vez em abril de 2009, ao participar de um show do cantor tropicalista baiano Tom Zé, realizado em Brasília.[3] Turistas brasileiros afirmam terem-no encontrado no Uruguai em julho do mesmo ano[4]. As suspeitas foram confirmadas quando Belchior foi encontrado no Uruguai, de onde concedeu entrevista para o programa Fantástico, da Rede Globo[5]. Na entrevista, o cantor revelou não haver desaparecido e estar preparando, além de um disco de canções inéditas, o lançamento de todas as suas canções também em espanhol.
No ano de 2012 ele novamente desapareceu, juntamente com a sua mulher, de um hotel 4 estrelas na cidade de Artigas, no Uruguai. Deixou para trás uma dívida de diárias e pertences pessoais.[6] Ao ser identificado passeando por Porto Alegre afirmou que as noticias sobre a dívida no Uruguai não seriam verdadeiras.[7]

Discografia
• 1971 – Na Hora do Almoço (Copacabana – Compacto)
• 1973 – Sorry, Baby (Copacabana – Compacto)
• 1974 – Mote e Glosa (Continental – LP/K7)
• 1976 – Alucinação (Polygram – LP/CD/K7)
• 1977 – Coração Selvagem (Warner – LP/CD/K7)
• 1978 – Todos os Sentidos (Warner – LP/CD/K7)
• 1979 – Era uma Vez um Homem e Seu Tempo (Warner – LP/CD/K7)
• 1980 – Objeto Direto (Warner – LP)
• 1982 – Paraíso (Warner – LP)
• 1984 – Cenas do Próximo Capítulo (Paraíso/Odeon – LP)
• 1986 – Um Show: 10 Anos de Sucesso (Continental – LP)
• 1987 – Melodrama (Polygram – LP/K7)
• 1988 – Elogio da Loucura (Polygram – LP/K7)
• 1990 – Projeto Fanzine (Polygram – LP/K7)
• 1991 – Divina Comédia Humana (MoviePlay – CD)
• 1991 – Acústico (Arlequim Discos – CD)
• 1993 – Baihuno (MoviePlay – CD)
• 1995 – Um Concerto Bárbaro – Acústico Ao vivo (Universal Music – CD)
• 1996 – Vício Elegante (Paraíso/GPA/Velas – CD)
• 1999 – Autorretrato (BMG – CD)
• 2002 – Pessoal do Ceará (Continental / Warner – CD)
• 2008 – Sempre (Som Livre – CD)


Nocaute

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