por Redação — publicado 02/06/2017 10h21, última modificação 02/06/2017 11h21
Lula pede diálogo amplo do partido com a sociedade e a apresentação de alternativas de desenvolvimento ao País
Fotos: Lula Marques / Agência PT
Lula e Dilma na reunião do PT: oficialmente, partido defende eleições diretas
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O Partido dos Trabalhadores abriu na noite de quinta-feira 1º, em Brasília, seu 6º Congresso Nacional mostrando o tom aguerrido que o partido desenvolveu ao longo de décadas. Houve espaço para homenagens ao ex-ministro José Dirceu e ao ex-tesoureiro do partido João Vaccari Neto, ambos condenados na Operação Lava Jato, e para a defesa das eleições diretas para a Presidência da República, uma vez que parece certa a queda de Michel Temer.
O presidente do PT, Rui Falcão, cujo mandato se encerra neste sábado 3, buscou homenagear os militantes do partido, duramente pressionado nos últimos anos pelas denúncias de corrupção oriundas da Operação Lava Jato. Falcão saudou integrantes Comissão Executiva Nacional e do Diretório Nacional do PT que “cumpriram tarefas no período mais difícil que o PT enfrentou desde a sua fundação”.
Em frente a um painel com a imagem de Vaccari, Falcão fez um tributo a ele e a José Dirceu. “Solidariedade aos nossos companheiros que estão sendo perseguidos e condenados injustamente, João Vaccari e José Dirceu, heróis do povo brasileiro”, afirmou. O ex-ministro Antonio Palocci, outro petista histórico, não foi citado. Ao que consta, Palocci está negociando um acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal.
Vaccari e Dirceu estão nas mãos do juiz Sérgio Moro, responsável pela Lava Jato na 13ª Vara Federal em Curitiba. O ex-ministro tem duas condenações por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa que somam 31 anos de prisão. Vaccari tem quatro condenações, totalizando 41 anos de detenção. Os recursos de ambos aguardam julgamento no Tribunal Regional Federal da 4ª Região, o TRF-4, sediado em Porto Alegre.
Falcão, com imagem de Vaccari ao fundo. Homenagens a Dirceu e Vaccari. Silêncio sobre Palocci
Falcão afirmou que o Brasil vive momentos de exceção e disse ser necessário construir uma hegemonia na sociedade, abandonando a necessidade de realizar um governo de coalizão. Para ele, o Congresso deve ser concluído com a definição de não apoiar as eleições indiretas em nenhuma situação. “Faço a defesa não só das Diretas Já, mas do compromisso de que nenhum petista vá ao colégio eleitoral”, disse, em referência à eventual escolha do substituto de Temer por uma eleição indireta. “Não aceitamos que a solução da elite venha nova vez por cima. Este governo tem que sair do voto popular porque o povo é soberano”, afirmou.
Falcão também defendeu a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pediu a criação de um programa que englobe reformas estruturais, como a democratização da mídia, a reforma agrária e a reforma tributária.
Dilma rejeita "presidente biônico"
A ex-presidenta Dilma Rousseff também rejeitou a possibilidade de eleições indiretas escolherem o substituto de Temer. “Vergonha não é perder eleição. É perder e ganhar no tapetão. Querem eleger um presidente biônico… Só eleições diretas podem devolver a democracia ao povo brasileiro”, afirmou.
Dilma denunciou sua derrubada como um complô entre "a oligarquia brasileira", a mídia e segmentos empresariais e financeiros que "se articularam para implantar o modelo que as urnas não reconheceram como sendo aquele que o povo brasileiro queria”, afirmou.
Segundo ela, Lula é alvo de perseguição jurídica e midiática que busca inviabilizar sua candidatura. “Estamos vendo avanço de medidas de exceção ocorrendo sistematicamente. Precisamos da legitimidade que só o voto direto dá. É diretas por uma questão de sobrevivência do País”, afirmou.
Críticas ao governo Temer marcam o congresso do PT
“Nós sabemos que todo cidadão brasileiro tem direito de ser candidato. O que nós queremos é que não inviabilizem nosso ex-presidente Lula em qualquer processo eleitoral. Não estou dizendo que é garantida a vitória, mas, sim, [que é preciso] garantir o direito de qualquer cidadão competir. Se tiver diretas, Lula é meu candidato”, afirmou.
Lula pede diálogo entre o PT e a sociedade
O ex-presidente Lula denunciou os retrocessos sociais promovidos pelo governo de Michel Temer e por sua base de apoio na Câmara e no Senado e conclamou o partido a dialogar mais abertamente com o restante da sociedade brasileira. "Não falem para vocês mesmos, falem para os milhões de brasileiros que não estão aqui e que precisam que o PT tome as decisões mais corretas e coerentes para voltar a despertar a esperança nesse povo”, disse.
Segundo Lula, o partido precisa desenvolver a capacidade "de falar com mulheres e homens deste país, que estão esperando de nós um gesto, uma palavra e uma atitude para restabelecer sua autoestima”.
Para Lula, o congresso do partido deve definir políticas para grupos vulneráveis, como indígenas, quilombolas, para os movimentos negro e LGBT e para as mulheres. "O preconceito não é nosso, o ódio não vem de baixo, o ódio vem de cima porque eles não querem que a gente suba nem um degrau na escala social", afirmou Lula. "Agora eles não querem nem que a gente ganhe salário no campo, querem que a gente trabalhe a troco da comida", disse, em referência ao projeto de reforma trabalhista rural defendido pela base de Temer.
Lula insistiu para que o partido desenvolva um novo programa consistente. "Tem que sair [do congresso] um programa que a gente possa ler em cada porta de fábrica, em cada porta de loja, em cada repartição pública e dentro do parlamento, mostrando que a gente tem solução para este país. É isso que os milhões que não estão aqui esperam de nós”, afirmou.
O 6º Congresso do PT vai até domingo 3 e terá como ápice a eleição do novo presidente do partido. Ao que tudo indica, a escolha deve recair sobre a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), referendada por Lula.
Carta Capital
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