POR FERNANDO BRITO · 16/03/2018
Não são bons sinais os “vazamentos” que a investigação do assassinato de Marielle Franco e de Anderson, o motorista do carro em que viajava, está tendo para os jornais. Ou melhor, para a Rede Globo, de quem os jornais estão comendo na mão neste assunto.
Até porque, a ser verdade o que veio aos jornais – e nem sempre é, porque ontem chegou a circular um vídeo falso do crime que teria sido gravado por câmaras de segurança – tudo está a indicar de um grupo organizado e profissional e, portanto, com comando definido – e cada detalhe dá a chance de destruírem-se provas e construírem-se, com uma teia de cumplicidades, álibis e despistes.
Está nítida a corrida das autoridades de Brasília em pegarem uma “casquinha” no caso e parece evidente que foi da área federal que partiu o vazamento de que a munição foi do mesmo lote da usada numa chacina. Pode dizer algo, mas é difícil que isso seja significativo: primeiro porque qualquer um que leia o código gravado nos estojos (UZZ18) e der uma googlada vai encontrar a informação de que este lote de munição da Companhia Brasileira de Cartuchos, com 10 mil unidades, foi comprado pela Polícia Federal e mandado “para vários Estados, como Goiás, Roraima, Sergipe, além de Brasília”, como informou, em setembro de 2015, o Estadão, ao mencionar os cinco lotes de munição identificados na chacina de Osasco.
Mais de dez anos anos depois de terem sido compradas, estas balas podem estar em qualquer parte. Mas já estão sendo usadas para atingir outro objetivo: atrair a competência investigatória para a PF, além de uma tentativa de alimentar a primazia da Rede Globo, a quem a informação foi passada, com a irresponsabilidade de permitir que os criminosos, claro, “desovem” a munição deste lote eventualmente restante, eliminando provas.
Agora há pouco o Ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, disse que há “mais de 50 inquéritos ao longo dos anos por conta desta munição desviada“. Ou seja, esta pista e nada são quase a mesma coisa.
Não vai servir a ninguém precipitar-se em conclusões além da que está obvia: o crime foi praticado por gente com capacitação e organização para ações deste tipo e o alvo tinha todos “os ingredientes” para gerar a repercussão imensa que está tendo, o que pode – e apenas pode – indicar uma motivação política.
Como a apuração do crime, também, parece estar carregada dela, o que já-já vai provocar conflitos.
Tijolaço
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