Palavra de carioca: Marcelo Crivella é um péssimo prefeito, administrativamente.
Politicamente, pior ainda, porque não conseguiu – e nunca tentou – sublimar sua vinculação a Igreja Universal do Reino de Deus e tratar a cidade como um governante laico.
Convenhamos, porém: o fisiologismo nojento que ele pratica com pastores está longe de ser novidade, praticado por gente sem e com outras ligações extra-religiosas.
Mas o estado de abandono e carência da cidade vai muito além da responsabilidade de Crivella.
Nenhum outro estado da federação sofreu, como aqui, os efeitos da crise: o número de desempregados no Rio saltou de 494 mil para 1,2 milhão, ou 15% da população economicamente ativa.
Construção civil e naval foram os núcleos desta tempestade de falta de trabalho, somados á semiparalisia da Petrobras, que tem aqui a sua sede e grande parte de sua demanda de produtos e serviços.
A crise – a real e a propagandeada – da segurança pública prejudicaram enormemente: segundo o site de passagens Skyscanner, a cidade caiu da sexta para a décima posição no ranking de destinos de turismo no Brasil.
O que já seria ruim ficou catastrófico com a crise vivida ano passado pelo Governo do Estado que se refletiu na vida econômica de sua capital: numa cidade onde o funcionalismo público, por razões históricas, tem um peso imenso, atrasos e negação de pagamento de servidores arruinaram comércio e serviços.
Mas não é por isso que a Globo desenvolveu a campanha pelo impeachment de Marcelo Crivella.
Como uma facção criminosa, o império global não tolera que lhe penetrem os domínios.
Isso está longe de santificar a turma do Crivella, parte dela de elementos da mais baixa extração política.
Mas não pode ser esquecido que, há muito tempo, o demônio, no Rio, é a Globo, a cidade que a nutriu com seus talentos – os próprios e os que se atraíam para cá – e com a destruição das lideranças políticas que aqui surgiram com alguma independência em relação a ela.
A derrota de sua tentativa, hoje, de iniciar um impeachment contra Crivella, com a ajuda de quem não compreende que onde está a Globo não está o interesse público, tem a ver com tudo isso e, claro, como sempre, com verbas publicitárias e, sobretudo, com a montanha de convênios pelos quais a Prefeitura repassava recursos para a Fundação Roberto Marinho.
Portanto, é bom não esquecer que o asco que se tem a muitas atitudes de Crivella não pode tampar a visão de que a Globo cevou e quis desfechar o seu afastamento. Não dá para entrar na disputa entre o diabo e o “Coisa Ruim”: como dizia Leonel Brizola, o inferno sempre vence.
Isso nada tem a ver com aceitar a nefasta “igregização” da política, que tem rendido figuras abjetas à vida pública brasileira. Todas, aliás, ligadas ao mais medonho conservadorismo.
Grupos, que , aliás, a Globo jamais se acanhou de usar quando se tratou de derrubar o governo eleito da República.
O Rio precisa ter a maturidade de construir uma força política, como já teve, tantas vezes, para dar à cidade um governo que recupere suas tradições de tolerância e humanismo.
O resto é fazer o jogo da Globo.
Tijolaço
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