Site ligado à revista da Marginal Pinheiros classifica como "discurso do medo" a defesa que a presidente Dilma Rousseff fez de direitos trabalhistas como férias e décimo-terceiro; publicação, na verdade, faz a defesa prévia de Marina Silva que, ontem, falou em "atualizar" a CLT, seguindo conselhos do "professor Giannetti"; para a Central Única dos Trabalhadores, presidida por Vagner Freitas, a mensagem da candidata do PSB é óbvia: "Marina fala em atualizar as regras para ajudar na geração de empregos. O que isso significa? Quando os empresários falam isso eles são claros: querem diminuir direitos e ampliar lucros. Nada mais que isso", afirma; em entrevistas, o próprio "professor Giannetti" classificava a CLT como rígida e anacrônica
17 de Setembro de 2014 às 20:31
247 – Ao se comprometer com uma "atualização" da Consolidação das Leis Trabalhistas nos moldes desenhados pelo "professor Gianetti", com a supressão de direitos e conquistas laborais em troca de promessas de contratações mais fáceis (e frágeis) – como 247 destacou ontem -, a candidata do PSB, Marina Silva, despertou a imediata simpatia do grupo Abril e seu veículo de combate ideológico, a revista Veja.
Ao mesmo tempo em que dedica a capa da edição de papel desta semana a chamar de "mentiras e calúnias" fatos que nem mesmo a própria Marina desmentiu, a operação online de Veja usou boa parte do dia para divulgar que a presidente Dilma Rousseff estaria radicalizando:
- Dilma ensaia novo discurso do medo contra Marina: 'Não mexo no 13º e férias, destacou Veja.com .
Não foi Dilma, porém, quem disse a senha que, desde sempre, significa atentar conta a CLT – e, assim, ameaçar direitos antigos e conquistas atuais da classe trabalhadora. Ocorre que "atualizar a legislação trabalhista", na versão de Marina em 2014, é o mesmo que "flexibilizar a CLT", como as entidades patronais e seus economistas chamam o ato de mudar o conjunto de garantias ao trabalho existentes no Brasil. Com centenas de leis necessitando melhorias e modernizações, é sempre pela CLT que a elite empresarial gosta de iniciar o que chama de reformas.
Um candidato a presidente que, como Marina, emita a ordem de "atualizar" o rol de garantias trabalhistas representadas na Carteira de Trabalho, está, na prática, assanhando o poder econômico para jogar pesado sobre o Congresso. Uma palavra apenas, que tem em si um poder destruidor de largo alcance.
É assim, exatamente, como pensa o "professor Gianetti". Nos tempo em que dava aulas no Ibemec – Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais, Eduardo Gianetti da Fonseca, hoje o assessor econômico que mais se reúne e mais é prestigiado por Marina. Ele é antigo adversário da legislação trabalhista e, especialmente, dos empregos com carteira assinada em particular:
- O aumento dos trabalhadores com carteira assinada não deve ser comemorado, disse ele, com todas essas letras, em 2007, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo.
- É preciso uma ampla reforma no mercado de trabalho, completou ele, deixando claro pertencer ao time que considera a CLT anacrônica e ultrapassada. Uma verdadeira âncora para o desenvolvimento da economia brasileira.
Por sorte, milhões de trabalhadores com carteira assinada sabem que é diferente. Apenas neste ano, 701 mil novos empregos co carteira assinada foram criados, no Brasil, desde janeiro, gostem Marina e o "professor Gianetti" ou não. Essa base representou, na prática, a resistência do Brasil à crise internacional. Desde 2008, afinal, enquanto o mundo perdeu 60 milhões de postos de trabalho, o Brasil criou mais de 11 milhões de empregos formais.
O presidente da CUT, Vagner Freitas, considera "extremamente preocupante" a posição manifestada por Marina.
- Estamos falando em mexer nos interesses, mas sem qualquer garantia de melhorias e avanços, ao contrário, de um universo de 101 milhões de brasileiros e brasileiras aptos ao trabalho, registra Freitas.
- Deste total, 94,7 milhões trabalham e 6,26 estão desempregadas. Dos que estão trabalhando, praticamente metade são formais. Não para, de uma hora para outra, pela cabeça de um economista, mexer na CLT como se não fosse um detalhe.
Não se trata, como tentou dizer Veja, de "discurso do medo", mas de uma possibilidade real de afetar a base do sistema laboral brasileiro.
Para proteger Marina Silva das contradições políticas que ela vai produzindo, Veja vai precisar muito mais do que carimbar como "demonização" ou marcas do tipo propostas que, de fato, na vida real, afetam a vida maioria dos brasileiros. Rotular a discussão séria com ironias como "discurso do medo" é, na prática, interditar o debate – ação que Veja quase sempre fez, mas já fez melhor do que agora.
Brasil 247
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