Denúncias de que a imprensa brasileira estaria deixando de publicar informações sobre movimentações ilegais em contas de brasileiros no HSBC da Suíça e a falta de acesso a esses dados levaram o jornalista Amaury Ribeiro Jr. a deixar o quadro de profissionais que integram o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ); em troca de cartas entre o jornalista e a vice-diretora da entidade Marina Walker, publicadas pelo Último Segundo, Amaury pede acesso aos dados, mas tem seu pedido negado pelo ICIJ, que apenas o jornalista Fernando Rodrigues, do UOL, pode ter acesso às informações
26 DE FEVEREIRO DE 2015 ÀS 15:43
247 - As denúncias de que a imprensa brasileira estaria deixando de publicar informações sobre movimentações ilegais em contas de brasileiros no HSBC da Suíça e a falta de acesso a esses dados levaram o jornalista Amaury Ribeiro Jr. a deixar o quadro de profissionais que integram o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ). Lista do HSBC na Suíça revela empresas da Lava Jato em paraísos fiscais
Em troca de cartas entre o jornalista e a vice-diretora da entidade Marina Walker, publicadas pelo Último Segundo, Amaury pede acesso aos dados, mas tem seu pedido negado pelo ICIJ que diz que ele não fazia parte de um grupo menor selecionado para as investigações.
Leia a troca de cartas na íntegra:
"Querida Ms Walker:
O seu nome me foi indicado pelo amigo Rosenthal Calmon.
Meu nome é Amaury Ribeiro Jr, sou jornalista, escritor e membro do ICIJ desde a fundação da organização em 1997, na Universidade de Harvard. Estava lá na companhia de Calmon e outros amigos. Tenho me dedicado durante os 30 anos de trabalho à publicação de livros, que ajudaram a elucidar vários casos de lavagem de dinheiro.
Entre os meus livros publicados estão A privataria tucana (mais de duzentas mil cópias vendidas no Brasil) e O lado sujo do futebol (compartilhado com amigos da TV Record e traduzido para o espanhol).
Desde que o ICIJ decidiu publicar as contas de políticos na Suíça, o meu telefone não para de tocar. Ao me pedirem ajuda, os jornalistas de toda parte do Brasil dizem que o site UOL (escolhido pelo ICIJ para divulgar o caso), ao contrário do que vem ocorrendo em outros países, só tem divulgado o nome de políticos de esquerda, livrando os chamados políticos neoliberais apoiados pela grande mídia. Me comprometi, como membro do ICIJ, a tentar obter a lista.
Caso consiga com o ICIJ, me comprometi a divulgar somente as chamadas contas sujas e não declaradas ao Fisco, na íntegra, aos demais colegas da imprensa. O Brasil vive uma crise política sem precedentes, que poderá acabar para sempre com todo o esquema de corrupção que perdura há mais 50 anos. Mas, para que isso ocorra, a imprensa não deve colaborar com a manipulação de dados. Mando-lhe também, para a sede do ICIJ, os exemplares dos meus livros.
Grato,
Amaury Ribeiro Jr"
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"Amaury,
Bom ouvir de você. Tenho trabalhado para o ICIJ por quase 10 anos e penso que esta é a primeira vez que você entra em contato conosco em busca de uma reportagem.
Como você sabe, estamos trabalhando com o Fernando Rodrigues, que ainda está fazendo as reportagens. Ele vai publicar outras delas brevemente. Não sei no que você baseou sua afirmação de que Fernando está escondendo o nome de políticos neoliberais. Você viu os dados para fazer tal acusação tão séria contra seu colega e cointegrante do ICIJ?
Não estamos planejando abrir os dados para outras organizações de mídia do Brasil por agora. Se isso mudar, você será informado.
Obrigada,
Marina"
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"Marina,
Quem sabe talvez você, uma jornalista argentina, se interesse em conhecer o mínimo do que está acontecendo em seu país vizinho. Não estou acusando o Fernando Rodrigues, colega há mais de 30 anos, e sim a empresa em que ele trabalha (UOL). Assim como todos os grandes veículos de comunicação do Brasil, o UOL segue a cartilha neoliberal dos patrões.
A denúncia de que o UOL está escondendo as contas de políticos me foi feita por centenas de jornalistas. Eles viram meu nome na lista do ICIJ e passaram a me cobrar. Por isso eu te escrevi após conversar com o Rosenthal, que me indicou para o ICIJ.
A informação também me foi confirmada por fontes da Polícia Federal, que garantem que no HSBC está grande parte do dinheiro que foi desviado na época das privatizações. Te encaminhei a carta apenas para dar satisfação aos meus colegas do país.
Queria deixar bem claro que não estou escondendo nada de ninguém. Mas há uma maneira fácil de resolvermos o problema. Tire o meu nome da lista dos membros do ICIJ. A partir de hoje não faço mais parte da organização de jornalistas. Fico devendo a prova das contas dos ladrões neoliberais que vocês estão ajudando a esconder.
Nas contas offshore desses paraísos fiscais está amoitado o dinheiro que eles desviaram durante o processo de privatizações. Nós, jornalistas progressistas brasileiros, acostumados a tantos golpes da mídia patronal, não podíamos esperar nada de uma organização mantida pelo megassonegador George Soros.
Amaury Ribeiro Jr."
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"Amaury,
Obrigado por compartilhar suas impressões. Não concordo com elas, mas respeito. Tal como você pediu, retiraremos sua biografia do site do ICIJ e aceitamos sua renúncia como membro.
Muito obrigado,
ICIJ Deputy Director"
Brasil 247
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