Autoridades francesas já mapearam 3 mil contribuintes que esconderam fortunas no HSBC da Suíça; primeiro caso envolve Arlete Ricci, herdeira da fabricante de perfumes Nina Ricci, uma das mais consagradas da França, que escondeu US$ 22 milhões; no Brasil, com a agenda política dominada pelo chamado 'petrolão', mídia tradicional dedica pouco espaço ao escândalo Swissleaks; no entanto, o Brasil é um dos países com mais sonegadores escondidos no HSBC suíço; são pelo menos US$ 20 bilhões desviados do Brasil para os cofres helvéticos
16 de Fevereiro de 2015 às 18:39
247 - Com US$ 20 bilhões desviados para contas suíças no HSBC, o Brasil deveria ser o país mais interessado em acompanhar de perto o chamado Swissleaks, escândalo sobre as contas secretas que vazaram nos Alpes.
No entanto, com a agenda nacional dominada pelo chamado 'petrolão', pouquíssimo espaço tem sido dedicado pela mídia brasileira ao escândalo.
Na França, ao contrário, o primeiro julgamento será realizado. Envolve Arlete Ricci, herdeira da fabricante de perfumes Nina Ricci, que teria desviado US$ 22 milhões.
Leia, abaixo, reportagem da Reuters sobre o primeiro julgamento e também artigo sobre o desinteresse brasileiro pelo Swissleaks:
PARIS (Reuters) - Uma investigação da França sobre o banco do HSBC na Suíça acerca de um suposto esquema de sonegação de impostos para clientes de alta renda acabou, dando um passo em direção a um possível julgamento, disse uma fonte judicial nesta segunda-feira.
O HSBC admitiu na semana passada falhas em sua unidade suíça e enfrenta investigações por autoridades norte-americanas e um inquérito por parlamentares britânicos após relatos de que o banco ajudou clientes a esconder milhões de dólares em ativos em um período que se estende até 2007.
Magistrados franceses colocaram o HSBC Private Bank sob investigação formal em novembro. Eles deram fim aos inquéritos em 12 de fevereiro, disse a fonte, acrescentando que promotores têm três meses para solicitar que o banco vá a julgamento para responder às acusações.
A suposta fraude envolve cerca de 3 mil contribuintes franceses. Sessenta e dois casos contra clientes específicos do banco suíço já estão em andamento, de acordo com o jornal diário francês Le Monde.
Nesta segunda-feira, o julgamento por fraude tributária da herdeira da fortuna de perfumes Nina Ricci começou em Paris, uma das primeiras pessoas a ser julgada na França desde que a lista de milhares de clientes que supostamente sonegaram impostos por meio do private bank suíço do HSBC se tornou pública.
Suspeita-se que Arlette Ricci escondeu mais de 22 milhões de dólares de autoridades tributárias francesas por meio de uma conta bancária no braço suíço do HSBC. Ela é julgada por fraude tributária, lavagem de dinheiro e falência fraudulenta para evitar impostos.
Ricci, de 73 anos de idade, que nega as acusações, pode enfrentar até cinco anos na prisão e uma multa de 75 mil euros.
Uma investigação separada sobre a controladora do banco também está em andamento.
(Reportagem de Chine Labbé; Texto de Alexandria Sage)
Leia, ainda, artigo de Miguel do Rosário, sobre a participação brasileira no escândalo:
Quem são os brasileiros que guardam $20 bilhões no HSBC?
Por Miguel do Rosário
O escândalo do HSBC ou Swissleaks revela a hipocrisia abissal da nossa imprensa corporativa.
O caso traz o nome de milhares de indivíduos, muitos super-ricos, que escondiam fortunas no exterior, evitando o pagamento de impostos em seus países.
Para a nossa mídia, escândalos só tem importância se puderem ser usados como arma política para detonar o PT e o governo.
O Brasil é um dos países com maior número de pessoas envolvidas na evasão fiscal e lavagem de dinheiro proporcionadas pelo HSBC, e até agora, à diferença de diversos outros países, onde o caso domina a agenda jornalística, nossos jornais vem abafando o caso.
O único grande órgão de imprensa a manter a guarda dos nomes dos brasileiros envolvidos é o UOL, que já declarou que irá divulgar apenas se “houver interesse público”.
Em outras palavras, os nomes apenas serão divulgados se puderem ser usados para jogar lenha em algum escândalo da imprensa e incorporados a alguma narrativa midiática.
É o que fez Fernando Rodrigues, que divulgou apenas os nomes envolvidos no escândalo do HSBC que também constam no inquérito da operação Lava a Jato.
Com extraordinária submissão, Rodrigues garante que outros nomes não irão vazar, apesar de informar que, no caso do Brasil, “são 6.606 contas bancárias (que atendem a 8.667 clientes) e um valor movimentado/depositado (em 2006 e/ou 2007) de cerca de US$ 7 bilhões – o equivalente a cerca de R$ 20 bilhões, um montante próximo ao que o governo da presidente Dilma Rousseff precisa economizar em 2015 para fazer o ajuste fiscal do país.”
20 bilhões de reais!
Rodrigues admite que, na lista, há “empresários, banqueiros, artistas, esportistas, intelectuais”.
Onde estão esses nomes? Por que não revelá-los?
O caso poderia gerar a um debate sobre o crime que mais retira recursos da economia brasileira: a sonegação e a evasão fiscal.
Mas esses assuntos são evitados por nossa imprensa com um fervor religioso.
Recentemente, a organização Tax Justice divulgou duas notícias envolvendo o Brasil que foram completamente abafadas por nossa grande imprensa.
Primeiro, foi o ranking internacional dos países que mais detêm fortunas em paraísos fiscais. O Brasil está em quarto lugar, com nossos super-ricos guardando no exterior, ilegalmente, mais de R$ 1 trilhão.
Em seguida, a mesma ONG divulgou outro estudo, posicionando o Brasil em segundo lugar no ranking dos países com maior taxa de evasão fiscal do mundo, só perdendo para a Rússia. Sendo que, em valor total, o Brasil sonega 280 bilhões de dólares por ano, contra 211 bilhões da Rússia.
Em valor, o Brasil só perde para os EUA.
A evasão fiscal dos EUA foi estimada em 337 bilhões de dólares, mas isso corresponde a somente 2,3% do PIB de lá.
A nossa evasão fiscal corresponde a 13,4% do PIB!
O engraçado é que a mídia poderia, facilmente, usar essa informação para bater no governo, exigindo maior controle sobre o vazamento de nossas divisas.
Por que não o fez?
Porque essa é uma crítica que a mídia não quer fazer ao governo.
O Globo prefere (como volta a fazer hoje), naturalmente, defender o ajuste fiscal do Levy, que ao lado de corrigir algumas distorções, dá umas mordidas desnecessárias em direitos dos trabalhadores.
Imagina se o Globo vai defender que a busca do saneamento das contas públicas se dê pelo aumento de rigor sobre a evasão fiscal?
A nossa mídia prestou um silêncio obediente em relação ao escândalo de sonegação da Globo.
Foi um fenômeno incrível, mas que serviu maravilhosamente para iluminar a hipocrisia da nossa mídia.
O abafamento do escândalo revelou a existência de um cartel poderoso, encabeçado pela Globo, que exerce um controle absoluto sobre milhares de outras empresas de mídia.
Ninguém fala mal um do outro.
A nossa mídia é uma espécie de Estado Islâmico. Jornalista que foge à regra, tem sua cabeça cortada em frente às câmeras. Empresa afiliada ao cartel que divulga escândalo incômodo, perde contratos de publicidade.
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Brasil 247
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