16 de março de 2015 | 08:41 Autor: Fernando Brito
De Nílson Lage, no Facebook:
Certa vez ouvi de Leonel Brizola que a revolução cubana seria impossível no Brasil. Argumentava que Fidel Castro pôde se livrar da fração mais ativa da burguesia – algumas dezenas de milhares de pessoas -, expulsando-a para Miami, e isso seria impossível aqui. (Nota do Tijolaço: “não cabe”, explicava)
A burguesia de São Paulo – a de verdade e a pequena – é muito maior do que a cubana e foi convencida por propaganda insistente de que não tem saída senão a rua, no caso,a Avenida Paulista. Polarizada e acuada, defende, como era de se esperar, um programa protofascista, que inclui repressão e segregação da população pobre e de tudo que a faz lembrar, inclusive o governo trabalhista.
Descendentes da elite colonial do café ou oriundos de imigração relativamente recente, os formadores de opinião de São Paulo Imaginam uma vida confortável integrados na grande comunidade latino-americana com capital cultural em Miami e financeira em paraísos fiscais. O Brasil, para eles, é como uma espécie de clube social que os diferencia e uma vaca com enorme teta em que mamam, jamais uma pátria independente.
O que mobiliza os medos e ódios da massa de gente que se reuniu em São Paulo é um sistema de dominação montado ao longo de décadas em que se esmagou a cultura popular e se impôs, para substituí-la, o simulacro globalizante.
Os quadros jornalísticos foram filtrados, com a exclusão quase total do pensamento inconveniente No entanto, os meios de comunicação – a mídia globalizada – são parte da fragilização institucional do Brasil, mas não a única.
O trabalho da inteligência dos Estados Unidos que coordena a agitação com objetivos econômicos e políticos evidentes foi muito facilitado pela modernização deformante das estruturas legais e das normas jurídicas, pela formação viciada nas escolas militares e pela desorientação do ensino em todos os níveis.
A combinação desses fatores, a despolitização e a falta de informação sobre o mundo manifestam-se em teses simplistas sobre a “culpa da Dilma”, a “corrupção” ( 61 anos depois, o “mar de lama”), a ameaça comunista (a “conspiração bolivariana”),a indolência (“vivem do bolsa família”), o ódio à inteligência (“abaixo Paulo Freire”, “prisão para Karl Marx”) etc. .
É uma vitória que nenhuma violência tenha ocorrido. Um milhão de pessoas- se foram tantas – é um duzentos avos da população do Brasil, reunida em fração mínima de seu território. Mas um fagulha pode, agora, causar explosão, como já tem acontecido em outros lugares.
PS do Tijolaço. E a nossa pequeno-burguesia, aqui, com seus “ideais maiâmicos”, com seu complexo de vira-latas, dá-lhes ouvidos e faz-lhes modelo. Mesmo que seja para limpar a sujeira dos ricos de verdade. Imagino o prazer da Veja ao tuitar a foto acima, ontem.
Tijolaço
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