por : Carlos Fernandes
Inepto
Se havia alguma chance de o governo interino dar certo, a divulgação do diálogo entre o ministro do Planejamento, Romero Jucá, com o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, jogou por terra qualquer esperança nesse sentido.
O estrago causado pela comprovação de que todo o processo de impeachment foi inegavelmente levado a cabo para barrar as investigações da Lava Jato, desnudou todo o caráter conspiratório que culminou no afastamento da presidenta Dilma Roussef.
Se já pairavam dúvidas sobre a real capacidade do presidente interino e sua equipe ministerial no que se refere à criação de políticas que tornassem possíveis a retomada do crescimento econômico, a estréia se revelou um fracasso descomunal.
A sucessão de erros cometidos e os consequentes recuos num espaço tão curto de tempo só vieram a acrescentar a um governo já internacionalmente questionado, a imagem de fraco, despreparado e sem qualquer respaldo público ou político.
Temer sabe que a janela que dispõe para mostrar resultados é curta. Nada obstante, o horizonte que se apresenta é desanimador. Com a repercussão escandalosa criada por um dos seus principais ministros, os mais importantes jornais do mundo escancararam o golpe no Brasil.
O respeitado jornal britânico The Guardian fala em “complô” e sobre o aprofundamento na percepção do “ar de conspiração” no processo de impeachment. Já o americano The New York Times informou aos seus leitores que o governo do Brasil está “sob fogo”. O francês Le Monde diz que o “áudio de Jucá cai muito mal para Temer”.
Para quem tinha como discurso entregar um país economicamente estável, competitivo, com segurança jurídica e moralidade política para atrair investidores internacionais, é uma largada desastrosa.
Além do que, como garantir uma estabilidade econômica quando o ministro do Planejamento é escorraçado do cargo em menos de duas semanas após a posse? Como criar condições para uma indústria competitiva quando se coloca um bispo da Universal no Ministério da Indústria, Comércio e Serviços? Como viabilizar segurança jurídica quando ministros do STF são suspeitos de participação no golpe? Como acreditar em moralidade política quando o próprio presidente da República não passa de um fantoche de Eduardo Cunha?
O resultado de tudo isso só poderia se refletir na crescente desconfiança do mercado internacional que observa cada passo dado, e principalmente os não dados, com especial atenção.
Os especialistas já sinalizam abertamente que não há mais razões para acreditar em crescimento da Bolsa em 2016. Muitos afirmam que o índice Bovespa deve cair até os 47 mil pontos. Alguns são ainda mais pessimistas.
Quanto ao dólar, bem, digamos que as tão sonhadas férias na Disney proporcionadas pela queda da moeda americana atrelada diretamente à queda de Dilma, terão que ser adiadas indefinidamente.
Tudo isso é apenas o início de uma semana que começou com protestos em várias partes do país e com a imagem de Temer sendo recebido aos gritos de “golpista” no Senado, a quem deve diretamente sua permanência definitiva no cargo.
Temer, a essa altura, já deveria estar pensando no que seria o seu mais acertado recuo, o de retornar a ser o vice decorativo – e imprestável – que a democracia lhe reservou.
Sobre o Autor
Economista com MBA na PUC-Rio, Carlos Fernandes trabalha na direção geral de uma das maiores instituições financeiras da América Latina
Diário do Centro do Mundo - DCM
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