Setores das classes médias, antes adeptos do golpe, começam a sentir o mal-estar com a clepto-plutocracia que ajudaram a colocar no poder.
Francisco Fonseca
Desde o desfecho do golpe efetivado em 12 de maio o país assiste a tudo o que as forças progressistas vinham afirmando:
- ilegalidades (a começar pelo próprio golpe, além de inumeráveis atos que ferem a Constituição e legislações dela decorrentes);
- ilegitimidades (origem não eleita do “novo-velho governo” com partidos derrotados nas eleições “governando”. Além do mais, o regime “parlamentarista” de Cunha/Temer foi derrotado pelo voto popular em duas ocasiões no país);
- imoralidades (réus e investigados de um sem-número de crimes tomando de assalto o poder do Estado );
- pauta voltada à derrogação dos direitos sociais e trabalhistas, isto é, agenda econômica contra os pobres;
- atentados aos direitos civis e políticos, com a cumplicidade de setores do Poder Judiciário;
- reversão da política exterior, levada adiante simbolicamente por um derrotado nas eleições presidenciais; atentado ao mais elementar conceito de “soberania popular”, a começar pela visão colonizada acerca do desenvolvimento “nacional”.
Esse até então conjunto de predições, a cada dia confirmado, que tem feito do des“governo” Temer – como se esperava – verdadeira ópera bufa, tem no vazamento da conversa entre Romero Jucá e Sérgio Machado sua mais perfeita síntese, pois o golpismo aproveitou a “janela de oportunidade” para: 1) de fato efetivar o golpe, conforme auto-delação, de viva voz, dos próprios golpistas; 2) proteger a cleptocracia de ações que não controla inteiramente na Operação LavaJato e no Poder Judiciário: a conversa Jucá/Machado diz isso em letras garrafais; 3) aniquilar a esquerda, o Governo Dilma, o PT e a candidatura Lula; 4) demolir direitos sociais e trabalhistas por meio da – arcaica e fracassada – agenda neoliberal; 5) retomar o servilismo das relações geopolíticas e geoeconômicas externas, isto é, voltar à carcomida relação Norte/Sul; 6) estabelecer nova hegemonia – conservadora, patronal, neoliberal e rentista – em detrimento de um Estado Democrático, Social e Desenvolvimentista.
Para tanto, o Congresso é, nessa legislatura, dominado pelo que tem de mais escuso em termos de interesses capitalistas e anticivilizatórios (afinal, o que representa a bancada BBB, ao lado das bancadas da mídia e de outros interesses setoriais?), sob comando do representante máximo desses interesses: Eduardo Cunha que, após seu afastamento temporário, tornou-se confortavelmente o primeiro-ministro do “fantoche” Michel Temer.
O vazamento do diálogo de Romero Jucá implica que o porão do Sistema Político brasileiro, do qual o golpe se nutriu para proteger a plutocracia (grande capital, rentistas, agronegócio e outros, representados por grande parte dos partidos), aprofundar ainda mais as desigualdades, e liquidar ideias, atores e agendas progressistas.
A menção ao PSDB, e particularmente a Aécio Neves, a membros do PMDB e do STF reafirma e confirma a derrocada da Constituição de 1988, do Sistema Político multipartidário e privatizado, e do mínimo de democracia política e social conseguida até aqui, conforme apontamos em artigos anteriores neste Portal: http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/O-ministerio-Temer-e-o-ciclo-do-golpe/4/36101 e http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/-Governo-Temer-instabilidade-politica-inseguranca-juridica-retrocesso-social-e-isolamento-internacional/4/36090.
É significativo observar que setores das classes médias, antes adeptos do golpe, assim como segmentos – embora minoritários – da mídia, entre outros, começam a sentir o mal-estar com a clepto-plutocracia que ajudaram a colocar no poder.
Por tudo isso, está ainda mais claro agora que somente resta aos golpistas serem tirados do lugar de onde não deveriam estar: pelos votos no Senado, pelo cumprimento da Constituição pelo STF, pela equidade investigativa da Operação LavaJato/PGR/MPF/PF (que até agora não se verificou), e fundamentalmente pela pressão insofismável das ruas e por inúmeras manifestações políticas, culturais, sociais, simbólicas e internacionais que estão ocorrendo.
Será preciso, como fênix, vencer a clepto-plutocracia do “parlamentarismo” de Cunha/Temer – e notadamente tudo que representa e significa – para poder construir um país democrático: política e socialmente!
Carta Maior
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