4 de Dezembro de 2016
Luis Felipe Miguel
Até entre as posições mais progressistas, muita gente tem receio de enfatizar a participação dos Estados Unidos no golpe que derrubou a presidente legítima do Brasil. Isto apesar das múltiplas evidências que ligam todos - Michel Temer, José Serra, Sérgio Moro, MBL etc. - a grupos estadunidenses. E apesar do que tem ocorrido nos últimos anos nos outros países da América Latina.
Falar da interferência dos Estados Unidos parece coisa de teoria conspiratória. Acho que há uma ideia difusa que a participação estadunidense na política latino-americana se devia apenas à Guerra Fria - e não ao imperialismo. E há, também, o fato de que os construtores das narrativas dominantes, na mídia corporativa, fazem questão de ignorar esta faceta do golpe (assim como muitas outras).
Quando Edgar Morel publicou, em 1965, seu livro hoje clássico, O golpe começou em Washington, também se colocava contra a interpretação hegemônica. Hoje, a participação estadunidense na derrubada de João Goulart, assim como na eclosão das outras ditaduras da região, é incontestável.
Os Estados Unidos, hoje como ontem, zelam pelos interesses de seus capitalistas usando as armas de que puderem dispor. E mesmo que Temer não fosse informante da embaixada, que Moro não mostrasse tanto medo de que se desvendem as conexões estrangeiras da Lava Jato, que os movimentos "espontâneos" da direita brasileira não fossem filhotes da Atlas Foundation - mesmo assim, já daria para desconfiar de um golpe que incluiu, entre suas primeiras medidas, colocar José Serra no Itamaraty, liquidar qualquer risco de política externa independente e entregar o petróleo.
Brasil 247
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