POR FERNANDO BRITO · 01/06/2017
O editorial de hoje do Estadão revela um posicionamento muito diferente daquele que o jornal vinha assumindo e pode ser sinal de uma mudança de orientação da oligarquia paulista que ele, como ninguém, representa.
Referindo-se à defesa incondicional feita ontem em Portugal por Sérgio Moro, o tradicional jornalão ressalva que faltam, frequentemente, provas para sustentar o que é dito pelos delatores.
(…)as múltiplas acusações feitas pelo Ministério Público contra figurões do mundo político estão baseadas somente, ou principalmente, nas delações, sem que venham acompanhadas de provas materiais suficientes para uma condenação. Quando muito, há provas testemunhais, nem sempre inteiramente dignas de crédito ou confiança. Criou-se um ambiente em que as delações parecem bastar. Se é assim, o objetivo não é fazer justiça, mas uma certa justiça.
Certamente isso não foi escrito para Lula, mas recomendo que os advogados do ex-presidente recortem e colem nas suas alegações finais sobre o processo do “triplex”, porque o encaixe é evidente e completo.
E isso não é tudo, leia só como Dr. Cristiano Zanin, advogado do ex-presidente, não teria escrito melhor:
Há tempos ficou claro que certos membros do Ministério Público têm a pretensão de purgar o mundo político daqueles que consideram nocivos. Para esse fim, basta espalhar por aí, por meio de vazamentos deliberados, que tal ou qual político foi citado nesta ou naquela delação para que o destino do delatado esteja selado, muito antes de qualquer tribunal pronunciar sua sentença.
Meu Deus, o Estadão “lulou”, virou “petralha”, avermelhou-se?
Fique calmo e leia mais uma linha, para entender:
Foi exatamente o que aconteceu no episódio envolvendo o presidente Michel Temer. Em mais um vazamento de material em poder do Ministério Público, chegou ao conhecimento dos brasileiros uma gravação feita pelo empresário Joesley Batista com Temer na qual o presidente, segundo se informou, teria avalizado a compra do silêncio do deputado cassado Eduardo Cunha. Quando a íntegra da gravação foi finalmente liberada, dias depois, constatou-se que tal exegese era, no mínimo, controvertida. Mas em todo o episódio prevaleceu a interpretação feita pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para quem o diálogo é expressão cabal de uma negociata – e isso bastou para Temer ser visto por muitos como imprestável para permanecer no cargo de presidente.
Ah, sim, não há provas contra Michel Temer, exceto um assessor seu carregando uma mochila de R$ 500 mil, um encontro às escuras com Joesley Batista e um “pode tratar de tudo com ele” do presidente referindo-se ao homem da mala.
No caso de Lula, não havia um centésimo disso, mas o Estadão jamais teve dúvidas em pré-condena-lo e endeusar o agora criticado Moro.
Portanto, não é santa a declaração dos Mesquita de que “agenda nacional, em meio a uma das mais graves crises da história, foi definitivamente contaminada pelo pressuposto de que o Brasil só será salvo se a classe política for desbaratada, como se fosse uma quadrilha.” Leia-se, no lugar de classe política, os políticos “com classe” do PMDB e do PSDB.
Não é santa, mas serve, porque é preciso que quem embalou este Mateus o reduza ao que é: um dissolvedor da ordem democrática, não da corrupção que, como se viu no episódios das malas rochalourdinas e aecianas.
O Estadão, que já chocou a ditadura militar, parece que percebeu que caminhamos para outra, onde será preciso colocar um data venia entre os ingredientes.
Tijolaço
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