QUI, 01/06/2017 - 09:26
Foto: Marcos Corrêa/PR
Jornal GGN - Em sua coluna de hoje (1) na Folha de S. Paulo, o jornalista Janio de Freitas comenta sobre os três titulares do ministério da Justiça durante o governo Temer: Alexandre de Moraes, ex-secretário de Segurança de São Paulo e hoje ministro do STF, Osmar Serraglio, deputado ligado aos ruralistas, e Torquato Jardim, ex-ministro do TSE e que ocupava a pasta da Transparência.
O novo ministro mal assumiu o cargo e já devastou sua imagem, pontua Janio, ao dar uma entrevista com falas que “entraram pelo grotesco e saíram na indicação de que trouxe um risco à continuidade de investigações importantes”.
O colunista classifica Torquato como deplorável e patético, e afirma que agora os integrantes da Força-Tarefa da Operação Lava Jato terão razão ao achar que as investigações estão “sob ameaça real de cerceamento”.
Leia mais abaixo:
Da Folha
Por Janio de Freitas
Os Irmãos Marx eram três. Três são os Patetas. Os irmãos Metralha são três. Sucessos sugestivos, entre tantos possíveis, de que o número tem boas relações com o patético e o cômico. Talvez esteja aí a explicação para o sucedido aos selecionados de Michel Temer para ministros. No caso, os sucessivos no Ministério da Justiça, que se não chegam a ser um trio são, ao menos, uma trinca.
Secretário de Segurança do governo Alckmin, Alexandre de Moraes vivia seus dias opacos em tranquilidade. Oferecida pela atenção intermitente e ligeira dada no Estado ao êxito, interno e além divisas e fronteiras, do paulista PCC. Apesar da boa vida, topou passar por ministro da Justiça em uma composição ministerial já mal conceituada.
Era exposição demais para os fundos de Moraes. Logo a pretendida reputação de constitucionalista estava rebaixada à condição de plagiário, com a revelação pública de que se apropriou de texto alheio. Em retribuição a suas providências, quando secretário, para defender a imagem de recato de Marcela Temer, ganhou um lugar no Supremo Tribunal Federal. Sem que a toga encubra, jamais, o efeito da revelação de sua indevida coautoria.
Osmar Serraglio surgiu como relator na chamada CPI do mensalão. Não aproveitou o bom conceito feito então, voltando a ser um deputado federal sem aplausos e sem críticas. Pescado por Temer para substituir Alexandre de Moraes, Serraglio foi em geral identificado com aquele relator. Por pouco tempo.
Quem apareceu com a nomeação foi o Serraglio de ligação sorrateira com interesses ruralistas de más finalidades, como a ação contra índios para apropriações de terras.
Em complemento à nova imagem, uma gravação conectou-o à corrompida fiscalização de frigoríficos no Paraná. Se a própria voz lhe foi infiel, não foi mais cordial o seu "amigo de 30 anos" Michel Temer, que lhe pespegou alguma coisa nas costas. Parece que muito dolorosa, porque Serraglio nem foi à posse do sucessor. Como também não se mostrará no Ministério da Transparência, que poderia ser um raio-X.
Sabia-se pouco sobre Torquato Jardim, o que justifica ignorar-se ser pessoa apressada. Genro do professor Leitão de Abreu, que governou o país para encobrir a inabilitação absoluta de Médici e, em substituição a Golbery, de Figueiredo, não consta que tenha se aproveitado da relação familiar –uma raridade em Brasília daqueles e de todos os tempos.
Seus anos no Tribunal Superior Eleitoral ampliaram-lhe a imagem de sério e competente. Ministro da Transparência de um governo emparedado, Torquato Jardim irrompeu para a Justiça, em substituição a Serraglio, de modo repentino e abrutalhado. Michel Temer não perde oportunidades de errar. Mas o seguimento foi do novo escolhido.
Torquato Jardim não esperou ser ministro da Justiça de fato e de direito para devastar a sua imagem. Na primeira entrevista depois de escolhido, para Daniela Lima na Folha, exalou disposições subservientes. Não bastando a fuga às indagações, mesmo as mais simples, fez afirmações que entraram pelo grotesco e saíram na indicação de que trouxe um risco à continuidade de investigações importantes. A começar das que se apliquem a comprometimentos de Michel Temer.
Deplorável é a palavra mais branda a aplicar-se ao Torquato Jardim que emerge do cargo de ministro da Justiça de Temer. Mas a palavra merece companhia: deplorável e patético.
Integrantes da Lava Jato enfim estarão certos, e sem paranoias, se deduzirem que as investigações agora estão sob ameaça real de cerceamento.
Jornal GGN
Nenhum comentário:
Postar um comentário