"As pessoas vão lembrar que receberam essa grana na hora dura. E que foi Bolsonaro quem deu", diz Renato Rovai, editor da Fórum, referindo-se ao auxílio emergencial e à popularidade de Jair Bolsonaro
15 de agosto de 2020
Em discurso no Nordeste, Bolsonaro faz acenos ao Congresso e à população da região (Foto: REUTERS/Adriano Machado)
inteligentzia de esquerda.
Cientistas políticos, analistas, jornalistas e comentaristas em geral apostaram que com o aumento das mortes na pandemia haveria uma forte queda na popularidade de Bolsonaro.
Quando a Pesquisa Fórum mostrou que não havia sinais disso, apanhamos mais do que Judas em sábado de aleluia. Alguns queridos amigos chegaram a me ligar pedindo pra não jogar a credibilidade da Fórum no lixo publicando uma pesquisa de um instituto pouco conhecido.
Não bastou explicar que o método que usávamos tinha enorme tradição em outras áreas, que a empresa contratada era uma multinacional respeitada e que o nosso consultor tinha 30 anos de mercado.
Na esquerda, em alguns momentos, vale a máxima de Caetano: “narciso acha feio o que não é espelho”.
Se os resultados não são bons pra mim, a culpa é de quem divulgou os resultados. Nunca se devem aos nossos erros e aos acertos do adversário.
Bolsonaro é um líder popular que tem imensa empatia com boa parte do eleitorado brasileiro. Por isso, mesmo quando o auxílio emergencial não tinha chegado ao bolso dos que agora o veem ainda melhor, sua popularidade nem no Datafolha e nem na Pesquisa Fórum baixou dos 30%.
Ele incorpora em seu discurso valores de direita que hoje compõe o imaginário do que é correto para a maioria da população.
Isso é irreversível? Ele tá reeleito em 2022? Evidentemente que não. Mas que estamos lhe facilitando por demais o caminho, isso também é verdade.
Essa forma de fazer oposição congressual a um fascista vai só lhe render votos.
Quando a esquerda aprovou o auxílio emergencial houve comemoração de muitos deputados progressistas. Ali este blogueiro já alertava via Twitter que isso poderia beneficiar o presidente se não fosse associado a estratégias corretas de enfrentamento. Era evidente que as pessoas teriam o “presente” como algo do presidente.
Dito e feito.
O campo progressista vive um de seus piores momentos. E pra sair dele teria de se unir pra realizar imensas ações vinculadas a associações de base, igrejas, sindicatos, movimentos sociais etc.
Um trabalho que mobilizasse ações de rua e de redes produzindo novas lideranças. E que aos poucos fosse construindo uma roda de fogo em volta do ocupante do palácio do planalto. É mais demorado e trabalhoso. Mas se nada muito fora da curva vier a acontecer é o caminho possível.
O auxílio emergencial não será pra sempre, mas se depois que ele acabar se o governo criar o Renda Brasil e a economia voltar a crescer (e isso vai acontecer) e a gerar algum nível de emprego a situação pode ainda piorar.
As pessoas vão lembrar que receberam essa grana na hora dura. E que foi Bolsonaro quem deu.
Não sonhem com um futuro melhor para a esquerda depois do auxílio emergencial. Ele não está dado. Quem está no controle da situação neste momento é Bolsonaro.
Renato Rovai - Revista Forum
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