POR FERNANDO BRITO · 12/08/2020
A melhor definição da “debandada” no Ministério da Economia, nas análises dos jornais de hoje, é a de Vinícius Torres Freire, na Folha: Paulo Guedes e seu “programa” (de fato, apenas uma liquidação) não eram o Posto Ipiranga no sentido de serem o combustível do governo, mas apenas loja de conveniência:
O combustível do governo Bolsonaro é outro, é a guerra cultural autoritária. O resto é acessório.
De fato, é preciso reconhecer que ao presidente não falta razão na sua autodefinição de que “não entende nada de economia”. Exceto o essencial: a de que com ela naufragando o seu projeto de poder total iria também às profundezas.
Paulo Guedes, um vistoso look econômico liberal para sua caravana de fascistas e milicianos já “batia lata” sem pandemia, com o “pibinho” de 1% e foi atropelado por uma carreta carregada de coronavírus.
O homem do show do trilhão em privatizações e do outro trilhão da Previdência não estava arrumando nada numa e noutra modalidade e ainda entregará os cofres, ao fim do ano, com a mesma marca do trilhão, mas negativa, como déficit.
A contragosto, reconheça-se, pois a depender de Guedes, Petrobras, Banco do Brasil, Caixa e Eletrobras já estariam vendidos ou à venda e a Previdência já estaria em regime de capitalização, na base do “cada um por si”.
Como se disse, mesmo com sua ignorância econômica formal, Bolsonaro tem um imenso senso de oportunidade. Indiferente às mortes, provou e gostou de seu súbito alento entre os eleitores mais pobres à custado auxílio emergencial e deu seu beneplácito para que os ministros militares, com Braga Neto à frente, começassem a gestar um plano de investimentos que lhe desse alguma fantasia de amigo dos pobres e do progresso, sem a qual seria difícil – e assim se provou – arrastar o país para um cenário de totalitarismo político.
Paulo Guedes, faz tempo, está marcado na paleta, como marcado foi Sérgio Moro. Dois pretensiosos, erguidos e sustentados pela mídia e pelas corporações – financeiras, o primeiro, e judiciais, o segundo – foram sendo obrigados a beijar o pó diante das botas presidenciais, politicamente afeitas a torturar antes de matar.
Podem causar dissabores, como Moro fez com o vídeo da reunião ministerial de botequim e como tenta fazer Guedes, dizendo que o rompimento do teto de gastos levaria Bolsonaro para “uma zona de impeachment, de irresponsabilidade fiscal”. O que leva um presidente para essa zona é a crise econômica e uma incapacidade de manter sob controle uma parcela expressiva da Câmara, a qual – ainda que mal e mal – tem no centrão ávido de verbas e cargos.
Paulo Guedes deixou seus principais auxiliares imolarem-se em praça pública apenas por achar que isso amedontará Jair Bolsonaro em decisões que possam contrariar o ex-Posto Ipiranga.
Mas não adiante, porque todos veem que é ele, Guedes, que virou cinza à espera do vento que a espalhará, sem que o presidente precise fazê-lo com a vassoura.
Tijolaço
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