Do Brasil de Fato
Uma CPMI para punir os corruptores
É hora de mostrar a todo o povo quais interesses a revista Veja defende
Desde a fundação do Estado republicano com a revolução francesa,
sempre houve setores da classe dominante que se utilizam dos cargos
públicos, das influências nos poderes Executivo, Legislativo e
Judiciário para se locupletar e acumular com dinheiro público. Na
sociologia foram classificados como a fração lumpen-burguesa, que
preferia surrupiar parcela da mais-valia recolhida pelo Estado, e de
mais fácil acesso, a dedicar-se a investimentos na produção e extrair
diretamente a mais-valia da exploração do trabalho da classe operária.
p>Aqui no Brasil não foi diferente. Desde a
República velha, setores da burguesia sempre se locupletaram com
recursos públicos, de forma legal e ilegal. Porém, essa mesma burguesia,
muito esperta, nas últimas décadas se apropriou do discurso ideológico
da luta contra a corrupção. Como se a corrupção fosse um mal genérico,
sem nome, classe, ou pior, fossem setores da classe trabalhadora que
tirassem proveito de governos progressistas. O símbolo maior dessa
hipocrisia foi o governador Lacerda, do Rio de Janeiro, na década de
1950 e 1960 e seu partido União Democrática Nacional (UDN). No fundo,
essa forma de transformar a denúncia da corrupção apenas como uma
questão moral, não passa de uma tática da classe dominante para desviar o
debate sobre a verdadeira natureza do Estado brasileiro, que por si só,
na sua lógica de funcionar proporciona a parcelas da classe dominante
que se apropriem dos recursos públicos. Às vezes de forma legal e outras
vezes ilegalmente. Nos casos ilegais se chama de corrupção, e aí seus
beneficiários precisam construir uma ampla rede de “proteção pública”
aos seus atos, que em geral, envolve juristas e advogados famosos,
juízes, desembargadores, senadores, deputados, delegados de polícia e,
sobretudo, os proprietários dos meios de comunicação de massa. Basta
lembrar como a televisão e a Veja transformaram o Collor de Mello em
caçador de marajás, Demóstenes no senador vestal, Yeda Crusius a gestora
da RBS e tantos outros que foram desmascarados pela realidade.
Nos anos recentes, depois da vitória eleitoral do presidente Lula, os
setores da burguesia derrotados se utilizam desse expediente:
denuncismo e tentativa de centrar o debate no combate à corrupção, como
uma forma de engessar o governo, deixá-lo inerte, e impedir que as
verdadeiras demandas da classe trabalhadora e a questão de um projeto
para o país seja o centro do debate).
Assim surgiu o “mensalão” no governo Lula. Amplificado ao extremo,
que quase levou a um processo de impeachment. Agora, veio à tona que até
o sinistro bicheiro Cachoeira estava por trás dessa manipulação, junto
com a sua Veja.
No governo Dilma, esses mesmos setores da burguesia – derrotados no
seu projeto de subordinação ao neoliberalismo e aos interesses imperiais
– se agarrou na imprensa e no Judiciário, para deixar o governo refém
de seus interesses. Com isso já derrubaram sete ministros. Independente
da natureza ideológica dos ministros, do seu não compromisso popular, de
que tenhamos até gostado das mudanças ou de culpas reais, o fato é que
não houve nenhum processo ou algo concreto comprovado. Se os interesses
da imprensa fossem democráticos e os ministros tivessem caído culpados
pelo desvio de recursos públicos, então eles deveriam estar na cadeia!
Mas como diz o ditado popular, “o diabo faz panela mas esquece da
tampa”.
Agora veio à tona a rede de corrupção montada entre uma quadrilha de
jogos ilícitos, empreiteiras, senadores, desembargadores, governadores e
a imprensa de direita, em especial a revista Veja, com quem o
contraventor Cachoeira discutia com o chefe da sucursal de Brasília as
pautas, as denúncias. Como se eles tivessem o direito de decidir a quem
iriam derrubar ou a quem condenar perante a opinião pública.
Felizmente os parlamentares tiveram um pouco de coragem e instalaram a
CPMI para investigar esses fatos. A panela está destampada. Agora será
necessário revolver toda a podridão que tem dentro dela.
Pela primeira vez as forças populares, representadas por alguns
congressistas, terão a oportunidade de investigar e denunciar os
corruptores: as empresas e a grande mídia que as acobertam. É hora de
mostrar a todo o povo quais interesses a revista Veja defende. Seus
bicheiros e parlamentares. É hora do povo saber as redes que se montam
dentro do estado brasileiro para que meia dúzia de lumpen-burgueses se
locupletem e ainda usem a mascara da legalidade e da defesa dos
interesses públicos.
Essa CPMI precisa analisar com detalhes tudo e de forma rápida, antes que a ratazana esconda o queijo e seus comedores.
Mas não basta torcer pela coragem de alguns parlamentares. Será
necessário que os movimentos sociais, o movimento estudantil, da
juventude, todas as forças populares possam ir às ruas pressionar.
Exigir a investigação e punição de todos os envolvidos, sejam
governadores, empreiteiros, senadores, donos da Veja etc.
A Globo já começou de novo a campanha do Brasil limpo, da corrupção
genérica e de falsos movimentos de jovens burgueses, que são
amplificados na televisão.
Portanto, estamos diante de mais um capítulo da luta de classes,
travado no campo da ideologia, no campo das ideias e da gestão do
Estado. E a burguesia já se deu conta que pode sofrer uma grande derrota
ideológica.
Blog do Luis Nassif
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