A Escola dos Horrores
Fundada em 1946, em Fuente Amador, Panamá, com o nome de Centro de Adestramento Latinoamericano do Exército dos Estados Unidos, a base de formação de militares foi criada pelo governo estadunidense para influir na política militar dos demais países do continente. A partir de 1963, o centro passou a ser chamado de Escola das Américas .
Em 1984, depois de uma acordo entre Estados Unidos e Panamá, a instituição se mudou para Fort Benning, na Geórgia, no país da América do Norte. Depois de mobilizações pelo seu fechamento, em 2001 a Escola das Américas mudou de nome, passando a se chamar Instituto de Segurança e Cooperação do Hemisfério Ocidental (Whinsec). Apesar de o Brasil não enviar mais militares para o local, as Forças Armadas brasileiras seguem recebendo cursos ministrados por seus oficiais.
Resistência dentro do Império
por Michelle Amaral da Silva
Há dez anos, no mês de novembro, milhares de pessoas marcham em frente à Escola das Américas e exigem seu fechamento
No continente americano, a pressão pelo fechamento da Escola das Américas não vem só do sul. Há mais de dez anos, no mês de novembro, milhares de pessoas marcham pelas ruas da base militar de Fort Benning em protesto pelo fim da instituição. Todos os anos, após a manifestação, é feita uma vigília que celebra a memória das vítimas dos formandos. Em 2008, a marcha contou com cerca de 20 mil pessoas.
Ali, durante horas, os nomes de centenas de vítimas são chamados. Após cada um deles, os manifestantes respondem: Presente!
Segundo Charity Ryerson, militante do movimento School of the Americas Watch (SOAW – Observatório da Escola das Américas ), “a vigília serve para aprofundar o entendimento da crise provocada pelo governo estadunidense em toda a América”. Participam das manifestações organizações de direitos humanos, defensores do comércio justo, religiosos, universidades e colégios, grupos anti-capitalistas, indígenas, sindicalistas, imigrantes.
Até 2001, os manifestantes costumavam ocupar a parte de dentro da escola. Hoje, isso já não acontece mais. Charity explica que, depois dos ataques de 11 de setembro, o exército aumentou a repressão construindo uma cerca que impede a entrada das pessoas.
Repressão contra manifestantes
Com a proibição, mais de 200 pessoas foram presas de 2001 até o ano passado, e quase todas por “cruzar a linha”, ou seja, entrar na base sem autorização. Em novembro de 2002, junto com outras 85 pessoas, Charity cruzou a linha. Por essa desobediência civil, a militante foi condenada judicialmente por um ano e meio – tendo que cumprir seis meses de reclusão em uma prisão federal e um ano cumprindo pena em liberdade. “Usamos essa forma de resistência para denunciar a urgência do assunto, e mostrar que existe gente comprometida, como dizemos por aqui, dentro da barriga da besta”, declara.
Apesar da repressão, o movimento nos Estados Unidos pelo fechamento da Escola das Américas cresce, e sua pressão começa a fazer efeito. Em 2008, o projeto de lei nesse sentido, proposto pelo congressista estadunidense James P. McGovern, não foi aprovado por seis votos. No entanto, com a nova configuração do Congresso, agora com maioria democrata, a proposta deve entrar em votação no final deste ano com maior chance de aprovação.
Confiante no novo quadro, Charity aposta: “podemos ver um progresso claro. Temos certeza do fechamento, e depois dele, iniciaremos campanhas contra os outros campos de treinamento militar, tanto nos Estados Unidos como na América Latina, até que o último seja fechado”.
Dentro da sociedade e do Congresso estadunidense, os defensores da escola alegam que ela deve ser mantida porque cria vínculos estratégicos entre o exército do país e os das outras nações; além disso, alguns conservadores acreditam que a instituição de ensino não existe mais: o que há, agora, é o Instituto de Segurança e Cooperação do Hemisfério Ocidental, que deve ser mantido.
Uma herança maldita
Desde o fim da década de 1980, o Brasil não envia militares para a Escola das Américas . Em suas campanhas, o movimento SOAW conseguiu convencer os governos da Argentina, Uruguai, Venezuela e – em 2008 – da Bolívia, a seguir o exemplo. Além do Chile, México e Colômbia são países que seguem enviando militares à instituição.
No entanto, fechar a Escola das Américas ou parar de enviar militares a ela não significa cessar sua influência geopolítica na Americana Latina. Dados levantados pelo SOAW indicam que, ao longo de seus 63 anos, cerca de 64 mil militares graduaram-se em seus cursos.
Na opinião do padre jesuíta estadunidense José Mulligan, membro do SOAW, os cursos da Escola das Américas miram interesses econômicos privados. Em entrevista coletiva em Santiago, ele afirmou à imprensa que as aulas têm o intuito de “proteger os interesses econômicos das grandes corporações dos Estados Unidos, como aconteceu no tempo de [Salvador] Allende, quando se utilizou as Forças Armadas para dar o golpe em 1973, e como também aconteceu com o presidente Hugo Chávez, na tentativa de derrubá-lo [em abril de 2002]. Em ambos os golpes, seus promotores eram graduados nas Escolas das Américas”.
O SOAW aponta, ainda, a presença de lideranças formadas pela Escola das Américas nas violentas repressões dos movimentos de populares de Chiapas e Oxaca, no México, bem como na frente da guerra do governo colombiano contra as Forças Armadas Revolucionárias Colombianas (Farc). (CN)
Publicado em: 14/05/2009
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terça-feira, 24 de abril de 2012
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