sexta-feira, 20 de abril de 2012

Caso de ex-juiz comprova cobertura parcial da imprensa na Venezuela

ImageEstá mais do que na hora de nossa imprensa ser mais objetiva e plural quando o assunto passa pelas eleições venezuelanas. As matérias que saíram hoje sobre o “ex-juiz” que acusa o presidente venezuelano Hugo Chávez de manipular a Justiça de seu país são a mais recente pérola que exemplifica bem a má vontade da cobertura do caso, nesta reta final da campanha presidencial no país, onde o governo tem grande aprovação popular.

O ex-juiz, Eladio Aponte, aliás, é o mesmo homem que foi afastado de seu cargo devido a acusações de seus vínculos com o narcotráfico. Seu caso chegou a ser submetido à Assembleia Nacional, em março. O ex-juiz, que hoje acusa o governo Chávez, é acusado de ter fornecido uma identidade especial para o empresário Walid Makled, acusado de ser o líder de uma grande rede tráfico de drogas.

Depois de fugir para a Costa Rica, aproximou-se da agência norte-americana antidrogas (DEA), onde obteve guarida e, de Miami, Aponte armou sua metralhadora de críticas ao judiciário venezuelano.

"Vendeu a alma"


O tom geral da cobertura é o de que o homem seria perseguido em seu país, vítima de perseguição ante a suas críticas ao judiciário. Quem elucida o fato é o chanceler venezuelano, Nicolás Maduro. “Aponte é um homem desprestigiado que vendeu a alma à DEA", afirmou. É bom lembrar: a Venezuela tem uma história repleta de atritos entre as autoridades locais e os agentes antidrogas dos EUA, cujas motivações políticas são inconfessáveis.

Na semana passada, demos neste blog que a pesquisa do instituto multinacional International Consulting Services, apurou uma vantagem de 24,4 pontos de Chávez sobre Henrique Capriles, o candidato da MESA. Por este levantamento, o presidente lidera com 57,3%, contra 32,9% do adversário. Outro levantamento, do instituto Datanalisis, aponta 44% das intenções de voto para o presidente, contra 33% para o rival.


Resumindo: Chávez está à frente na maioria das pesquisas respeitadas, inclusive fontes usadas pela oposição, que tem acesso pleno aos dados e – muitas vezes – preferencial aos principais meios de comunicação.


Liberdade política

Esta mesma oposição, aliás, tem tido total liberdade para fazer companha. Detém perto de 40% da Assembleia Nacional, governa importantes cidades e Estados, tem recursos materiais e financeiros à vontade e à larga, como ficou demonstrado por simples sinal exterior de gastos nas primárias que promoveu - quando votaram dois milhões e meio de venezuelanos que escolheram Capriles como o atual candidato da MESA de Unidade democrática, MUD.

Capriles, por sinal, não surgiu do nada. Foi um dos principais articuladores e líder do golpe de 2002, derrotado pelo povo. Isso mesmo, pelo povo.

Agora, no episódio de Aponte, vemos a imprensa dar crédito e espaço desproporcionais a um cidadão que fez parte de um plano para facilitar a fuga de um narcotraficante e que, de repente, acusa o mesmo governo que o persegue de leniência com o narcotráfico. É demais.


Blog do Zé Dirceu

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