por Luiz Carlos Azenha
A ação ordinária de indenização movida pelo candidato a prefeito José
Serra contra o repórter Amaury Ribeiro Jr. traz como provas iniciais o
indiciamento do jornalista pela PF e artigos de jornais e revistas.
“O primeiro réu, o jornalista Amaury Ribeiro Junior, ganhou especial
destaque no noticiário policial em razão de suas atividades ilícitas
durante a campanha para a Presidência da República em 2010″, diz a ação.
“No episódio divulgado pela imprensa, conhecido como o “escândalo da
quebra de sigilos”, segue, Amaury “foi indiciado na Polícia Federal por
vários crimes e como o principal responsável pela violação do sigilo
fiscal de diversas pessoas, dentre as quais a filha do requerente
(Veronica Allende Serra), o genro do requerente (Alexandre Bourgeois) e o
vice-presidente executivo do PSDB (Eduardo Jorge Caldas Pereira)”,
continua.
Diz a ação que Serra ficou surpreso com as descobertas da imprensa. Uma reportagem da revista Veja foi juntada como prova. É a reportagem da edição 2167, assinada por Policarpo Junior e Daniel Pereira, intitulada Ordem na casa do Lago Sul. O texto foi recentemente citado pelo jornalista Luís Nassif como um dos que foram plantados na revista pela arapongagem financiada por Carlinhos Cachoeira.
Sintomaticamente, diz Nassif, o artigo nunca menciona o nome de
Idalberto Matias, o Dadá, embora nomeie todos os outros personagens da
história. Dadá era o elo entre Cachoeira e a revista.
Quando entrevistei Amaury sobre a ação, ele disse não saber na época
da campanha que Dadá tinha relações com Cachoeira e a revista.
Os advogados que representam José Serra também mencionam na ação, a
título de prova, a entrevista dada pelo ex-delegado da PF Onézimo Sousa à
Veja, em que ele diz que o “grupo de inteligência” da
campanha de Dilma Rousseff — do qual, na versão da revista, fazia parte
Amaury — queria que ele espionasse a vida pessoal de José Serra. O
repórter nega que tenha se formado um grupo de inteligência na casa do
Lago Sul e afirma que o contato com os arapongas tinha o objetivo de
descobrir quem estava vazando informações da campanha.
O problema de citar Onézimo é que ele, em depoimento dado à Polícia
Federal, negou ter ouvido de Amaury pedido para espionar Serra.
“Aprofundadas as investigações pela Polícia Federal, o nome do
jornalista contratado para integrar ‘a equipe de inteligência’ da
campanha petista, Amaury Ribeiro Junior, foi fortemente ligado às
quebras de sigilo” de pessoas ligadas a Serra, diz o texto.
Além do indiciamento de Amaury pela PF, os advogados de Serra juntaram como prova artigos da Folha de S. Paulo,
um dos quais diz que Amaury “confirmou em depoimento à Polícia Federal
que encomendou dados de dirigentes tucanos e familiares de José Serra”.
Amaury diz que nunca confirmou isso — e será fácil tirar a dúvida, basta
apresentar o depoimento dado pelo repórter à PF.
Antes de tratar do livro, especificamente, os advogados de Serra
concluem que “sua pena [a de Amaury] estava contratada para um serviço e
seu interesse no ataque à pessoa de José Serra era por paga”, ou seja,
com dinheiro de gente ligada à campanha da então candidata Dilma
Rousseff.
A versão sempre sustentada por Amaury é de que ele vinha escrevendo o livro Privataria Tucana
há dez anos, obtendo documentos a partir de pedido de exceção de
verdade feito em ação movida contra ele pelo tucano Ricardo Sergio de
Oliveira.
“Os dossiês que preparara, com as invenções e ataques que articulara
com base num acervo desconexo de documentos (alguns sigilosos, outros
inócuos e muitos falsos), transformou-se no livro ao qual batizou com o
nome de ‘Privataria Tucana’”, diz a ação.
Os advogados tentam provar que se trata não de um livro — mas de uma coletânea de dossiês — se apegando a dois detalhes.
Apesar do livro ter sido lançado em dezembro de 2011, na página 170 há a frase “o primo do hoje candidato tucano a Presidência da República”; Amaury escreve “Gregório Marim Preciado. Guarde esse nome” depois de ter dedicado um capítulo inteiro ao personagem.
“As duas passagens acima, longe de denunciarem a dislexia intelectual
do réu Amaury, constituem indícios claros de que os textos respectivos,
separados em capítulos que aparentemente não “conversam”, constituem
peças separadas de dossiês preparados para a campanha eleitoral e
fabricados para uso em momentos diversos e num cronograma inverso ao
apresentado no livro”, diz a petição.
[Ou isso, ou o revisor da Geração Editorial é ruim, diria um estudante de Direito].
Finalmente, os advogados de Serra usam trechos de dois artigos publicados em O Globo para desqualificar o livro. Um deles, de Merval Pereira, A ficção de Amaury,
diz que “o livro, portanto, continua sendo parte de sua atividade como
propagandista da campanha petista e, evidentemente, tem pouca
credibilidade na origem”. O outro, do historiador Marco Antonio Villa,
diz que o livro teve como objetivo “triturar reputações”.
“Usou 130 páginas para transcrever documentos sem nenhuma relação com
o texto, como uma tentativa de apresentar seriedade, pesquisa, na
elaboração das calúnias. Na verdade, não tinha como ocupar as páginas do
panfleto com outras reportagens requentadas (a maioria publicada na
revista “IstoÉ”)”, diz trecho do artigo de Villa reproduzido na ação.
O problema de Serra usar gente ligada a O Globo
contra Amaury é que o repórter ganhou um prêmio Esso quando trabalhava
no jornal. E Merval Pereira, em discurso na Academia Brasileira de
Letras, disse textualmente:
Dezoito anos depois, em 1999, O GLOBO deu outro “furo”, que provocou a reabertura do caso. A série de reportagens de Ascânio Seleme, Chico Otavio e Amaury Ribeiro Jr. ganhou o Prêmio Esso de Reportagem daquele ano e reabriu o caso, transformando o Capitão Wilson Machado e o sargento Guilherme Pereira do Rosário de vítimas em réus. O crime prescrevera, mas a verdade estava restabelecida. Eu era o diretor de redação do Globo naquela ocasião, e senti como se um ciclo histórico tivesse sido fechado, com a minha participação.
Na ação, o candidato a prefeito de São Paulo alega que Amaury o acusa
de receber propinas e de ter criado uma rede de espionagem para
investigar Aécio Neves. O repórter diz que pretende provar esta segunda
acusação, mas nega que tenha feito a primeira.
Os advogados de Serra, no entanto, juntaram à petição inicial um artigo da Folha. O título diz: Jornalista acusa tucanos de receber propinas. O texto que aparece sublinhado:
Um livro que chegou à praça no fim de semana acusa o ex-governador José Serra de receber propinas de empresários que participaram das privatizações conduzidas pelo governo Fernando Henrique Cardoso.
Em outras palavras, neste caso os advogados de Serra não vão usar o que está no livro para tentar condenar o autor, mas o que a mídia diz que está no livro.
Viomundo
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