Ministro da Ciência e Tecnologia fala em reunião de comissão no Senado.
Ex-governador de São Paulo é citado como parceiro de ministro no caso.
Quércia é citado junto com Mercadante em reportagem da revista “Veja”, na qual o ministro é apontado como “mentor” da compra por petistas de um suposto dossiê, em 2006, contra o ex-governador de São Paulo, José Serra.
“Por que esse caso que volta hoje? Porque o Quércia está morto. Eu pergunto se a oposição estaria aqui querendo convocar o Quércia? Se o Quércia estivesse vivo ele estaria aqui para desmentir como desmentiu na época. É só olhar o histórico do Quércia em todos esses anos e ver de qual lado ele estava, com quem ele estava. Jamais falei com Quércia durante a campanha. Se Quércia estivesse vivo, isso [denúncia da revista] não parava de pé uma hora. O problema é que só tenho eu para falar pelo Quércia ”, argumentou Mercadante.
Mercadante participa nesta manhã de reunião da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado para esclarecer os fatos relativos à reportagem da revista.
Antes de começar a falar sobre o caso, Mercadante afirmou que tinha “maior interesse” em prestar esclarecimentos.
O ministro fez uma retrospectiva das investigações que envolveram o caso dos “aloprados” depois de ser questionado pelo senador Lindbergh Farias (PT-RJ).
“Quero começar essa audiência sobre inovação dando espaço para vossa excelência falar ao Senado. Aqui a gente vive uma estratégia de crise permanente para tentar desestabilizar esse governo. Eu pergunto à vossa excelência: há fatos novos? O que tem de novo? Essa relação com o ex-governador Orestes Quércia?”
“Vou esclarecer esse lamentável episódio de tentarem montar um dossiê em 2006. Foi criada uma CPI mista na época e esta CPI ouviu todos os envolvidos. A PF tinha prendido alguns, foi identificando todos envolvidos, a oposição questionou um a um. No relatório final da CPI não consta sequer o meu nome, a conclusão da CPI era de que não tinha envolvimento”, afirmou Mercadante.
'Injustiça inaceitável'
O ministro ainda citou decisão dos ministros do Supremo Tribunal Federal que recomendou o arquivamento do pedido de investigação em relação a ele. Mercadante classificou de “injustiça inaceitável” a tentativa de envolvê-lo com o caso e lamentou que integrantes do PT tenham investido na elaboração de um dossiê.
“É uma injustiça inaceitável, não é possível fazer política nesses termos. Lamento que o meu partido tenha uma cultura de enfrentamento nesses termos. Acho um equívoco histórico a gente tratar as coisas nesses termos."
O ministro disse que, em 2006, o interesse da oposição era ligar a compra do suposto dossiê com a campanha à reeleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“Na época, todo esforço era fazer o vínculo com a campanha nacional do PT, todo esforço era porque eu tinha perdido a eleições para o governo de São Paulo e o Lula estava no segundo turno e a representação no TSE era focada no segundo turno nacional”, argumentou Mercadante.
Mercadante leu parecer do então procurador-geral da República Antonio Fernando de Souza que o inocentou das acusações.
“Não há um único elemento nesses autos que aponte para o envolvimento do senador Aloizio Mercadante nos fatos. A quebra de sigilo telefônico dos envolvidos não apontou ligações para o senador Aloizio Mercadante. As conclusões das perícias desautorizam a presunção da autoridade policial de envolvimento do senador Mercadante.”
Assessor
Na defesa, Mercadante responsabilizou o ex-assessor Hamilton Lacerda pelo dossiê, que pediu demissão depois de ter procurado uma revista semanal para tentar publicar as informações do suposto dossiê.O ministro lembrou que Lacerda reconheceu o erro ao tentar divulgar as denúncias do suposto dossiê e admitiu que não Mercadante não havia sido consultado sobre o suposto dossiê.
“O que é que o Hamilton diz quando eu soube que ele tinha ido na Istoé tratar de um assunto dessa natureza, porque eu iria marcar uma coletiva e demitir. O que ele fez, pediu demissão. A minha coordenação não discutiu essa denúncia, a minha coordenação não colocou a denúncia na televisão e eu não permitiria que colocasse”, disse Mercadante.
Ideli
Além de negar as informações da revista, o ministro da Ciência e Tecnologia também negou participação da ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, em uma suposta reunião em que ela teria sido encarregada de divulgar as informações do suposto dossiê. Segundo a revista, o elo de Ideli com o caso seria o petista Jorge Lorenzetti que atuou na campanha de Lula e é de Santa Catarina, mesmo estado da ministra.
“Por que é que não diria que o Lorenzetti não estaria na reunião se ele estivesse? O Lorenzetti nunca esteve no meu gabinete durante oito anos. Por que enfiaram o Lorenzetti aqui nessa reunião? Para tentar trazer a ideli [para a denúncia]. Então, só quero a verdade e a transparência” disse Mercadante.
Perguntas
Mercadante foi questionado pelo líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias (PR), sobre as declarações de ex-diretor do Banco do Brasil Expedito Veloso, que citou Mercadante em gravações obtidas pela revista “Veja”. “Há um parceiro de vossa excelência que o denuncia e isso é que precisa ser esclarecido”, disse Dias.
Mercadante argumentou que Veloso não tinha conhecimento do funcionamento de sua campanha para o governo de São Paulo. Ele lembrou que não estaria claro se as gravações obtidas pela revista teriam sido registradas há cinco anos. “Ele [Veloso] sempre se remete [nas gravações] ao Hamilton Lacerda. E o Hamilton Lacerda já disse que jamais me consultou e pediu desculpas públicas por ter me envolvido nesse episódio”, disse Mercadante.
Dias pediu a Mercadante que se comprometesse a ir até a Câmara para falar das denúncias da revista aos deputados. Mercadante afirmou que já havia aceitado falar aos senadores por contra própria e avaliou que sua passagem pela Câmara seria apenas uma tentativa criar uma “disputa política” com a oposição.
“Por que querem que eu vá até a Câmara? Porque querem continuar alimentando o fato como disputa política”, argumentou Mercadante.
Líder do PP no Senado, o senador Francisco Dornelles (RJ) disse considerar o episódio dos “aloprados” um dos casos “mais aviltantes da política brasileira”, mas aproveitou para criticar Mercadante lembrando que o ministro, quando senador, defendeu o afastamento do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), durante a crise do Senado, em 2009, apenas baseado “em notícias de jornal”.
“Ninguém pode ser condenado com base em notícias de jornal e vossa excelência tentou a cassação de colegas seus durante o período do seu mandato com base nas notícias de jornal. Finalizo minha fala lembrando o dito popular ‘nada como um dia após o outro’.
Mercadante respondeu Dornelles afirmando que não enxergava problema no rigor dos colegas: “Concordo com vossa excelência. Nada como um dia após o outro e cada dia que vier vai ficar mais clara a minha posição. Como fui rigoroso nas questões éticas, não vejo nenhum problema que o senadores sejam rigorosos comigo.”
G1
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