segunda-feira, 27 de junho de 2011

Aumento de vistos de trabalho para estrangeiros no Brasil


Do Valor

Concessão de visto para trabalhador estrangeiro sobe 13%

João Villaverde | De Brasília

Ao receber, na semana passada, o visto para trabalhar no Brasil, o ex-ativista italiano Cesare Battisti foi apenas a ponta mais famosa de um movimento que em 2011 caminha para um recorde - a concessão de vistos de trabalho para estrangeiros. Segundo dados obtidos pelo Valor, o número de estrangeiros que receberam visto de trabalho no Brasil aumentou 13% nos primeiros três meses de 2011, em relação a igual período do ano passado.

No primeiro trimestre do ano, 13 mil estrangeiros receberam, do Conselho Nacional de Imigração (Cnig), vinculado ao Ministério do Trabalho, visto para trabalhar no país, ante 11,5 mil no primeiro trimestre do ano passado e 9,8 mil em igual período de 2009.

Os dados do Ministério do Trabalho apontam uma menor proporção de vistos concedidos para estrangeiros com maior escolaridade. O número de trabalhadores de outros países com doutorado, mestrado e ensino superior completo que conseguiu visto no primeiro trimestre aumentou 7,8% - foram 7,2 mil nos primeiros três meses de 2011 e 6,7 mil em igual período de 2010.

A comparação dos dados do primeiro trimestre de 2011 e 2010 mostra que o Ministério do Trabalho passou a classificar um grande número de trabalhadores como "outros" quanto ao quesito escolaridade - de apenas um no primeiro trimestre de 2010 esse grupo passou para 1.144 vistos este ano. Esse grupo, de acordo com a assessoria do ministério, é quase todo formado por profissionais de baixa qualificação.

A maior parte dos vistos concedidos no primeiro trimestre refere-se a trabalhos temporários - só 6,7% do total de estrangeiros que tiveram a situação legalizada no mercado de trabalho no trimestre obtiveram visto permanente.

Nos três primeiros meses do ano, 4,2 mil trabalhadores estrangeiros receberam visto de trabalho por até 90 dias, quase o dobro em relação a igual período do ano passado. Nessa categoria estão os técnicos e especialistas em funções específicas (de engenheiros a conselheiros de CEOs de multinacionais) que vêm ao Brasil para iniciar ou finalizar uma operação e ficam menos de três meses no país.

Outros 2,9 mil estrangeiros obtiveram visto para trabalhar por um ano no país, para, principalmente, exercer trabalho a bordo de embarcação ou plataforma estrangeira. O visto concedido a Battisti na semana passada inscreve-se na categoria "estrangeiro na condição de artista ou desportista, sem vínculo empregatício", uma vez que Battisti não tinha, até a semana passada, um contrato de trabalho com empresa brasileira.

Os Estados Unidos continuaram sendo os principais emissores de imigrantes, respondendo por 1,8 mil trabalhadores, mas o principal salto ocorreu entre os chineses. Foram 404 chineses autorizados a trabalhar no primeiro trimestre do ano passado (2,1 mil ao longo do ano), número que passou a 505 entre janeiro e março deste ano. Esse aumento, indica o Cnig, prossegue no segundo trimestre, como reflexo da chegada de empresas chinesas ao país.

Entre os países ricos, como EUA, Filipinas, Reino Unido e Alemanha, de onde saíram pouco mais de 4,8 mil imigrantes que tiveram a situação legalizada no começo do ano, a principal ocupação foi a de especialista. O duplo incentivo dado pelo câmbio valorizado e pelas promoções de preços dos fabricantes nos países ricos, que estão sem demanda interna, tem ampliado a importação de máquinas e equipamentos. Com isso, a chegada de técnicos estrangeiros para implementar os aparelhos e fazer a manutenção tem aumentado.

O ritmo de concessão de visto a estrangeiros por parte do Cnig foi acelerado neste começo de ano também por dois aspectos curiosos: cerca de 200 haitianos receberam autorizações para permanência humanitária (166 se instalaram no Amazonas e 15 no Acre), e 700 vistos foram concedidos a artistas estrangeiros que se apresentaram no país no primeiro trimestre.


Blog do Luis Nassif


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