terça-feira, 11 de setembro de 2012

Manchete em tom de acusação: “Mais 61 mil funcionários”

O título da capa do Estadão de domingo (9.9) traz a manchete, em tom acusatório: “Orçamento prevê mais 61 mil funcionários públicos em 2013”. No entanto, lendo-se a reportagem, uma das informações mais importantes é que 83,6% das contratações previstas (51 mil) são para substituir terceirizados, que custam mais ao Estado e não garantem um serviço de melhor qualidade ao público.

E podemos ter certeza que dos 16,4% restantes, a maioria substituirá aposentados ou responde à demanda do crescimento dos serviços públicos com saúde, educação, agências reguladoras, policias, judiciário etc. A pergunta que devemos fazer é: como ampliar e melhorar os serviços públicos sem bons e bem pagos servidores concursados?

Pela proposta orçamentária para 2013, o impacto na folha salarial da União será de R$ 5,1 bi. Mas a folha vai crescer mais. Serão R$ 9,2 bi em razão do reajuste de 5% negociado na greve do funcionalismo, mais R$ 8,5 bi para o crescimento vegetativo da folha de pagamentos. Assim, o aumento total na folha será de R$ 22,8 bi.

O Executivo é o poder que mais vai contratar: 49.437. E a despesa total em 2013, com pessoal dos três Poderes - Executivo, Judiciário e Legislativo - será de R$ 225,9 bi, o equivalente a 4,54% do PIB.

Cadê o outro lado?

A matéria não ouviu o governo, nem nenhum representante dos outros dois poderes que poderiam justificar essas contratações. E também não tem uma linha sobre o esforço que o governo tem sido obrigado a fazer desde 2003 para refazer a máquina pública, esgarçada, sucateada e desmontada pelos oito anos de tucanato de FHC, dentro do princípio deles de governar em que o ponto principal é cortar despesas, cortar gastos e gerar o Estado mínimo.

Na era FHC houve um pouco o choque de gestão que o ex-governador Aécio Neves aplicou em Minas e Yeda Crusius no Rio Grande do Sul – demitir, enxugar e sucatear a máquina pública. É o que Eduardo Campos apregoa, agora, em Pernambuco e diz que seu candidato a prefeito, Geraldo Júlio, fará no Recife. 



A dupla Eduardo/Geraldo Júlio tem como um dos principais motes da campanha o fato do candidato a prefeito ser um técnico, que nunca foi político nem disputou eleição antes.

O que nenhum deles fala – e que transforma essa história de “choque de gestão em factóide" – é que para demitir e não contratar funcionários, eles precisam terceirizar tarefas do serviço público. Com isso, pagam até três vezes o custo da folha. Gastam mais e não necessariamente garantem melhor qualidade no atendimento ao cidadão.

Aliás, a matéria inteira diz que se pretende contratar tantos funcionários, mas não há uma análise sobre a distribuição deles, como anda a máquina pública etc. etc. etc.

Um exemplo: no gráfico da página interna em que está a reportagem consta que o percentual do PIB prevista para gastos com funcionalismo em 2013 é exatamente o mesmo previsto para 2012: 4,54%. Informação que não foi utilizada no texto. Ou seja, manipulação pura, do título à última linha.

                                     Blog do Zé Dirceu

Nenhum comentário:

Postar um comentário