Em entrevista, José Dirceu diz que o
PT pode ter muitos defeitos, mas não conhece a palavra covardia. Ele se diz
pronto para qualquer resultado
17 DE SETEMBRO DE 2012 ÀS
06:49
247 – José Dirceu, principal réu da Ação Penal 470, chamado de
“chefe da quadrilha” pelo procurador-geral Roberto Gurgel, concedeu sua primeira
entrevista desde o início do processo. Falou à jornalista Mônica Bergamo e
garantiu que não irá fugir do Brasil. Leia:
'Eu não vou fugir do
Brasil'
Ele diz que não conhece a palavra
covardia e que está preparado para qualquer resultado no
STF
"A burguesia acorda tarde. Eu saí da
cama faz tempo e estou morrendo de fome", diz José Dirceu ao abrir a porta de
seu apartamento, em SP, às 9h de sexta-feira.
Réu no processo do mensalão, ele saiu
de circulação desde o início do julgamento e há meses recusa todos os pedidos da
imprensa brasileira para uma entrevista. Na semana passada, recebeu a coluna
para um café. À mesa, suco de laranja, abacaxi, café com leite, pão e
frios.
"Eu não estou deprimido. Eu não tenho
razão para estar deprimido. Eu tenho objetivos, metas, sonhos. Eu acordo às seis
da manhã todos os dias. Recebo o resumo das notícias que a equipe do meu blog
envia. Eles já sabem o que me interessa. Estão comigo há cinco anos. Funcionamos
por telepatia."
"Eu gasto duas ou três horas lendo
toda a imprensa brasileira, no iPad e no meu laptop. Depois, escrevo artigos
para o blog."
Dirceu veste camiseta marrom e calça
jeans cinza que estão largas em seu corpo. Está mais magro e com os cabelos mais
longos do que o habitual. Perdeu 6 kg. Mas afirma que isso não tem nada a ver
com o mensalão. "Eu faço muita ginástica. Desde 1998, tenho um
instrutor."
Recentemente, passou a se exercitar
todos os dias. Faz esteira, musculação e alongamento na academia do próprio
prédio. "Me sinto bem."
A coluna diz que é difícil acreditar
que a vida siga tão normal. " Muita gente me visita. Não tem um dia em que não
venham duas, três pessoas me ver, aqui ou na minha casa em
Vinhedo."
O escritor Fernando Morais, o
produtor Luiz Carlos Barreto e o líder do MST, João Pedro Stédile, estão entre
as visitas. O ex-presidente Lula liga um dia sim, um dia não, para saber como
ele está. "Não me falta companhia."
O julgamento no STF (Supremo Tribunal
Federal) entra na reta final. A condenação de Dirceu parece certa. Até seus
interlocutores próximos admitem a possibilidade. As penas máximas para os crimes
de que é acusado chegam a 15 anos. A Folha revelou que ele já conversou com o
presidente Lula sobre a hipótese de ser preso.
"Que nada, isso não aconteceu", diz.
"Não é que não tem prova no processo contra mim. Eu fiz a contraprova. Eu sou
inocente. Eu confio na Justiça." Ele diz saber que, mesmo absolvido, "isso não
vai acabar. Em sete anos [desde que estourou o escândalo], eu não tive a
presunção da inocência. Por que vou ter a ilusão de que isso vai ocorrer, mesmo
que eu seja considerado inocente pelo Supremo?"
A coluna pergunta de novo se, ainda
que insista em dizer que confia na Justiça, ele nunca pensa na hipótese de ser
condenado e preso.
"Isso daí [resultado do julgamento]
vai demorar dois meses para acontecer. Vou ser julgado por corrupção ativa no
fim do mês ou no começo de outubro. Em mais quatro semanas, serei julgado por
quadrilha. Por que vou sofrer por antecipação? Na hora em que acontecer, vou ver
o que fazer."
"A expectativa que eu tenho? Eu fui
cassado pela Câmara dos Deputados [em 2005] sem provas. De lá para cá, eu sofri
um linchamento como corrupto e quadrilheiro. Eu estou preparado para qualquer
resultado."
"E não vou deixar de fazer o que
sempre fiz, que é lutar. É ilusão achar que eu vou... não faz parte da minha
personalidade eu me abater. Se alguém tem a ilusão de que, me condenando,
cometendo essa violência contra mim, vai me derrubar, pode tirar o cavalinho da
chuva."
Dirceu diz que só dará entrevista
sobre o mérito do caso depois do julgamento.
Não quer também comentar a hipótese
de o publicitário Marcos Valério, já condenado à prisão por vários crimes,
"explodir" no caso de ser preso. "O advogado desmentiu [declarações que Valério
teria dado a terceiros acusando o ex-presidente Lula de participar do esquema].
Não tenho o que comentar."
Diz que a sua principal intenção, na
conversa, é afirmar que está bem e que não vai fugir do país para não ser preso
caso seja condenado.
"Essa história que inventam de que
vou sair do Brasil não combina comigo", afirma o ex-ministro.
Saí [na década de 60] porque fui
expulso do país. Cassaram a minha nacionalidade. Eu era um apátrida, não podia
viajar. Quem me impedia de voltar era a ditadura militar. E mesmo assim eu
voltei para o Brasil, duas vezes, colocando a minha própria vida em risco. Eu
iria embora agora?"
"O PT tem defeitos. Mas se tem algo
que não conhecemos no PT é a palavra covardia. A chance de eu fugir do Brasil é
nenhuma. Zero."
Entrevista concedida ao jornal digital 247
Entrevista concedida ao jornal digital 247
Grupo Beatrice
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