Alex Rodrigues
Repórter da Agência Brasil
Repórter da Agência Brasil
Brasília – Há 75 dias sem chuva, a população do Semiárido no Ceará
sofre com os efeitos da longa estiagem que afeta o estado. Segundo a
Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), esta
promete ser a mais rigorosa seca enfrentada pelo estado nos últimos 19
anos e a quinta pior da história. Para especialistas ouvidos pela Agência Brasil, a situação ainda vai piorar.
Das 184 cidades cearenses, 178 já decretaram situação de emergência
(o governo federal ainda analisa o decreto de quatro municípios). As
mais afetadas ficam nas regiões do Sertão Central, Inhamuns e
Jaguaribana onde, segundo a Defesa Civil estadual, vivem cerca de 2,5
milhões pessoas.
Para suprir a falta de água potável, o Exército está atendendo a 93
localidades com carros-pipa. Até o dia 10, mais 21 cidades começarão a
ser atendidas por carros-pipa disponibilizados pela Defesa Civil do
estado por meio de um convênio de R$ 8,3 milhões firmado com o
Ministério da Integração Nacional. A expectativa é que este número
aumente, já que, segundo a assessora técnica da Defesa Civil estadual
Ioneide Araújo, o pior ainda está por vir.
“Com certeza, essa situação ainda vai se agravar. Ainda vamos entrar
nos meses mais rigorosos da estiagem, e chuvas consolidadas mesmo, só a
partir de fevereiro”, disse Ioneide à Agência Brasil,
explicando que 154 municípios cearenses ficam em regiões caracterizadas
como Semiárido, onde o período de chuvas só começa em fevereiro.
A preocupação da assessora é reforçada pela Funceme, cujo
meteorologista, Namir Mello, informou que, no primeiro semestre deste
ano, choveu 50% menos do que a média histórica para a época. Enquanto a
média do período é 606,4 milímetros, este ano foram registrados apenas
299,2 milímetros. Fenômeno que, em um ano marcado pelo efeito La Niña –
que normalmente torna as chuvas mais regulares no Semiárido nordestino
–, pode ter sido provocado pela indefinição nas temperaturas no Oceano
Atlântico. De acordo com a Funceme, isso pode ter afetado a zona de
convergência intertropical, principal sistema causador de chuvas no
Ceará.
“A situação vai se agravar porque choveu pouco no primeiro semestre
do ano e a estação da seca vai até novembro. A partir de dezembro,
poderemos ter algumas chuvas rápidas e esparsas, próximo ao litoral.
Outra coisa é que, por causa da redução de 50% no volume de chuvas, há
menos água armazenada nos pequenos açudes, que abastecem as comunidades
isoladas e os pequenos produtores rurais. Daí a necessidade do uso de
carros-pipa para esses lugares. Os grandes açudes que abastecem as
cidades e perenizam os rios estão bem de água”, completou o
meteorologista.
Em todo o estado, a falta de chuva também afetou as plantações,
provocando o aumento do preço de produtos como o feijão e,
consequentemente, da cesta básica de alimentos, conforme revelou um
estudo desenvolvido por estudantes do Departamento de Economia da
Universidade Regional do Cariri (Urca). Segundo o presidente da Empresa
de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará (Ematerce), o
engenheiro agrônomo José Maria Pimenta, os prejuízos dos produtores
rurais com a seca já chega a R$ 1 bilhão e está prevista uma redução de
85% na safra de grãos A estiagem também está afetando o gado, mas,
devido a programas estaduais que estimularam o registro, o tamanho do
rebanho cresceu em comparação ao último levantamento.
Amanhã (4), o governo estadual e o Ministério do Desenvolvimento
Social realizam uma cerimônia para marcar a instalação de mais uma
cisterna de placa de cimento no Semiárido nordestino. Com a instalação
do equipamento de armazenamento de água no Assentamento Estadual Serrote
Feio, em Madalena, no Sertão Central cearense, chegará a 500 mil o
número de cisternas de placas construídas no Semiárido nordestino,
60.820 delas só no Ceará. As cisternas de cimento custam a metade das de
plástico e são mais duráveis.
Agência Brasil
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