segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Petrobras não pode ser criminalizada por conta do comportamento de algumas pessoas






Em entrevista publicada hoje, no Valor, José Sérgio Gabrielli, ex-presidente da Petrobras (2005 a 2012), alerta sobre o impacto da crise e comenta as investigações na maior produtora hoje de petróleo do mundo (fora as árabes), a Petrobras. E também destaca que a estatal brasileira não pode ser criminalizada por conta do comportamento criminal de algumas pessoas.

Nesta entrevista publicada no Valor hoje, Gabrielli aponta que caso se aprofunde a crise, a Petrobras terá dificuldades de manter os investimentos. “Redução de investimentos significa mudança na curva da produção, com deslocamento e se tiver novos leilões para o pré­-sal, você vai criar dificuldade. Isso é uma discussão de governo, não da Petrobras, porque a velocidade que vai ser colocada nos leilões é do governo”, explica Gabrielli.

Também avalia que “as empresas que são as fornecedoras de conteúdo nacional entram em crise, e estão cada vez mais em crise por causa de financiamento, de rating, por causa da capacidade do fluxo de caixa por efeitos da Lava­Jato”. E complementa: “a empresa não está presa. Empresa corrupta não é pessoa física”.

“À medida que a empresa enfraquece, ela fica sujeita à aquisição ou à destruição. Isso é o mercado”, avalia, alertando que muitas dessas empresas podem ser vendidas e que os corruptos devem pagar por isso, diz e avalia: “as empresas vão sofrer o resultado disso e provavelmente vão mudar de mãos”.

Estatal é a maior produtora do mundo hoje, fora as árabes

Gabrielli, nesta entrevista ao Valor, comenta uma série de questões sobre a investigação na estatal. Questiona, inclusive, as declarações do ex-diretor da estatal Paulo Roberto da Costa que, em delação premiada, disse ter recebido 3% de todos os contratos. “Primeiro que isso não está provado. E 3% de todos os contratos são R$ 4 bilhões. E onde é que estão esses R$ 4 bilhões? Esse é o ponto. Não tem como chegar a isso”, afirma.

“Não se pode, a partir do comportamento criminal de algumas pessoas, criminalizar uma empresa do tamanho da Petrobras com a complexidade que ela tem e com os procedimentos que ela tem. A Petrobras é a maior produtora do mundo hoje, fora as árabes”, complementa Gabrielli.

Ele destaca, ainda, que nos últimos 10 anos, a estatal brasileira “saiu de uma empresa relativamente pequena para ser uma grande empresa internacional na área de petróleo” e “de uma situação em que foi desmontada sua engenharia básica para se tornar uma empresa que tem uma das melhores engenharias do mundo”.

Petrobras não é uma bodega


O ex-presidente da estatal lembra que a Petrobras contratou, por R$ 150 milhões, escritórios especializados investigações desse tipo (corrupção). “Deve ter centenas de funcionários dedicados às comissões internas e fazendo levantamentos desse tipo. Contratou a Deloitte e a BNP Paribas para fazer avaliação, tem a Polícia Federal com centenas de delegados investigando, tem o Ministério Público com dezenas, todos focados para descobrir isso. E não descobrem.”

“Como é que a Petrobras, num procedimento normal, ia descobrir? Se não tem falha nos procedimentos internos, como é que se descobre a relação entre um doleiro e um fornecedor?” questiona o ex-presidente da estatal, lembrando que em uma empresa que tem 3 mil gerentes de primeira linha, duas pessoas – Pedro Barusco e Paulo Roberto Costa – confessaram propina.

Ele também detalha a dinâmica interna de tomada de decisões na estatal: “ninguém decide individualmente na Petrobras. Nenhuma decisão dessas é feita por poucas pessoas. São dezenas, centenas de pessoas que se envolvem nesse processo decisório. Passa por várias etapas. E envolve 100, 200, 300 pessoas. A Petrobras não é uma bodega”.

“Estou dizendo que (corrupção) é uma coisa individual. Não é o sistema que é assim, é isso que eu estou dizendo. Eu não posso dizer que a Petrobras é uma empresa corrupta. Esse cálculo que foi feito de impairment (avaliação individual dos ativos), não pode ser confundido com a corrupção. É outra coisa. O que houve foi variação de mercado, variação de taxa de desconto, de taxa de câmbio, preço do petróleo, preço dos derivados, custo dos investimentos, tem uma série de coisas misturadas aí nesses números”, afirma.

Mudança de cenário

Gabrielli também explica o contexto das negociações relativas à associação com a PDVSA (venezuelana) e decisões sobre a compra da refinaria de Pasadena e Abreu e Lima. Cita a conjuntura de crescimento do mercado entre os anos de 2006-2007; e a de 2009 e 2013, quando o consumo brasileiro de derivados cresceu mais que 60%”. Naquele primeiro momento, relata, “eu estou vindo com o crescimento da produção de Marlim. Não vou mais fazer refino nos Estados Unidos então o que vou fazer? Fazer refino no Brasil, mas ainda não sei como o mercado brasileiro vai crescer”.

Inicialmente, Gabrielli conta que pensou em “fazer a refinaria lá no Maranhão e no Ceará para exportar. Mas o mercado brasileiro dispara, e dispara mais no Nordeste. E a capacidade de refino mais frágil era lá porque a última refinaria na região era a Landulfo Alves na Bahia. Aí você faz Clara Camarão, no Rio Grande do Norte e pensa na Abreu e Lima, Premium I e Premium II. Hoje a Petrobras avalia que Premium I e II não precisam mais ser feitas porque o mercado vai ser atendido por Rnest e e pelo Comperj. É uma mudança de mercado, mas é assim mesmo.”

Ao conceder a entrevista na última 6ª feira, a quebra de sigilo e o bloqueio dos bens de Gabrielli ainda não havia sido anunciado. Na entrevista, ele conta que sequer havia sido comunicado sobre a ação do Ministério Público do Rio de Janeiro contra ele. “Eu não sei dessa ação, formalmente. Mas já estou condenado pelo “Jornal Nacional” e pela primeira página dos jornais todos. Eu não fui comunicado. E até agora, 18h de sexta-­feira (hora e dia da entrevista), eu não fui comunicado. Eu não temo a investigação, mas não fui comunicado”.

Cliquem aqui e leiam a entrevista de Gabrielli ao Valor (não assinantes devem fazer um cadastro gratuito no portal do jornal para ter acesso a 5 matérias do conteúdo).

 
 
 
Blog do Zé Dirceu

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