Prédio da ONU em Nova Iorque
O Índice de Desenvolvimento Humano faz 20 anos e muda variáveis que compõem o critério educação. Brasil fica longe de líderes nesta área, que desempenha cada vez mais um papel estratégico no desenvolvimento nacional.
O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da Organização das Nações Unidas completou 20 anos com nova metodologia e um relatório sobre iniciativas marcantes nas últimas duas décadas. O Brasil - que este ano ficou na 73º posição entre 169 países avaliados - é citado 15 vezes, quase sempre em trechos positivos sobre renda e diminuição da desigualdade social, mas quando o assunto é educação as duas citações são negativas.
Elites relutantes
Na primeira, o relatório diz que “um estudo de atitudes sobre educação entre elites brasileiras durante os anos 90 mostrou que as elites são frequentemente relutantes em ampliar as oportunidades de educação, pois trabalhadores educados seriam mais difíceis de gerenciar”.
A persistência da exploração do trabalho escravo no Brasil, cujas vítimas são trabalhadores analfabetos ou de baixa escolaridade, é emblemática da mentalidade reacionária das classes dominantes brasileiras. O trabalhador mais educado evidentemente desenvolve uma consciência mais elevada e é também menos propenso à super exploração capitalista.
Por esta e outras razões, a educação é um tema caro ao movimento sindical. No documento aprovado na Conclat (Conferência Nacional da Classe Trabalhadora, realizada no dia 1º de junho em São Paulo), as centrais sindicais propõem destacar uma parte remunerada da jornada semanal de trabalho para combater o analfabetismo e elevar o grau de escolaridade da classe trabalhadora.
Desigualdade
O documento da ONU também critica a baixa escolaridade geral e a diferença no acesso ao ensino entre pobres e ricos. “Anos médios de escolaridade são muito mais baixos no Brasil (7 anos) que na Coréia do Sul (12 anos), mas os dois países têm perdas de desigualdade similares na educação (26%).”
O 20º IDH marca mudanças na composição dos indicadores. O índice continua sendo baseado em saúde, educação e renda. No entanto, o que é levado em conta mudou no quesito educacional.
No antiga metodologia, eram utilizadas as variáveis “alfabetização”, considerando o total da população que sabia ler e escrever, e “matrícula combinada”, que verificava quantas das pessoas em idade de estudar estavam na escola. Os critérios, adotados quando o ranking começou nos anos 80, eram criticados porque, com o avanço na universalização do ensino, todos os países ricos e muitos dos emergentes, incluindo o Brasil, tinham boas médias nos dois quesitos.
Brasil piora com novos critérios
A partir deste ano, o novo modelo usa outras duas variáveis: os “anos médios de estudo”, levando em conta a população com mais de 25 anos e os “anos esperados de escolaridade”, que avalia, conforme o sistema de ensino do país, a rede educacional oferecida e os índices de matrículas observados, bem como quantos anos uma criança que vai iniciar a vida escolar deve permanecer estudando.
O Brasil está longe dos melhores índices nos dois critérios. A média de anos de estudo dos brasileiros com mais de 25 anos é de 7,2 anos contra 13,2 nos Estados Unidos, que lidera neste quesito. Para as crianças que estão entrando na escola agora, o Brasil tem a expectativa de que permaneçam estudando por 13,8 anos, enquanto a campeã é a Austrália, onde espera-se que as crianças estudem pelos próximos 20,6 anos.
Ciência e produção
Em função do próprio desenvolvimento das forças produtivas e da transformação da ciência em força produtiva direta, conforme previu Karl Marx, a educação é hoje um fator humano fundamental para o desenvolvimento econômico, a evolução da ciência, da tecnologia e da pesquisa.
O maior ou menor grau de educação de uma nação é definidor da posição desta na divisão internacional do trabalho, nível de produtividade relativa e incorporação de valor nas cadeias produtivas. O “apagão” de mão de obra qualificada na indústria no Brasil é, em certa medida, reflexo da baixa escolaridade média dos brasileiros. O fato de que o país está se especializando em commodities também tem a ver com a falta de educação.
Além da mentalidade reacionária de setores das classes dominantes, o problema tem um outro nome: investimentos. O Brasil investe muito pouco em educação. A despesa per capita da Coreia do Sul com ensino é o dobro da nossa. A esperança é de que recursos do pré-sal sejam canalizados à área com o objetivo de reduzir a distância que nos separa das nações mais avançadas nesta questão fundamental. Trata-se de um problema vital para o desenvolvimento nacional.
Portal Vermelho